Contradições, incertezas e ilações em torno do preço do câmbio no Brasil!

“Juro baixo e dólar mais alto” é o mote posto pelo Ministro Paulo Guedes numa sinalização clara do que o governo ambiciona.

Ancora esta tese na reversão do quadro antecedente de câmbio baixo e juro alto, que segundo ele causou a desindustrialização do país, prejudicando exportações, promovendo importações em excesso e atravancou os investimentos, e, assevera que o país em 2019 saiu do abismo fiscal e que os recursos para aumentar o ritmo de criação de empregos, investimentos, ou seja, para dinamizar a retomada da atividade econômica virão do exterior.

Porém, ao mesmo tempo se propaga no mercado financeiro brasileiro a probabilidade de nova redução do juro, não havendo consideração sobre os efeitos de radiação do preço alto do câmbio nos preços relativos da economia.

O Brasil é um país exportador de “commodities” alimentares e na medida em que os preços/remuneração são otimizados pelo dólar alto para os exportadores, de imediato, há a irradiação direta nos preços internos, sendo fonte incontestável de pressão inflacionária.

Sendo a economia brasileira dependente de importações, o efeito segue a mesma linha impactando de forma inflacionária.

Na contra ponta poderá se dizer que o país fica mais “barato” e isto estimula o investimento externo no momento em que o país anuncia um programa de privatizações em torno de US$ 80,0 Bi, e torna com a expectativa de dinamização da atividade econômica e rentabilidade das empresas atraente os investimentos em renda variável no país, já que a renda fixa está sem atratividade devido à queda do juro.

Por outro lado, ajudará os exportadores de produtos manufaturados a potencializar suas competitividades e com isto intensificarem seus investimentos dinamizando a atividade industrial do país, gerando emprego, renda, consumo e arrecadação tributária ao governo.

Mas, não há sinergia entre câmbio alto e seus impactos e ambientes que permitam queda maior de juro, visto que serão inevitáveis impactos inflacionários até sugestivos de elevação do juro.

Este cenário que sugere que o BC deseja o câmbio alto neste momento, sem dúvida, provoca contradições e incertezas e pode criar um hiato nas decisões de investimentos produtivos no país.

O setor privado nacional teria que “pagar para ver”, ou seja, acreditar que o resultado futuro justificaria o investimento presente.

E isto é improvável que ocorra na intensidade que o país precisa para ganhar tração na atividade econômica.

No campo das ilações, não se pode desprezar uma visão de que o Brasil estaria implementando a sua “guerra cambial”, que poderá ser percebida pelos concorrentes internacionais a partir do próprio Estados Unidos, visando criar atratividade pelo barateamento dos seus ativos e, principalmente, provendo seus produtos exportáveis com competição a partir da taxa estimulante e fora da curva do dólar.

Bom lembrar, que o Ministro Delfim Neto ao seu tempo administrando a taxa cambial procurou estimular as exportações dando competitividade aos produtos brasileiros com o câmbio elevado, suprindo assim a ineficiência do parque produtivo nacional.

A história registra que não foi uma opção correta, tendo a estrutura produtivo nacional ficado acomodada na facilidade e atrasada no tempo, o que acabou por acentuar a desindustrialização e incentivar as importações.

Há neste início do ano uma frustração com fluxos de investimentos, seja para a conta capital seja para a Bovespa, pois as perspectivas havidas ao final do ano indicavam segura possibilidade de retomada de atratividade pelo Brasil pelos investidores estrangeiros, e com isto total recuperação do fluxo cambial revertendo o ocorrido em 2019.

Contrariamente, o volume de retirada de recursos da Bovespa tem sido intenso, até agora algo como US$ 1,5 Bi, e há incertezas e insegurança se as perspectivas otimistas se confirmarão ou serão efetivamente frustrantes neste 2020.

A ausência do BC do mercado de câmbio deixa evidente que deseja o preço do dólar mais elevado, mas no Brasil, dada a liquidez do real, ocorre de imediato a “especulação”, que neste momento sinaliza estar presente com grande liberdade, o que acaba “travando” as decisões empresariais. 


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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