Passado a “fake news” que atribuiu ao Banco Central do Brasil intervenção no mercado de câmbio pelo simples fato de, rotineiramente, ter anunciado a ROLAGEM de posição vincenda de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, vincenda no próximo dia 4 de junho, que não foi suficiente, até porque não existiu a intervenção, para reprimir a alta do preço do dólar na segunda feira, bastou sinalização mais favorável no entorno da tramitação da Reforma da Previdência para que o dólar perdesse a impulsão de alta e retomasse a linha da racionalidade, e então iniciasse, gradualmente, o seu retorno a níveis de preço mais equânimes com a situação brasileira.
Este ajuste deverá ser mesmo gradual, mas efetivo, porque os especuladores buscarão impor resistência e isto poderá provocar, em alguns momentos, volatilidade.
O Brasil não tem problemas no segmento cambial, o Banco Central tem esta convicção, os bancos também e nós, a NGO, temos defendido argutamente este entendimento desde quando o preço circundava o entorno de R$ 3,75. Evidente que o Brasil tem problemas outros sendo o mais imediato carente de solução o da crise fiscal, que é altamente dependente da aprovação da Reforma da Previdência, sobre a qual se centram todas as atenções e sensibilidades, e este fato sim, acaba por criar estresse na formação dos preços dos ativos, e fomentou a insustentável especulação orquestrada pelos investidores estrangeiros com suas posições compradas no mercado futuro de dólar.
Como temos insistentemente afirmado, o Brasil é efetivamente o maior problema do Brasil, havendo pouca influência do embate comercial sino-americano, que somente é utilizado como pano de fundo nas colocações dado ao constrangimento de se enunciar com clareza que há um movimento forte especulativo no mercado.
O preço da moeda americana está tão fora da curva no mercado brasileiro que o torna insensível às mutações externas, o que é sensato admitir que possa ocorrer quando houver o realinhamento com a razoabilidade do preço com a realidade.
Os especuladores utilizam esta falácia para fomentar seus movimentos especulativos, mas o mercado futuro ao declinar já na segunda feira seus volumes mostrou que já havia exaustão para a subida e os fatos novos em torno da Reforma da Previdência precipitam o desmanche das causas efetivas.
A economia não cresce e tem cada vez mais projeções de menor crescimento face à inanição da atividade e este fato tem causas latentes de falta de capacidade de investimentos estruturais por parte do governo, que foi recebido pelo atual literalmente “quebrado”, e, portanto, o faz amplamente dependente da aprovação da Reforma da Previdência, que não será a solução para toda a problemática, mas atenuará a situação e, principalmente, criará ambiente para que outras Reformas sejam buscadas pelo Governo de forma objetiva visando fomentar a governabilidade e mais, criar dinamismo na economia, com geração de emprego, renda e consumo.
Se o governo “destravar” a sua ação efetiva na economia, certamente o setor produtivo impulsionará os investimentos e a cadeia produtiva passará a gerar o que todos anseiam, ou seja, a recuperação da atividade econômica e o alinhamento com a prosperidade.
É estranho que muitos clamem por geração de emprego, renda, consumo ignorando que estes dependem drasticamente da retomada a atividade econômica e esta depende de soluções para a crise fiscal.
Ajustadas as distorções presentes no cenário econômico brasileiro, certamente o investidor estrangeiro comparecerá tanto para o investimento na conta capital quanto no mercado financeiro, construindo assim ambiente para a Bovespa galgar de forma sustentável os picos que vêm sendo propagados desde o início do ano.
Na mesma linha ocorrerá o esvaziamento do ambiente que proporciona o movimento especulativo sobre o preço do dólar, que num país como o Brasil, detentor de soberbas reservas cambiais, déficit em transações corrente equilibrado e com o BC articulado para suprir demandas efetivas, que não aconteceram, ocorre como algo absolutamente imponderável e sem fundamentos e sustentabilidade.
Apostar no dólar contra o real é e continuará sendo especulação de elevadíssimo risco, a chance de sucesso praticamente inexiste tendo em vista que o Brasil, diferente da grande maioria dos países emergentes, não tem e nem corre o risco de ter crise cambial.
As fragilidades do país são outras que não passam pela sua situação cambial.
Desidratada pouco ou muito o fato é que a Reforma da Previdência, por inevitável, acontecerá e quanto menos deformada maior será o incentivo para que o país retome o direcionamento do crescimento e proporcione o retorno do otimismo, revertendo a tendência de queda do PIB e otimizando todas as reações em cadeia com este fato.
Se a Reforma acontecer num prazo mais curto, haverá ainda tempo de resgatar um crescimento melhor do PIB, não o projetado, mas algo mais próximo de 1,5% do que de 1,0%, e certamente com a Bovespa ganhando fôlego para superar os 100 mil pontos de forma sustentável e o preço do dólar retornando ao patamar entre R$ 3,75 a R$ 3,80.
No nosso ponto de vista permanece inquestionável que o preço da moeda americana tenha convergência para R$ 3,75 ao final do ano, com a Reforma da Previdência aprovada.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO