Sinais não preocupantes emitidos pela ATA do FED americano, agregados ao fato de que a recuperação global tende a ser mais lenta, deixando a perspectiva que os programas de incentivo atuais à retomada da atividade econômica, em especial o americano, possam ser retardados em suas finalizações e assim postergando as mudanças de política monetária, e ainda, que novos programas, possivelmente na Europa, poderão surgir estabelecendo novos incentivos monetários, sugerem como natural que os países emergentes suspirassem aliviados e colocassem em perspectiva nova rodada de fluxos de recursos externos, determinando reação de apreciação do preço de suas moedas.
Com esta lógica, era de se esperar que o real fosse operado ontem fortalecendo a apreciação frente ao dólar.
O Brasil que teve um relevante fluxo para renda fixa no 1º quadrimestre e menos intenso, mas ainda assim volumoso, para o mercado acionário, não conseguiu consolidar saldos expressivos no fluxo cambial líquido de ingressos e, portanto, não conseguiu dar solução ao seu déficit de fluxo de ingressos que ainda está um pouco acima de US$ 14,0 Bi, expressados nas posições vendidas dos bancos no mercado à vista, conseguindo abater tão somente algo menos do que US$ 4,0 Bi na insuficiência de fluxo que foi transposta do ano passado da ordem de US$ 18,1 Bi.
Embora desejável, não se pode considerar com otimismo que o Brasil tenha uma segunda rodada de intenso ingresso de capitais especulativos em decorrência do teor da recente Ata do FED e nem da perspectiva de novo programa a partir da Europa, já que, em regra, desperta baixa atratividade aos investimentos direcionados à conta capital, ou seja, produtivos e tendência típica dos capitais especulativos é a entrada e saída rápida com os ganhos auferidos, e esta já ocorreu no Brasil havendo a expectativa agora de saída.
Por isso, temos argumentado que o que aprecia o real no mercado de câmbio não é o fluxo ocorrido de recursos externos no 1º quadrimestre, já que não resolveu o problema nem da insuficiência de fluxo cambial liquido positivo que continua relevante, mas sim a intervenção do BC com excessiva oferta de contratos de swaps cambiais, que ao conduzir o real à apreciação a partir do mercado futuro contamina o mercado à vista, e com a taxa nos parâmetros excessivamente baixos estimula os bancos a terem interesse em manter suas posições vendidas no mercado a vista, tendo em vista o ganho de arbitragem entre custo das linhas de financiamento e o juro do cupom cambial.
O Brasil tem em perspectiva muitas incertezas e isto por si só tende a afugentar os capitais especulativos, já que não se espera qualquer intensificação de fluxo de recursos destinados ao setor produtivo na forma de capital, pois o país continua com baixa atratividade face aos seus problemas conhecidos como projeções de crescimento baixo, inflação ainda forte, dúvidas sobre os resultados fiscais, etc.
É natural que os agentes do mercado até incentivem a ideia desta probabilidade, afinal motiva o aumento de volumes e influencia os preços. Afinal, como diz a máxima do mercado: “o agente vive de giro e não de juros”.
Mas neste cenário, ocorreu o relevante fato proporcionado pelo Presidente do BC, que ao se manifestar sobre aspectos do cenário externo e interno ontem, destacou que a demanda por swaps cambiais é cadente, algo que já havíamos destacado em nossas considerações ao afirmar que a oferta de swaps cambiais pelo BC está excessiva, e isto foi “lido e entendido” como uma indicação de que o BC diminuirá a oferta destes instrumentos financeiros ao mercado.
Reação imediata, o real foi depreciado frente ao dólar num dia em que as moedas emergentes se valorizaram, deixando evidente que o que dá sustentabilidade ao real apreciado no nosso mercado de câmbio é, ainda, efetivamente a oferta em excesso de contratos de “swaps cambiais”, e não o fluxo cambial, que não tem sido em termos liquido expressivo neste ano e nem as novas perspectivas
É muito provável que, como salientamos ao inicio do mês que maio seria um mês de mutações, esteja, ainda que de forma lenta, ocorrendo o deslocamento da demanda no mercado futuro para o mercado à vista, num claro sinal de possível incremento das saídas de recursos do país.
É até possível que os fluxos para os emergentes melhorem face ao retardamento de mudanças mais expressivas nos programas de incentivo à retomada da atividade econômica por parte dos países desenvolvidos, mas o problema do Brasil é que a tendência é de que inúmeras incertezas ganhem maior espaço e incertezas afastam os capitais especulativos.
Acreditamos mesmo que possa haver uma intensificação do volume de saídas pressionando o preço do mercado de câmbio à vista e demonstrando menor sensibilidade a oferta de swaps cambiais, que terá cada vez menos demanda na medida em que os recursos ingressados passem a deixar o país.
Este é um cenário que pode afetar a arbitragem do custo das linhas de financiamento que ancoram as posições vendidas e o juro do cupom cambial, levando os bancos a se desinteressarem em continuar carregando estas posições vendidas.
No dia 30 de junho se encerra o prazo vigente do programa de oferta diária de 4.000 contratos de “swaps cambiais”. Acreditamos que o BC não dará continuidade neste programa, passando a monitorar a taxa cambial, até onde for possível, dosando a rolagem das posições vincendas, que ao que tudo indica não tender a ser necessariamente totais, por perda de demanda e eficácia para controlar a taxa cambial.
O BC sabe que o câmbio poderá trazer inquietações ao longo do ano, pois com um aumento de demanda no mercado à vista, baixa eficácia de sensibilização com os instrumentos financeiros “swaps cambiais”, alta do dólar com perda de margem para ganham com arbitragem nas posições vendidas dos bancos, poderá ser levado a ter que vender dólares a vista ao mercado de câmbio, e, já começaria com um passivo atual de US$ 14,0 Bi, para cobrir os bancos.
Por isso, entendemos o esforço positivista do Presidente do BC, Alexandre Tombini, quando assevera: “O Brasil já demonstrou que é capaz de passar por essa transição com segurança. Nosso arcabouço de políticas monetária e financeira é resiliente”.
Esta dever ser efetivamente a postura do dirigente da autoridade monetária, contudo, vemos riscos de perturbações na trajetória.