Uma nova rodada de indicadores positivos da economia americana volta a promover impactos imediatos nos mercados emergentes, suas moedas e ativos.
Como temos ressaltado, cada país tem o grau de repercussão compatível com sua fragilidade e/ou vulnerabilidade, deixando evidente a tendência de movimentos reversivos de capitais estrangeiros neles alocados que poderão ocorrer em decorrência do fato, que torna mais presente a perspectiva de decisão do FED alteração a política monetária americana.
Já havia ocorrido comportamento semelhante semanas atrás quando foi anunciado o PIB americano do 2º trimestre pontificando crescimento anualizado de 4%, além de melhora dos parâmetros de consumo.
Agora, novos dados apontam que as encomendas à indústria americana mudaram de rumo e avançou 1,1% em junho após ter registrado queda de 0,5% em maio, maior incremento na série histórica iniciada em 1992, conforme informou o Departamento de Comércio americano. Na mesma linha os embarques tiveram elevação de 0,5% em junho após ter registrado baixa de 0,1% em maio.
Adicionalmente, o setor de serviços dos Estados Unidos acelerou mais em julho superando as projeções, atingindo o nível mais alto desde janeiro de 2008. O índice de aferição do desempenho alcançou 58,7 pontos em julho ante 56,3 pontos em junho, conforme divulgou o ISM. O levantamento deu destaque para o índice de atividade dos negócios de serviços, que marcou 62,4 pontos em julho frente a 57,5 pontos em junho, sendo o patamar mais alto desde fevereiro de 2011. O índice de novas encomendas atingiu 64,9 pontos em julho ante 61,2 pontos em junho, melhor desempenho desde agosto de 2005.
Enfim, em suma as perspectivas de alteração na política monetária americana aceleram a tendência de que poderá ocorrer bem antes do esperado, e com isto as taxas de juros no mercado americano deverão se elevar e tornar-se-ão muito atraentes, promovendo incremento maior de reversão de capitais estrangeiros alocados no momento nos países emergentes.
Esta perspectiva potencializa a tendência de saída de recursos destes países emergentes, já com forte propensão de saída de recursos especulativos, que para eles se deslocaram ao longo do 1º semestre face a perspectiva, prevalecente naquela oportunidade, de que as medidas do FED em torno de mudanças na política monetária americana seriam postergadas, e que agora começam o processo reversivo em especial no Brasil, tendo em vista incertezas crescentes e dada a proximidade do momento eleitoral.
A possibilidade, cada vez mais provável, de mudança da política monetária americana além de potencializar a saída dos recursos especulativos, estimula também a saída de recursos não rigorosamente especulativos, para aplicações no mercado financeiro americano.
Esta perspectiva fortalece o dólar frente às moedas globais e provoca a depreciação mais intensa das moedas emergentes, tendo em vista que os países emergentes passarão a perder boa parcela de recursos externos alocados em seus mercados financeiros.
O Brasil, como já salientando, além da perspectiva de ter que conviver com este movimento reversivo de recursos externos, deve ter em concomitância um movimento de retração de ingressos, mesmo os oriundos de captações externas por empresas brasileiras por terem sido antecipadas no 1º semestre.
Consequência natural será a evolução negativa dos saldos de fluxos cambiais e necessidade maior de recursos para financiamento do déficit em transações correntes que acreditamos deva ficar mais próximo de US$ 85,0 Bi.
Já tivemos oportunidade de colocar que o setor externo será neste 2º semestre o grande desafio para a política monetária do governo, pois com fluxos negativos crescentes o preço da moeda americana tenderá a apreciação podendo impactar intensificando as pressões inflacionárias.
No curto prazo este desafio surge como bastante complexo para superação pelo governo, já que a intensificação da demanda no mercado à vista requer divisas efetivas e o preço neste segmento não se sensibiliza com a oferta de “swaps cambiais”, que servem como proteção, mas não como meio de pagamento.
A questão que fica em aberto é sobre quem será o gerador da liquidez no mercado à vista. O BC vendendo divisas que integram as reservas cambiais brasileiras ou os bancos elevando suas posições vendidas, com concomitante elevação do endividamento de curto prazo num ambiente sem perspectivas de que estas posições possam vir a ser cobertas pelo próprio mercado.
Os bancos já detêm US$ 18,0 Bi de posições vendidas, data base 25 de julho, que determina um endividamento bastante expressivo de curto prazo, ficando a dúvida se ocorrerá algum desconforto com eventual ampliação.
Por outro lado, não seria um momento adequado para o BC fazer uso das reservas cambiais, pois poderia passar uma mensagem mais forte de fragilidade do país expressado pelo fluxos cambiais negativos, que obrigam a autoridade monetária a ser o gerador de liquidez.
Esta é uma questão a ser resolvida entre bancos e BC.
Mas o que nos parece bastante evidente é que a fase de baixa volatilidade está chegando ao final, sendo que doravante deve prevalecer viés de alta no preço do dólar com o mercado de câmbio evidenciando volatilidade.