Os investidores em contratos em vários tipos de compra no mercado futuro de dólar, assim denominados “comprados”, com grande predominância de especuladores mal sucedidos no movimento de forte especulação desenvolvido da segunda semana de agosto até o final de setembro, quando lograram apreciar o preço do dólar até R$ 4,20, porém sem conseguir dar sustentabilidade, por absoluta falta de fundamentos, buscam depreciar outra vez o preço do real, após a reversão daquele movimento que conduziu o preço até um pouco abaixo de R$ 3,70.
Tentam desde a semana passada precificar um prêmio de risco maior na formação do preço da moeda americana em reais buscando explorar as incertezas que ainda rondam com grande intensidade sobre soluções possíveis para a crise fiscal por parte do novo governo, entendendo que a viabilização de medidas concretas pode demandar mais tempo do que está sendo previsto, até porque ensejará debate e negociações com o novo Congresso, bastante renovado.
Não há pelos dados divulgados pelo Banco Central do Brasil em seu mais recente relatório de FLUXO CAMBIAL sinais de saídas substantivas de recursos estrangeiros alocados no país, o que inviabiliza a eventual tese de que a apreciação da moeda americana poderia advir de pressões de demanda no nosso mercado local.
Embora tenha havido oscilações externas os indicadores atuais já denotam baixo nível de exacerbação do dólar ante a cesta de moedas, estando hoje em baixa com o índice em 96,65, neste momento, o que também não fortalece qualquer insinuação que decorra de fatores externos.
No nosso entendimento o intervalo de oscilação do preço da moeda americana no nosso mercado continua sendo R$ 3,70 a R$ 3,80, com um viés de baixa para o encerramento do ano no entorno de R$ 3,70 quando já deverá haver perspectivas mais consistentes sobre as ações do novo governo para equalizar a problemática crise fiscal.
Não há no nosso entendimento consistência no movimento que busca apreciar o preço do dólar e nem sustentabilidade, muito pelo contrário.
O país, afora a questão altamente relevante da crise fiscal, ainda que discreta sinalize melhora de perspectiva para o crescimento do PIB neste ano de 2018, agora no FOCUS em 1,39% quando se imaginou ficar em 1,0%, mostra também melhor projeção para o IPCA 2018 que poderá ficar abaixo de 3,80% quando se imaginou que poderia estourar a meta de 4,5%, consequência do forte impacto da apreciação do real ante o dólar, que impactou em preços relevantes da economia, como por exemplo os combustíveis, que já atingem preços de R$ 3,850 em SP na gasolina.
Inflação comportada, juros baixos e sem nenhuma perspectiva de alta, confiança do consumidor em novembro sendo a mais elevada desde 2014, contas externas absolutamente confortáveis e ancoradas em robusto saldo de reservas cambiais, dão um cenário prospectivo bastante otimista ao país, que assim tem como questão central a crise fiscal, para a qual urge que ocorram linhas de ação efetivas e eficazes para sua superação.
Temos também expectativa de que o preço do dólar possa recuar quando o novo governo, já empossado, obtiver decisão programática que possibilite vislumbrar de forma assertiva solução para a crise fiscal, que tem uma capacidade neutralizante muito forte de todos os demais propósitos governamentais para investimentos estruturais indispensáveis, que promovam o estímulo ao investimento privado produtivo, geração de emprego, renda e consumo. Provavelmente recuará a R$ 3,40/3,50.
Será natural que os “comprados” ainda persistam no empenho de apreciar o dólar, até porque teremos o final do mês nesta semana quando é fixado o PTax referencial (próxima sexta feira) que é base para aferição de resultados.
Mas, consideramos absolutamente sem sustentabilidade este movimento depreciativo do real, que tende a se fragilizar por ser inconsistente.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO