Há um equivoco recorrente da grande maioria dos analistas do mercado de câmbio, que ao considerar que o Banco Central do Brasil não rolando a totalidade das posições vincendas de “contratos de swaps cambiais” entende que ocorra redução a oferta destes instrumentos financeiros que se prestam a “hedge” das exposições em moeda estrangeira.
Passa quase imperceptível a ação da autoridade monetária promovendo diariamente a oferta de 4.000 “novos contratos de swaps cambiais”.
Na realidade ao ter optado inicialmente por rolar tão somente 8.000 contratos diariamente da posição vincenda de US$ 10,07 Bi no inicio de setembro, o BC indicava que o faria de tão somente US$ 8,0 Bi desta posição vincenda, que, contudo, agregando a oferta de novos contratos, corresponderia a oferta total de US$ 12,0 Bi ante uma retirada de US$ 10,0 Bi.
Este contexto já ocorreu nos meses passados, e, no nosso entendimento, esta suplementação do BC visou prover, principalmente, de disponibilidade de hedge os bancos para dar proteção ao incremento de suas posições vendidas, que é uma tendência presente, atenuada no mês passado por um inusitado saldo de fluxo comercial positivo “bombado” por exportações de última hora no montante de US$ 5,2 Bi.
A elevação da rolagem a partir de ontem de 8.000 contratos para 10.000 contratos elevará a rolagem dos US$ 10,07 Bi de contratos de “swaps cambiais” vincendos ao inicio de setembro para US$ 9,5 Bi, que com os mais US$ 4,0 Bi de oferta de novos contratos de “swaps cambiais”, fará a oferta total exceder em torno de US$ 3,3 Bi à posição vincendo, adicionando maior liquidez no mercado futuro.
Nossa leitura para a atitude é que o BC está vislumbrando um aumento do fluxo cambial negativo no mês, com a liquidez sendo gerada pelos bancos com a ampliação de suas posições vendidas, e para tanto precisando de disponibilidade proteção adicional, por isso o BC está aumentando a oferta de “swaps cambiais”, com rolagem e novos contratos.
Esta atitude viabiliza a estratégia de geração de liquidez pelos bancos com proteção de “hedge” fornecida pelo BC. Em tese “alivia” um ponto de pressão imediata advindo do mercado futuro, podendo atenuar a apreciação do preço da moeda americana diluindo-a de forma mais gradual no mercado à vista.
Contudo, entendemos que o BC não deve tentar conter a tendência de apreciação da moeda americana, mas tão somente buscar diluir a dosagem da intensidade da sua ocorrência, principalmente confirmando-se, como acreditamos, a perspectiva para este 2º semestre de intensificação das saídas de capitais especulativos, que poderão ter agregadas as saídas de capitais não especulativos se o FED apontar brevidade na mudança da política monetária americana, e, forte contração nos ingressos de investimentos em conta capital e, também, direcionados para renda fixa e variável.
Sem perder o foco de que os ingressos de recursos externos no país deverão ser cadentes neste 2º semestre.
Como temos salientado o ambiente para o câmbio neste 2º semestre é bastante complexo, nos parecendo muito improvável que o BC consiga conter apreciação mais significativa da moeda americana num ambiente em que deve ocorrer expressiva expansão do fluxo cambial negativo, mas é seu papel evitar impacto mais acentuado da apreciação do preço da moeda estrangeira, que certamente tem reflexos altamente negativos na economia, com rápida repercussão nos preços e nas pressões inflacionárias.
A estratégia de geração de liquidez do mercado de câmbio através a expansão das posições vendidas dos bancos nos parece tornar-se desconfortante, seja pela predominância de fluxos negativos, o que neutraliza no curto prazo a perspectiva do mercado autogerar a cobertura, seja pelo fato da expansão ser realizada com endividamento de curto prazo pelos bancos, que poderão alcançar dimensões inadequadas.
É notório que o BC pela atitude procurará evitar até onde possível ser o gerador direto da liquidez no mercado à vista com a realização de leilões de venda de divisas efetivas, até porque este seria um ponto de forte observação por parte dos analistas internacionais que o considerariam como uma fragilidade, e, também pelos especuladores já que poderia ensejar movimento especulativo sobre o real.
Contudo, o fato de estar utilizando os bancos para tal fim certamente não passará despercebido do mercado internacional na medida em que ganhe maior expressividade, podendo causar os mesmos efeitos como se tivesse gerando liquidez diretamente, ainda que possa não ser o gerador absoluto das linhas de financiamentos que ancoram as posições vendidas.
Há muitos pontos complexos em perspectiva neste 2º semestre, mas nada induz que se possa considerar que o preço da moeda americana não seja apreciado. Entendemos que o BC trabalha para que ocorra de forma gradual, num ambiente que sugere que possa ocorrer de forma mais abrupta.
O Boletim Focus, no nosso entender, tem revelado medianas cautelosas no sentido de não sugerir mudanças e nem colocar-se à frente da curva. Repercute a tendência de queda do IPCA deste ano reduzindo a projeção de 6,39% para 6,26%, provavelmente mais como consequência da fragilização da capacidade da demanda interna do que do juro. Mantém o dólar projetado em R$ 2,35 patamar bastante irreal face à perspectiva que se tem de fluxos cambiais para o país, mas, provavelmente, está evitando ser o instrumento indutor à percepção de que a tendência sugere cotação mais elevada. À exemplo do que vem promovendo semana após semana mais uma vez reduz a projeção de crescimento do PIB desta vez de 0,86% para 0,81%. Mantém a projeção de recuo de 1,53% na atividade industrial e praticamente inalterada as projeções para déficit em transações correntes; balança comercial e IED´s.
Nossas perspectivas sugerem o déficit em transações correntes mais próximo de US$ 85,0 Bi e os IED´s um pouco abaixo dos US$ 60,0 Bi, de vez que acreditamos que haja uma retração destes ingressos ao longo do 2º semestre, considerando ser prudencial por parte dos investidores em ano eleitoral e também devido os números da economia brasileira (crescimento baixo, inflação alta, política fiscal deteriorada, etc.) recomendarem ter melhor percepção sobre os novos planos para o país, seja reeleita a situação ou eleita a oposição.
Não acreditamos que as pesquisas eleitorais impactem no mercado de câmbio, a exemplo do que parece ocorrer na Bovespa, pois o quadro brasileiro no setor externo, seja qual for o próximo governo, demandará tempo para reconquistar credibilidade e atratividade perante aos investidores, já que hoje países como México, Colômbia, Peru e Chile estão à nossa frente na América Latina, e também competitividade do nosso mercado exportador, resgatando-o do “status” de exportador colonial ao qual foi arremetido…
Porém, ainda não se vislumbra resposta satisfatória sobre como o BC conseguirá proceder ao desmonte do expressivo montante de contratos de “swaps cambiais” que já colocou (US$ 91,0 Bi) e continua colocando no mercado futuro e até onde os bancos conseguirão suportar posições vendidas para gerar liquidez num ambiente adverso que não deve melhorar no curto prazo. Parece-nos que há um relevante “corner” neste contexto.
Por enquanto não se consegue vislumbrar como ocorrerá este processo de reversão, mas no momento a convicção é de que a tendência é indiscutivelmente de apreciação do preço da moeda americana, com volatilidade.