Ontem pontuamos que há risco doravante para quem apostou no preço do dólar mais alto, visto que há sinais de que tenha perdido a capacidade de manter a apreciação até agora registrada, diga-se de passagem, sem respaldo de fundamentos, mas com grande influência de movimentos estruturados para serem executados na proximidade das eleições presidenciais, contando com a perspectiva de forte acirramento e ambiente propício para fustigação de abordagens de incremento às tensões.
E o Banco Central do Brasil, que errou ao promover excessiva oferta de swaps cambiais no mês de junho, da qual se prevaleceu o mercado para estruturar posições especulativas não vinculadas à proteção de passivos em moeda estrangeira, mas tão somente com o cunho especulativo acreditando na possibilidade de estabelecer forte movimento especulativo nas proximidades do pleito eleitoral, mais precisamente após a 1ª quinzena de agosto, acerta agora ao não intervir quando ocorre o movimento de maior exacerbação, corrigindo o erro cometido também com a última oferta adicional de 30.000 contratos.
Se o BC intervém num ambiente puramente especulativo, desprovido de fundamentos, acaba por validá-lo a reconhecê-lo como movimento efetivo. Em absoluto, não há disfuncionalidade no mercado!!
Entre os erros e acertos o Banco Central do Brasil denota agora ter perfeito conhecimento do que está acontecendo e até da inexistência de sustentabilidade do comportamento do mercado na ambição de aviltar mais o preço da moeda americana, por isso observa sem intervir, com a clara convicção de que o movimento está perdendo forças e que já precificou todos os temores plantados possíveis, levando a uma crença generalizada de que as perspectivas são péssimas.
Importante ressaltar que seja quem for o novo Presidente e ainda que as perspectivas sejam péssimas, existe uma realidade inconteste que contraria todo o movimento em torno do preço da moeda americana no nosso mercado: “A situação do Brasil, por mais contraditória que possa parecer, na questão cambial está absolutamente imune aos riscos que possam ser vislumbrados neste ou naquele candidato”.
É preciso entender, que a solidez do país que o deixa imune a uma crise cambial está pautada em números e números “são frios e não tem amigos”, o que a deixa transparente com o estoque de reserva cambial possuído e na operacionalidade do Banco Central do Brasil com a credibilidade deste lastro que lhe permite ofertar com swaps cambiais proteção cambial e liquidez no mercado de câmbio à vista.
Nesta questão não há “achismos”, são números irrefutáveis e alternativas eficazes, por isso, não fosse o mercado financeiro parte da especulação como tudo indica, este movimento especulativo não teria prosperado.
Mas, notoriamente já há grande dificuldade em manter o viés de alta do preço da moeda americana, e a volatilidade construída é a última tentativa de evitar a derrocada do preço de forma mais intensa, funcionando como uma ação protelatória ao inevitável.
Tanto é que esta é a perspectiva no curto prazo, logo pós eleição, que o Boletim Focus, que sintetiza as medianas das projeções de mais de 100 instituições financeira, projeta o preço do dólar em R$ 3,83 ao final do ano e não vê necessidade de elevação da taxa SELIC, o que seria esperado caso não houvesse a convicção de que o que se assiste no mercado do dólar é passageiro, pontual e reversível.
Portanto, ratificamos o que dissemos ontem, quem, afora os formadores de preços de forma direta, possui posição comprada em dólares acima de R$ 3,80 está em posição de alto risco.
O foco do comportamento do mercado de câmbio no Brasil está centrado nas questões internas de todas as origens, contudo, o fato da taxa de juro americano nos T-Bonds de 10 anos ter ultrapassado a máxima de 3,0% impacta no mundo todo e pode provocar alguns impactos no Brasil como maior saída de recursos aplicados em renda fixa e até mesmo na Bovespa.
Enfim, os sinais em torno das eleições vão ganhando maior evidência e sinalizam polarizações que não estavam fora do radar, não sugerindo que possam ser fomentados como fatores adicionais ao prosseguimento do movimento especulativo.
Embora com volatilidade, decorrente do movimento de resistência natural, o viés do preço do dólar é de depreciação ainda que gradual, mas para alguns que ainda confundem ao não lembrar que 2018 nada têm a ver com 2002, é bom que não esqueçam os danos a empresas e pessoas que apostaram no mercado cambial de forma insensata.
É preciso estar atenta a realidade de que este é um jogo em que para alguém ganhar é preciso que alguém perca.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO