É certo que 2013 migrará preocupações e incertezas para o câmbio em 2014

O ano de 2013 tem sido um ano conturbado para o mercado cambial brasileiro e, provavelmente será encerrado com alguns fatos atípicos ocorrendo, como insuficiência de fluxos de recursos para financiar o expressivo déficit em transações correntes; balança comercial quase nivelada e por esta razão não deixando nenhuma contribuição efetiva; claro aumento da concorrência de outras economias emergentes nos fluxos de investimentos internacionais direcionados para os emergentes; visão muito pessimista dos analistas internacionais sobre o Brasil; riscos de perda de “rating” de parte das agências especializadas, etc.

Todo este contexto adverso afeta a formação da taxa de câmbio da moeda americana, mesmo considerando que o país dispõe de reservas cambiais da ordem de US$ 380,0 Bi, pois são evidências de fragilização perante a comunidade financeira internacional, afora os problemas inerentes ao próprio país que não são reversíveis no curto prazo, como política econômica focada com muitas criticas e dificuldades na gestão da política fiscal.

Segundo pesquisa realizada pela Bloomberg com 450 analistas internacionais, o pessimismo em torno do Brasil está em momento recorde.

Para mitigar os efeitos impactantes no preço da moeda americana o BC fechará o ano com expressiva posição assumida de contratos de “swaps cambiais” e bancos com posições “vendidas” em decorrência da geração de liquidez por conta e ordem do BC que lhes supre com linhas de financiamentos em moeda estrangeira para ancorá-las, evitando assim assumir explicitamente a venda direta ao mercado da liquidez faltante.

Este esforço maior dentro de um programa definido coibiu a exacerbação da depreciação do real, com grande parcela especulativa, a partir do final de agosto quando foi instituído. Tecnicamente surtiu efeitos, mas é importante salientar que as previsibilidades nem sempre são recomendáveis no mercado de câmbio, principalmente relativas a ações pontuais intervencionistas da autoridade monetária.

A “herança” que 2014 tende a receber de 2013 não é pequena e nem desprezível.

Por isso entendemos que quando se coloca a necessidade do BC definir se continuará com o programa de liquidez no mercado futuro com oferta de contratos de “swaps cambiais” e no mercado à vista gerando liquidez com o repasse aos bancos autorizados a operar em câmbio de linhas de financiamentos em moeda estrangeira, está sendo esquecida a complexidade desta “herança”.

Há um contexto muitíssimo complexo para ser gerido “cirurgicamente” pela autoridade monetária, que vai muito além da definição simplista de continuar com o programa ou não, pois há um cenário prospectivo absolutamente contaminado pelas incertezas.

Não se trata unicamente da continuidade do programa, mas, além disto da rolagem ou não do expressivo montante do estoque colocado em 2013 em contratos de “swaps cambiais” e a necessidade possível de ter que continuar a suprir os bancos com linhas de financiamentos e estes a expandir suas posições “vendidas”, caso os fluxos de recursos externos para o país não evidenciem recuperação.

E ainda, se parte da posição de contratos de “swaps cambiais” estiver protegendo compromissos externos vincendos em 2014, estes tendem a deixar de demandar “hedge” e a se tornar demanda efetiva no mercado de câmbio à vista para pagamento ao exterior.

Bom sempre lembrar que “swap cambial” não é moeda.

Afora estes fatores, ainda haverá a tensão e possibilidade de intensificação de saída de recursos do país em razão do inicio da redução do programa de incentivo monetário do FED americano, que se não for iniciado neste dezembro, certamente o será em algum momento de 2014.

Não deve ser esquecida ainda a retomada da discussão da questão fiscal americana pelo Congresso que, queiram ou não, inibem também a decisão dos investidores.

O ano de 2013 está se encerrando com um ambiente externo muito hostil ao Brasil em termos de análises, com muitas criticas à política econômica e fiscal, o que fortalece os riscos de perda conceitual de “rating”, e este quadro não é passível de reversão num passe de mágica, a recuperação da atratividade certamente será muito mais morosa do que o tempo decorrido para a perda.

O BC tem muito mais para analisar e avaliar com extremo rigor do que somente a decisão de continuar ou não com o programa de liquidez diária focado no câmbio.

A rolagem da posição vincenda de contratos de “swaps cambiais” de US$ 10,11 Bi no próximo dia 2 já teve efetivada a rolagem de 78% e certamente será rolada integralmente.

O preço do dólar para o final do ano parece dado, tudo indica R$ 2,30 ou até R$ 2,35, e o COPOM deve sancionar nesta quarta-feira elevação de mais 0,50% na SELIC passando-a a 10,0% que fechará o ano.

Ocorrem nesta fase alguns ingressos pontuais e de boa monta de recursos oriundos de fatos conhecidos, mas inegavelmente ocorrem saídas de recursos do país que acabam por neutralizar estes ingressos pontuais. O fluxo semanal nas últimas semanas tem evidenciado esta alternância, que acaba por promover certa volatilidade na formação do preço.

Mas, o viés permanece de alta sempre tendente a recuperar o preço de R$ 2,30 ou eventualmente até um pouco mais na 1ª quinzena de dezembro próximo.

Urge que o governo viabilize as concessões focadas na recuperação da infra-estrutura do país, e quanto mais possível com a participação do investidor estrangeiro, que assim poderia garantir expressivo montante de ingressos de recursos externos em 2014.

Nossa indústria está cambaleante e sem poder de recuperação para exportar em grandes volumes, já que não basta tão somente taxa do dólar elevada para torná-la competitiva.

Poderemos acentuar mais uma vez o lado exportador colonial para a China, se esta mantiver o ritmo de crescimento, que na ponta final depende em parte da recuperação da economia americana e européia.

Certamente, a taxa cambial sofrerá impacto forte no 1º trimestre de 2014 e, para atenuar as pressões inflacionárias decorrentes, será necessária a continuidade da alta da taxa SELIC.

Efetivamente, há com que se preocupar com o câmbio em 2014 e esta preocupação vai muito além do fato do BC decidir se continuará ou não com o seu programa de liquidez no mercado de câmbio.

 

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