Fatos novos são indicativos certeiros de que será difícil o Brasil sair em tranquilidade do atoleiro político em que se encontra, embora se procure construir um clima menos nefasto sobre os nomes e o conjunto que se acredita será o novo gestor do país.
Contudo seria ilusório imaginar que a grave crise econômica, centrada numa retumbante crise fiscal, tem solução fácil, embora venha sendo até certo ponto subestimada e imune à absoluta necessidade de medidas duras de ajuste. Se o novo governo “pegar leve” certamente não reverterá a deteriorada política fiscal praticamente irreversível no curto prazo.
A Lava Jato continuará perturbando o ambiente político e envolvendo antigos e novos integrantes do governo. Este estado desconfortante e impertinente para a construção dos consensos será, sem dúvida, construtor também dos dissensos, quando os consensos deveriam prevalecer.
Não serão tempos amenos e progressistas, nomes coroados compondo ministérios poderão dar um alento, mas não terão muito tempo para mostrar serviço. O Brasil tem urgência que as expectativas se tornem sustentáveis e não ocorrendo os novos gestores sofrerão desgaste e, inevitavelmente, reacenderão a oposição política.
Não nos parecem factíveis avanços reversivos no “status quo” amplamente negativo predominante na economia, sem que medidas duras de ajustes venham a ser tomadas.
E isto provocará inevitável desapontamento na população, principalmente nos integrantes das classes menos favorecidas.
O quadro atual na economia em que se gasta mais do que se arrecada e se tem a atividade amplamente desestimulada será um enorme desafio para o novo governo.
Entre o “sonho” e a “realidade possível” haverá um enorme “gap” e, a despeito de eventuais perspectivas melhores será inevitável certo desapontamento.
Os melhores e maiores fluxos oriundos das exportações do agronegócio fecharam abril de forma bastante positiva, contudo a tendência doravante é de que se torne gradativamente cadente.
Empresas brasileiras estão tentando rolar pouco mais de 10% dos seus passivos, algo como US$ 24,0 Bi e revelam dificuldades, num momento em que os papéis brasileiros estão com os preços deteriorados no mercado secundário.
Isto deixa evidente que o país sofre forte desgaste no mercado financeiro global, sugerindo que não se espere grande montante de ingressos de recursos externos. Por outro lado, empresas brasileiras que tem liquidez tendem a recomprar seus papéis desvalorizados no mercado secundário para tesouraria, e isto pode determinar saída de considerável montante de recursos externos.
Não há por que imaginar-se fluxo de investidores em conta capital com a situação da economia brasileira nesta fase.
Poderão ocorrer movimentos voláteis de ingressos e saídas especulativas no mercado de renda fixa e variável, sem que haja efetiva tendência, mas predominantemente especulativas.
Internamente nem mesmo a forte recessão na economia tem garantido queda estável dos índices inflacionários, como se observou no IGP-M da 1ª prévia de maio, conforme apurou a FGV. Subiu 0,59% após ter subido 0,31% no mesmo período de apuração do mês anterior. Os preços dos produtos agropecuários mostraram avanço de 1,70% na 1ª semana de maio contra 1,19% no mês anterior.
Em razão deste contexto prospectivo, temos considerado de forma muito relativa as projeções expressas no BOLETIM FOCUS que consideramos contaminadas por expectativas de sustentação questionável.
Haverá, certamente, a necessidade da liberação do preço do dólar, primeiro por ser sua realidade que está mutilada neste momento, segundo para incentivar a indústria a exportar e conter as importações concorrentes dos produtos nacionais pelo beneficiamento.
Embora possa se considerar a probabilidade do IPCA cadente, há indícios de que não será tanto quanto se imagina, até porque o preço do dólar deverá ser posto na sua realidade.
O preço da moeda americana pelas próprias circunstâncias e expurgada do jogo especulativo predominante no momento deverá aproximar-se de R$ 4,00 de forma estável e sustentável, ensejando tomada de decisões por parte da indústria exportadora e protegendo da concorrência danosa os produtos nacionais.
O dólar e seu preço ajustado, no nosso entender, será fator chave para a retomada da atividade econômica no primeiro momento, até porque inibirá a tendência persistente do aumento do desemprego e inadimplência, queda da renda e do consumo.