A pergunta recorrente no mercado de câmbio é como o BC conseguirá reverter a brutal intervenção que vem realizando com os instrumentos financeiros denominados “swaps cambiais” que se presta a garantir preço da moeda aos passivos expostos existentes no país em moeda estrangeira, combinada com a geração de liquidez sendo promovida pelos bancos com a manutenção de posições vendidas que ancoram efetivo fluxo cambial negativo acumulado e são lastreadas por linhas de financiamentos em moeda estrangeira, concedidas pelo BC, neste momento, zeradas, ou por banqueiros externos?
A resposta mais objetiva seria de uma simplicidade única: com a melhora intensa do fluxo cambial liquido a ponto de torná-lo positivo para promover a auto geração pelo próprio mercado da liquidez necessária, permitindo mais acumulo de reservas cambiais, como reflexo do aumento de credibilidade do país no mercado global e perante aos investidores.
Não tem truque, na mesma linha da afirmação feita recentemente pelo Ministro Mantega de que para melhorar o superávit primário a solução é o crescimento da economia.
Avaliadas as circunstâncias em que se tornaria viável a reversão da intervenção que vem sendo promovida pelo BC no mercado de câmbio desde agosto de 2013 e confrontando o contexto atual e suas perspectivas, poder-se-ia afirmar que é praticamente inviável, pelo menos no curto prazo, salvo se o BC estivesse disposto a queimar uma parte considerável das reservas cambiais para bancar o fluxo cambial que nos falta, mas isto além de reduzi-las poderia estimular movimento especulativo sobre o real.
Então a conclusão é que precisarão continuar sendo praticado “mais do mesmo”, com o BC ampliando o volume de oferta de “swaps cambiais” e os bancos suas “posições vendidas”.
Há conforto num contexto como este? Certamente que não, principalmente quando é possível ocorrer aumento da demanda pela intensificação de saída de recursos estrangeiros do país, que exigirá liquidez no mercado de câmbio à vista, que será dada pelos bancos ampliando suas posições vendidas, que assim requisitarão oferta de “swaps cambiais” pela autoridade monetária para proteger suas expansões.
E identificamos riscos. Como temos salientado a diferença entre o remédio e o veneno está na dosagem. Necessidade excessiva de ofertar proteção aos passivos em moeda estrangeira existentes no país com concomitante elevação das posições vendidas dos bancos, em algum momento deverá ter a sinalização de preocupação por parte dos adquirentes de “hedge”, não sendo descartado que se acentuem as presenças de especuladores agindo sobre o real.
Num dado momento esta estratégia atual tende a perder eficácia decorrente da sua própria exacerbação.
Por outro lado, na margem como consequência desta ação desenvolvida para dar suporte ao preço apreciado do real com o objetivo de conter inflação, se colhem dados da retração da atividade industrial que já provoca desemprego e aumento dos produtos importados, que segundo a CNI apontou o coeficiente de importação da indústria aumentou no 2º trimestre atingindo 21,8%, participação do produto importado no consumo doméstico.
A irrealidade do preço da moeda americana no país fomenta, também, a expansão do déficit em transações correntes.
Como salientamos no comentário de sexta-feira, a conjunção de inúmeros fatores presentes na economia mundial vem retardando que se acentue a saída de recursos externos dos países emergentes, entre os quais o Brasil, mas no caso brasileiro há um ambiente que sugere que os capitais especulativos ingressados ao inicio do ano possam deixar o país antes das eleições e este retardamento momentâneo que ocorre poderá provocar demanda mais intensa concentrada num curto período de tempo.
Enquanto acreditamos que a perspectiva de uma decisão do FED sobre a política monetária americana afetará todos os emergentes, em diferentes escalas, consideramos que no caso especifico do Brasil haverá, concomitantemente, uma retração nos fluxos de recursos direcionados para renda fixa e variável, pois estarão em período de reversão, mas mais importante é que vislumbramos um recuo nos IED´s neste 2º semestre, face à baixíssima atratividade do país que registra baixo crescimento, elevada inflação, política fiscal em trajeto de deterioração, sinais de desempregos setoriais, queda de consumo, etc… e que poderá levar os investidores a postura prudencial para observar novas diretrizes para a economia, a partir do resultado eleitoral.
O “conjunto da obra” que envolve o câmbio é extremamente complexo, o que deverá estimular muita volatilidade e um viés de apreciação do preço da moeda americana, como tendência natural e, também, pela fragilização dos instrumentos de intervenção da autoridade monetária no mercado de câmbio.