A precipitação da precificação do preço do dólar no mercado à vista com base em expectativas futuras volta a se repetir neste momento, a exemplo do ocorrido, porém no sentido inverso no 1º trimestre deste ano.
Nos primeiros meses do ano o mercado retroagiu em suas expectativas favoráveis com a nova equipe econômica e precificou no preço à vista da moeda americana expectativas futuras de que tudo estaria fadado ao
10 a 11 de junho de 2015 Escrito por: Sidnei Moura Nehme
A precipitação da precificação do preço do dólar no mercado à vista com base em expectativas futuras volta a se repetir neste momento, a exemplo do ocorrido, porém no sentido inverso no 1º trimestre deste ano.
Nos primeiros meses do ano o mercado retroagiu em suas expectativas favoráveis com a nova equipe econômica e precificou no preço à vista da moeda americana expectativas futuras de que tudo estaria fadado ao insucesso, face as dificuldades politicas e a avalanche de reajustes de preços administrados contingenciados de forma errática na gestão da antiga equipe econômica no mandato anterior da Presidenta Dilma, afora o ajuste generalizado dos preços relativos da economia atingindo fortemente os preços livres.
Não há efetivamente sucesso que se possa atribuir ao programa de ajuste implementado pela nova equipe econômico, um tanto quanto sem estratégia mas focando somente em arrecadar para cumprir o superávit primário no primeiro momento, tendo havido repercussões que fortalecem a tendência do país entrar em forte recessão, com a inflação já presente e a prática de elevações sistêmicas da taxa de juro SELIC acontecendo e estando por vir desemprego, queda do consumo e da renda e perda acentuada do ritmo da atividade econômica, o que fará o setor produtivo menos contributivo à arrecadação de tributos almejada pelo governo.
O quadro brasileiro é temerário no seu todo, pode estar ocorrendo os sinais primários de que um ambiente mais perverso está por vir, e que se prestará, mais do que a taxa SELIC, a provocar a retração da inflação de forma óbvia.
Na realidade o Brasil é um país absolutamente desinteressante ao capital externo para investimentos, e, tem um único nicho em que pode despertar interesse que é o da infraestrutura onde as oportunidades são infinitas. O governo após quase um semestre anunciou um programa para concessões na área de infraestrutura, mas precisará ter uma visão absolutamente capitalista para definir as margens remuneratórias sem o que não atrairá o capital externo tão fácil quanto os exageros nas expectativas demonstrada pelos membros do governo ao realizar o anúncio.
Este é quase um replay do que já assistimos e que não evoluiu exatamente por não ter margens atraentes aos investidores, que certamente agora desejarão mais neste momento em que o país tem uma situação transparente mais deteriorada e inflação alta, além naturalmente um custo de “hedge” mais elevado por questões de liquidez à longo prazo.
Espera-se que o governo seja mais ágil neste momento, menos burocrático, mas não excessivamente otimista, pois a demanda pode não ser tão intensa como esperada pelos investidores estrangeiros, salvo os chineses que tem interesses pontuais, e os investidores nacionais são contumazes tomadores de linhas do BNDES, o que não muda nada num cenário em que o país necessita ingressos volumosos de recursos externos.
O Brasil tem elevado déficit em transações correntes, na atualidade nos últimos 12 meses em torno de US$ 100,0 Bi e projetada para o final do ano otimistamente em US$ 84,0 Bi.
Ademais tem uma balança comercial com baixo desempenho com as exportações cadentes por queda no preço e/ou falta de competitividade e que só não ganha mais destaque devido às importações serem cadentes neste momento devido a fraca atividade da economia.
A indústria brasileira não reage ao fato de dispor de uma taxa cambial mais favorável que, em tese, aumenta sua competitividade no mercado interno frente aos produtos importados e na recuperação do mercado externo, já que o país foi levado à condição de quase totalmente exportador colonial de commodities agrícolas e metálicas em estado primário como insumo para os clientes.
O aumento sistêmico da taxa SELIC é desestimulante ao investimento produtivo em busca de aumento da produtividade, já que “o melhor do capitalismo é ser capitalista”, valendo então mais aplicar recursos no mercado financeiro do que na produção, onde obtém rentabilidade tranquila.
O BC, que ao que parece ainda não assumiu um perfil mais alinhado com as diretrizes do segundo mandato da Presidenta Dilma, praticando mais do mesmo e repetindo a perspectiva de que em x momento a inflação convergirá para o centro da meta, precisaria ponderar de forma mais criteriosa os efeitos da recessão na economia sobre a inflação, A elevação contumaz da SELIC, além de tudo, onera os cofres públicos e conspira contra o objetivo do superávit primário.
Então, temos ainda um cenário pouco favorável da atividade econômica com sinais de tendência ao agravamento afetando emprego, renda, consumo, arrecadação do governo, etc e uma forte perspectiva de que o superávit primário continua sendo uma meta desafiadora e que ainda não tem conforto, o que coloca em risco o “grau de investimento” do país.
O programa de concessões, se efetivado como se espera e sem exageros, poderá trazer resultados no médio e longo prazos, mas antes o país terá que conviver com o cenário pouco favorável atual e que tende a se agravar.
Então, não nos parece correto que o mercado de câmbio cometa o mesmo erro do inicio do ano, agora de forma inversa, de precificar no preço à vista da moeda americana expectativas futuras, quando se observa claramente que depois do fluxo financeiro favorável do mês de abril, os recursos especulativos adentrados no país começaram a sair fortemente no mês de maio e dão sinais primários de que continuarão a sair neste mês de junho.
Temos ressaltado desde muito que entendemos que a taxa de equilíbrio para o momento seria entre R$ 3,05 a R$ 3,10 e para o final do ano R$ 3,20, contudo o contexto tem piorado e certamente a taxa cambial deveria estar um pouco acima como reflexo natural onde os fluxos cambiais deverão ter um intervalo com piora.