A economia brasileira, embora com frágil sinergia intersetorial, dá discretos sinais de melhora, contudo não consegue transmitir sustentabilidade para ancorar tendências, estando muito dependente do cenário político.
A inflação pelo IPCA que sinaliza fechar este ano em 3% é passível de credibilidade, visto que preços que impactam fortemente na economia popular vêm sendo elevados em percentuais magnânimos e passam a sensação de que não estão sendo captados adequadamente na formação dos índices ou estão com pesos subavaliados.
O dólar, embora tenhamos um bom volume de reservas cambiais face ao passivo externo, nos parece depreciado em demasia, e, sentimos que o BC tem agido para este fato com foco na contenção inflacionária, com swaps cambiais e contribuição dos bancos que utilizam posições vendidas para captar reais a custo baixo agindo por interesse neutralizando a reação do preço do dólar , e assim inibindo os preços dos alimentos.
Enfim, tanto inflação como preço do dólar parece um pouco fora do ponto para um país emergente com grande problema fiscal e fraca base de apoio partidário ao governo para as questões mais relevantes.
O país consegue dar os passos iniciais para sair dos escombros construídos entre 2014 e até 2016, mas o governo ainda gasta muito e mal e, embora tenha conquistado a aprovação de um teto elevado de déficit fiscal, nem assim consegue cumpri-lo como era esperado.
O que presenciamos no momento com este “estresse” todo em torno da aprovação ou não da Reforma da Previdência, relevante para corrigir distorções importantes e reduzir despesas do Tesouro Nacional, não deve ser considerado como algo pontual, mas sim como algo que será contumaz. Importante observar que até a Reforma Trabalhista vem sendo contestada pelos próprios juízes do trabalho.
Dificílimas serão todas as trajetórias de reformas que o governo propuser e certamente serão contestadas por setores afetados indo até o STF.
O governo para atingir os seus objetivos optou pelo fisiologismo, e isto agora é prática contumaz, não havendo consensualidade espontânea por parte dos políticos.
E este será o perfil do relacionamento do governo com os poderes legislativos até o final de 2018, até porque será ano eleitoral e todos querem se poupar dos desgastes.
Mas, não é só isto, as eleições presidenciais de 2018 já tiveram inicio das disputas em 2017, e há preocupações pelo fato de não haver nomes novos e viáveis, havendo prenúncio de que ocorrerá forte acirramento ideológico e evidentemente muita tensão no entorno, que poderá impactar sobre o comportamento dos setores mais relevantes da economia brasileira.
Nas incertezas a atitude normal é assumir postura defensiva e muitos podem não esperar chegar às proximidades do evento maior, como se verifica no movimento da Bolsa de Valores, que em novembro teve a saída líquida de US$ 1,0 Bi de estrangeiros e que, possivelmente, continue em dezembro. A alta ainda mantida de forma volátil pode ser estratégica para que possam sair com o lucro no momento da realização.
Com isto saem dólares, o que tende a pressionar o preço e mais as importações tendem a crescer nesta fase do ano em detrimento das exportações. Tendência é de mudança do cenário do movimento de câmbio.
Não devendo ser perdido de vista que a reforma tributária americana fortalecerá o dólar no mercado internacional. E ainda, que a taxa de juro americana poderá ser elevada.
Podemos ter então os fluxos financeiros para a Bovespa revertendo com saída e o preço do dólar subindo, por isso é preciso muita atenção já neste final do ano.
E, se a reforma Previdenciária não passar, o que acreditamos ser muito improvável, o cenário receberia um “input” fortíssimo para piora e deterioração das expectativas.
Há com o que se preocupar, ou pelo menos manter-se vigilante.