Dólar reflete hedge cambial. “Sell-off” na Bovespa e saídas do país no foco

O que vem ocorrendo não nos surpreende, pois tem sido recorrente a sinalização nos nossos posts diários desde fevereiro esta perspectiva, mas devemos admitir que fatores externos adicionais podem alavancar o preço do dólar além das nossas expectativas, que era para o final de março já ter atingido R$ 3,50, e ficar por aí até o início da efetiva disputa eleitoral pós Copa do Mundo.

O receio era a gradual elevação do juro americano que impactaria nas estratégias de “carry trade” frente a queda da nossa SELIC, que dá origem ao capital especulativo que converge para o Brasil dado a expressiva liquidez do mercado internacional, que se somaria a crise fiscal insolucionável do país e o acirramento natural da disputa eleitoral, envolvendo os questionamentos em torno da candidatura ou não do ex-Presidente Lula.

As expectativas no curto, médio e longo prazo em torno do Brasil estavam e estão eivadas de dúvidas e incertezas e, mais, continuam se agravando gradualmente, seja pelo contexto interno que piora, seja pelo contexto externo que se revela cada vez mais adverso, principalmente devido a expressiva alta do juro americano e a dinâmica da atividade econômica dos Estados Unidos.

A economia não evoluiu e “patina”, a redução da SELIC não provocou fluidez e queda significativa no juro do mercado, a geração de emprego decepciona, assim como aumento de renda e consumo.

Entretanto, a visão do mercado financeiro ainda é sombria, do tipo temos reservas cambiais, os juros estão baixos (sic!), a inflação baixa e o nosso balanço de pagamentos é favorável, temos reservas, etc….

Mas dentro do princípio “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”, ante perspectiva real e efetiva de momentos mais adversos ao longo deste ano, em especial nos próximos 6 meses, e antes de mudar publicamente o discurso, ocorre uma forte demanda por “hedge cambial” quase silenciosa e sem ser destacada, e este fato, no primeiro momento, determina a elevação do preço da moeda americana, por contaminação, no mercado à vista.

O Brasil, após uma sinalização mais intensa em março, ainda não teve consolidada efetiva saída de capitais especulativos, que no momento só se protegem com “hedge cambial”, mas que ocorrerá inevitavelmente combinado com o desmanche das posições especulativas na Bovespa, e o que tem saído mais especificamente são os investidores de renda fixa visto que a atratividade do juro americano versus rentabilidade Brasil com taxa de juro com viés de baixa impulsiona este movimento.

Por outro lado, as operações de “carry trade” geradoras dos capitais especulativos também passam a proporcionar menor margem e tem um momento de desestímulo.

O relatório do IIF Instituto Internacional de Finanças, formado pelos 500 maiores bancos do mundo e com sede em Washington DC, divulgado ontem, aponta que os riscos para os emergentes vêm aumentando e colocam em destaque foco sobre a Argentina, Turquia, Hong Kong, BRASIL e Indonésia, salientando que a economia mundial passa por um período de mudanças e isto afeta os emergentes. Destaca ainda que o FED tende a elevar o juro e o crescimento da economia mundial começa a se “dessincronizar”, com os Estados Unidos crescendo mais que outras regiões, adotando estímulos fiscais e com o FED tendente a elevar o juro, tudo ficando menos favorável para os emergentes.

A visão exposta sinaliza uma visão mais pontual acerca da realidade mundial, já que no Brasil, olha-se muito para fora, talvez não com o peso efetivo do impacto, e olha-se muito pouco para a realidade efetiva do país, que tem um tripé econômico-político-jurídica amplamente conturbada e suficiente, por si só, como fator de precaução.

Já é tempo, acreditamos, do nosso mercado financeiro, através suas projeções medianas expostas no Boletim FOCUS, revisar suas projeções para a efetiva percepção a respeito do “status quo” do país, já que são indutoras a decisões e, destaque-se, não tem nenhum ônus pelo erro verificado posteriormente.

A alta do preço do dólar e a queda da Bovespa, ao início deste mês, pode ser o início do ciclo que consideramos em perspectiva, a conferir.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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