Dólar e bolsa com comportamento previsível compatível com momento de indefinições

No nosso entender, enquanto não houver fatos concretos que ensejem vislumbrar soluções e/ou direcionamentos viáveis para superação da expressiva crise fiscal do país, por mais otimismo que esteja presente não será suficiente para afastar as incertezas neutralizantes que impactam na formação do preço do dólar e na sua curva de depreciação ante o real e nas perspectivas de desempenho para a B3 que é dependente da retomada de dinamismo da atividade da nossa economia.

A crise fiscal é um fator de extrema relevante e estagnante da formulação de perspectivas favoráveis almejadas por todos a partir do novo governo a ser empossado.

Os governos federal, estaduais e municipais atravessam um momento de forte escassez de recursos e, portanto, se não houver articulação concreta para superação deste relevante problema, o tudo o mais ficará travado em sua execução.

Este é um ponto de absoluta importância e de total relevância, e surpreende mesmo até o fato do contexto global estar bastante complacente com o Brasil pós eleições, com o CDS Brasil já abaixo de 200 pontos sendo o termômetro explícito deste quadro, mas o fato concreto é que o Brasil precisa ordenar suas finanças, sem o que podem ter os governantes os melhores propósitos, mas quase nenhuma capacidade de implementação.

Como dissemos ao final do mês de outubro, B3 e dólar devem “andar de lado” neste período de transição, com a B3 entre 80/90 mil pontos e o dólar entre R$ 3,70/R$ 3,80, mas se agrava esta preocupação com a percepção de que pode não haver avanço na Reforma da Previdência ainda neste governo, o que transfere para o próximo todo o nefasto trâmite burocrático já percorrido pela que está no Congresso, envolvendo novas rodadas de negociações do novo governo com o novo Congresso, e, então, acabar demandando praticamente o 1º semestre de 2019.

O país está com a inflação controlada, juros baixos, dólar no preço possível não exacerbado, sem risco de crise cambial detendo confortável quadro de contas externas e com a percepção externa de risco, CDS, muito boa, enfim, pronto para encetar um movimento amplo e contundente de recuperação da atividade econômica, mas falta o principal, recursos, sem o que tudo se resume a ideias e propósitos, porém inexequíveis.

Este peso que é representado pela crise fiscal tira tração do país e afeta as suas perspectivas, e, agrega prêmio de risco na formação do preço da moeda americana e trava a evolução dos papéis da B3 que reconhecidamente está com o seu nível de preço equivalente há 10 anos.

E, para piorar o cenário prospectivo mundial evidencia que haverá menor liquidez e isto implica que os investidores externos e por que não os internos serão mais seletivos em suas alocações de recursos.

Além disto, com a economia americana “bombando” há uma catalização forte da atratividade de recursos pelos Estados Unidos, seja pela manutenção de recursos de americanos no próprio país seja pela convergência de recursos de outras economias para a americana.

E isto ganha relevância quando se observa que um dos focos do novo governo brasileiro é a privatização em grande escala, o que exigirá a forte participação do capital externo.

O contexto atual sugere um curto prazo difícil para o novo governo e, consequentemente, para o país, e o médio prazo dependente de Reformas as mais diversas, com ênfase pelo imediatismo da relativa a Previdência.

Este cenário que pode se tornar desapontador num momento de grande otimismo no país é intranquilizador, e no nosso ponto de vista não pode ficar sem consideração nas análises prospectivas em torno do Brasil.

O Brasil “não é uma ilha” mas pode ficar altamente dependente de si próprio para sair primeiramente de seus “problemas intestinos”, para os quais não há como ter apoio externo, para então redimensionar sua dinâmica de atividade econômica e recuperação de emprego, renda, consumo e geração de renda tributária para o governo.

Esta situação acentuará o foco do Brasil no Brasil e ficar menos sensível ao comportamento do mercado global.

Não vemos risco de sucesso para eventual nova rodada especulativa sobre o preço do dólar, mas vemos que há um ponto de resistência que inibe queda maior pela impossibilidade de eliminação do prêmio de risco.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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