Câmbio: O suposto e a realidade. Números que não vem sendo observados

A recente apreciação que vem ocorrendo da moeda brasileira, o real, ante a moeda americana, o dólar, no nosso mercado de câmbio, tem sido atribuída de forma contumaz a um suposto intenso fluxo de recursos externos focados em rentabilidade no país.

Contudo, parece esquecido o detalhe de que o que efetivamente impacta na formação do preço da moeda americana no nosso mercado de câmbio é o fluxo cambial líquido positivo, o que parece vem sendo pouco observado e que se revela extremamente “nanico”, alcançando tão somente US$ 159,0 M e especificamente no segmento financeiro US$ 1,330 Bi, no ano até o dia 4 de abril passado.

No todo ingressou no país até o dia 4 de abril o montante de US$ 181,255 Bi e saiu US$ 181,096 Bi, que não enseja nenhum comportamento eufórico.

Ocorre que o capital especulativo entra na bolsa, mercado de juro, etc… e alavanca preços e volumes e constrói um sentimento falso de que está sobrando dólares e isto é que alimenta a falsa ideia de que está influenciando na formação do preço apreciando o real, algo bastante distante da realidade.

Na realidade há um excesso de oferta/rolagem de contratos de “swaps cambiais” que efetivamente impacta na formação do preço, que tem a participação dos bancos que estão vendidos no mercado de câmbio à vista e, também, no mercado futuro, lhes interessando, portanto, o “status quo” para cobrirem gradualmente estas exposições a preços mais convenientes.

Para o governo é interessante que predomine este entendimento que confunde euforia pontual em alguns segmentos e otimismo externo em relação ao Brasil. Desta forma o governo pode propagar que há otimismo renovado com exterior com o Brasil, o que não é verdadeiro. A reação eufórica no caso é pontual e emana dos setores que estão recebendo estes recursos que buscam ganho fácil e rápido no curto prazo e não é sinônimo de otimismo, que motiva investimentos com visão de longo prazo.

Por outro lado, há um silêncio quase inexplicável sobre a observação de que está ocorrendo um volume de saídas de recursos equivalente aos ingressos no país.

Ao tempo do BC sob o comando do Presidente Henrique Meirelles, havia efetivamente um volume de ingressos superavitário e o BC então esterilizava este excedente com leilões de compra e ia além do excedente a ponto de deixar os bancos com “posições vendidas” no mercado à vista, e justificava a excessiva apreciação do real posta a serviço do combate a inflação ao intenso fluxo, embora sabidamente neutralize os efeitos deste impacto com suas compras além do excedente do fluxo.

Hoje o contexto é diferente.

Entendemos que estes fluxos especulativos sejam absolutamente de curto prazo, o que cria perspectiva sustentável de que o fluxo cambial líquido para o Brasil este ano será novamente negativo.

 Já há sinais de que a BOVESPA está submetida a movimento de realização de lucros pelos especuladores após expressiva alta no curto prazo, sendo um risco efetivo no momento para novos investimentos já que não há fundamentos críveis que sustentem a perspectiva de alta das ações, até porque a inflação está aquecida, o país deve crescer muito pouco e a taxa cambial atual excessiva apreciada representa oportunidade de ganho de variação cambial para o retorno do capital ao exterior.

É até possível que este movimento de saída seja compartilhado com operações de “day trade” o que pode criar volatilidade.

Por outro lado, os ingressos direcionados para arbitragens com taxas de juros, etc devem continuar no curto prazo, até porque, no nosso entender aumentará a atratividade, pois não há como o COPOM deixar de dar continuidade à elevação da SELIC, principalmente após o IPCA de 0,92% apurado em março e a clara tendência do índice de 12 meses superar o teto da meta, sendo até provável que tenhamos ainda duas altas de 0,25%, elevando a SELIC para 11,50%.

Estes recursos focados no juro também de curto prazo poderão permanecer mais tempo para consolidar o ganho do que os recursos que vieram para a BOVESPA, que foram beneficiados por uma alta expressiva de forma rápida que já permite o retorno dos capitais à origem. Nestes focados no juro o objetivo é diferencial de taxa de juros e isto exige certo prazo.

 A cautela com país crescendo pouco, inflação alta, déficit em conta corrente, etc.. não são muito focados por investidores de curto prazo, sendo avaliados com rigor quando se referem aos investidores de longo prazo.

A tendência é que a necessidade de fluxo faltante ancorado nas posições vendidas dos bancos no mercado de câmbio à vista, atualmente US$ 18,1 Bi, volte a se ampliar e o BC poderá ser levado a retomar os leilões de linhas em moeda americana ou os bancos terão que recorrer aos banqueiros externos, que deixaria mais discreta à percepção geral de que o país continua com insuficiência de fluxo cambial, atualmente de quase 5% das reservas cambiais.

A semana de 1 a 4 de abril já revelou expressivo fluxo negativo de US$ 1,786 Bi no segmento financeiro o que já pode ser consequência deste movimento de desmonte de aplicações na Bovespa.

Desta vez estamos no meio de uma irrealidade insustentável, por isso a tendência de apreciação do preço da moeda americana deverá se consolidar em perspectiva, pois os números indicam que será sustentável.

É importante e relevante que quando observarmos os números do fluxo cambial o faça com abrangência para formarmos juízo e perspectivas e não ficarmos influenciados pelo suposto, mas sim pela realidade.

 

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