Fatores pontuais provocam comportamento volátil da Bovespa e do preço da moeda americana no nosso mercado, mas tendência de ajustes e postura de cautela por parte dos “players” em ambos os mercado devem persistir e colocar a dinâmica em linha mais cautelar e defensiva.
Ontem a intensidade da alta na Bovespa ocorreu em decorrência de fatos pontuais e interrupção do desmonte de posições por parte dos estrangeiros visto que a queda ocorrida sugeria que houvesse um movimento recuperatório para nova rodada de saída e o dólar recuou um pouco face à diminuição da demanda.
Aliás, o fluxo cambial financeiro positivo de US$2,820 Bi sugere que ocorreu um hiato na velocidade do desmonte de posições, o que nada assegura que não seja retomado com a recuperação que conduziu a Bovespa às proximidades dos 86 mil pontos.
Como temos salientado, a tendência doravante é volatilidade com viés de baixa na Bovespa e alta no dólar, pois todo o ambiente político-econômico-judiciário, isolados ou em conjunto, recomenda maior rigor na exposição a risco Brasil, já que cada vez mais se fortalecem dúvidas e incertezas na visão prospectiva dos indicadores para o Brasil.
Seria recomendável mesmo que o BC/COPOM seja mais rigoroso na avaliação da propagada nova redução da SELIC. O momento pode indicar que a melhor opção seja a manutenção da taxa atual.
O Brasil afora os seus problemas atuais e no curto prazo, que por si só justificarão o ajuste, ainda pode sofrer, ai sim, efeitos da política monetária americana, já que não é descartável que a inflação americana sofra aquecimento e o juro precise ter sua elevação mais rápida, afetando diretamente a formação de capitais estrangeiros especulativos forjados em operações de “carry trade” ao reduzir as margens e provocando então o refluxo destes recursos, que são significativos, para o mercado americano ou para emergentes que neste momento proporcionam melhor margem para estas operações.
A despeito da manutenção do posicionamento otimista do mercado, consideramos que se tornará efetivamente necessária revisão das projeções para este ano de 2018, compatibilizando-as com uma visão prospectiva com maior rigor.
Há muitas indefinições e incertezas no painel do curto prazo, seja na área econômica, política ou do judiciário, não há mais como ignorar.
Acreditamos que o preço do dólar ainda que ocorra movimento mutante tem consistente tendência a elevação, enquanto a Bovespa terá tendência de queda.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO