Câmbio News

Dados chineses indicaram possíveis melhoras futuras, o que seria positivo para o Brasil, embora, ainda existam incertezas. No curto prazo, o custo do CDS (Credit Default Swap) Brasil indica tendência a “downgrade” do país, o que é ruim

Os indicadores econômicos chineses, divulgados na semana passada, trouxeram algum alento à economia mundial, embora, devessem ser analisados com sensatez em face das inúmeras incertezas presentes. O entusiasmo foi além do razoável, em especial no Brasil, que tem grande dependência daquele país na área de exportação de “commodities”.

No mês passado, varejo, investimentos, exportações, importações, inflação e produção industrial superaram as projeções e expectativas.

Sabidamente o nível de atividade econômica do país tem apresentado sinais de recrudescimento e o governo vem envidando esforços para alterar o modelo de ancoragem do crescimento, passando do exportador para um incremento do consumo interno. Mas a China tem questões absolutamente nebulosas em vários segmentos que dada à falta de transparência não é possível dimensionar a gravidade.

Embora acolhidos com euforia demasiada, os dados não deixam de ser positivos, mas ainda carentes de verificação se foram pontuais ou se revelam tendência, e se assim for, podem representar melhora para os países emergentes, porém, distante do que já foi num passado recente.

Naturalmente, estas sinalizações provocam efeitos imediatos nos preços das principais “commodities”, até por ser segmento em que predomina a especulação rápida por ter os preços cotados em bolsa.

É preciso cautela para não superestimar o fato a partir de um mês de recuperação após vários de desaquecimento.

Por outro lado, aqui no Brasil logo se atribui ao fato sinalizado sujeito a melhor observação e que não sugere nenhum aumento de fluxo cambial imediato, a apreciação ocorrida no preço do real.

Evidente que a relação causa/efeito deste fato, principalmente, num momento em que o país é extremamente carente de fluxo cambial positivo imediato, tem pouco impacto efetivo para apreciar o real.

Nosso mercado de câmbio tem premência de melhora imediata do fluxo cambial, ou seja, que se intensifiquem ingressos de recursos externos líquidos, comercial ou financeiro. Mas, o fato concreto é que há muito mais forças indutoras à consolidação de fluxo cambial negativo este ano, do que qualquer possibilidade de recuperação.

Por isso, entendemos ser muito mais merecedor de atenção pelo mercado de câmbio o contexto de queda de liquidez no segmento à vista, que passou a exercer pressão efetiva de alta do preço da moeda americana, adicionalmente à já presente no mercado futuro de dólar/derivativos, que já impôs ao BC a venda de mais de US$ 32,0 Bi em instrumentos financeiros “swaps cambais”. Naturalmente, no mercado à vista a demanda é por dólar efetivo e disponível para realização dos pagamentos, algo diferente dos “swaps cambiais” que são contratos que protegem o preço e liquidáveis por diferença, sem poder de liquidação do passivo do qual protegem o preço.

Os “comprados” nacionais no mercado futuro/derivativos recentemente fizeram movimento de redução em torno de US$ 5,0 Bi de suas posições líquidas vendendo de forma oportuna ao antecipar-se ao BC quando o dólar atingiu R$ 2,31, realizando lucro, porém, os “comprados” estrangeiros estão mantendo suas posições líquidas em torno de US$ 13,5 Bi.

O BC aproveitou este movimento e adicionou pressão focando a baixa do preço da moeda americana, ofertando “swaps cambiais” mesmo com o preço em tendência de queda.

Mas este movimento de apreciação do real, no nosso entender, é puramente passageiro e deve retomar a tendência de alta.

O fato é que se o preço continuar cedendo deverá se acentuar a demanda por “hedge” no mercado futuro pelas empresas que ainda não o fizeram e que atualmente têm a convicção de que o preço da moeda americana é sustentável a R$ 2,30. Por outro lado, há um considerável estoque de importações a serem pagas e os importadores, então, deverão se fazer presentes, demandando no mercado à vista.

Isto, sem contar que os “comprados” nacionais que reduziram suas posições líquidas podem já estar trabalhando para restabelecer suas posições anteriores.

Então, consideramos que o contexto atual não dá suporte ao preço do dólar distante do preço de R$ 2,30.

Entendemos também que se deva ter maior atenção com os riscos de perda do país do conceito de “investment grade”. As agências de risco vem nos observando mais de perto e o mercado financeiro internacional da mesma forma, pelo que entendemos que os movimentos recentes do Ministro Mantega em torno da mudança de critérios para consideração da Dívida Publica Bruta do Brasil, denota que este risco já está no radar do governo.

Meses atrás, quando o CDS (Credit Default Swap) do Brasil era cotado a 126,00 pontos abordamos este assunto, salientando que não era algo alarmante, mas que deveríamos ter em conta que as aplicações estrangeiras em portfólio no Brasil superam o montante das nossas reservas cambiais, mas que um rebaixamento da nota brasileira retirando-lhe o conceito de “investment grade” poderia provocar a saída abrupta de volumoso montante de recursos que por disposições legais do Fundos não podem ser investidos em países que não detêm este conceito.

Atualmente, o CDS brasileiro no mercado internacional está em 186,65, praticamente um indicativo de que já está sendo cotado como “downgrade”, e que deve ser considerado um risco com “luz amarela tendente a vermelha” e que seria bastante perturbadora para o país uma reclassificação de risco neste momento.

Os investidores estrangeiros são absolutamente minuciosos ao analisar o Brasil, seja positiva ou negativamente, e embora o mercado de CDS seja especulativo, certamente não o devem deixar de considerar.

O Boletim Focus do último dia 9, divulgado hoje pelo BC, eleva a projeção para o dólar ao final do ano para R$ 2,28 e o Top 5 o coloca em R$ 2,29. Gradualmente vai se aproximando do que consideramos como mínimo R$ 2,30, mas certamente as projeções chegarão neste ponto, visto que as medianas das projeções postas no Focus têm andado atrás da curva e assimétricas quando se observa as colocações das principais instituições isoladamente na mídia.

Compartilhar :
plugins premium WordPress