Câmbio: Muitos contraditórios sugerindo “trepidações” na trajetória

Fluxo cambial incapaz de cobrir a insuficiência de ingressos advindas do ano passado e que, ainda neste ano, não foi possível “zerar” com o fluxo líquido positivo do 1º quadrimestre em torno de US$ 4,0 Bi, restando ainda US$ 14,0 Bi, que vem sendo suportados em posições vendidas (a descoberto) pelos bancos para garantir liquidez, amparadas por linhas de financiamentos concedidas pelo BC com utilização das reservas cambiais brasileira.

Importante salientar que este carregamento de passivo devido a geração da liquidez dada ao mercado de câmbio à vista pelos bancos, com a prática de utilização de posições vendidas, tem sido suportado pelos mesmos com o estimulo de ganhos de arbitragem, que se viabilizam com a taxa cambial com real excessivamente apreciado.

Déficit em transações correntes acumulados no 1º quadrimestre do ano de US$ 33,476 Bi frente a ingressos de IED´s no mesmo período de US$ 19,404 Bi ( US$ 4,887 Bi empréstimos “intercompanies). Nos últimos 12 meses o acumulo do déficit em transações correntes atinge a US$ 81,075 Bi, equivalente a estimados 3,64% do PIB, pior resultado desde 2001.

Enfim, o setor externo revela forte tendência de se constituir em “perturbações” para o BC, pois ainda devemos considerar que não há um quadro pior devido ao fluxo de recursos especulativos que ingressou no 1º quadrimestre, que, contudo, deverão passar pela reversão no curto prazo deixando o país com o lucro auferido, como é característica dos investidores especuladores.

Além disto, a balança comercial brasileira revela forte tendência de registrar saldo negativo este ano, exercendo pressão de demanda adicional no mercado de câmbio à vista.

Enfim, todos os fundamentos presentes e perspectivas sugerem que o preço da moeda americana esteja num piso muito mais elevado do que o atual, e que, em perspectiva, a elevação se acentue com a percepção da insuficiência dos fluxos.

Naturalmente, é notório que o BC tem interesse em apreciar o preço do real e assim utilizá-lo complementarmente à taxa de juro como instrumento de contenção das pressões inflacionárias.

Por isso, manteve exacerbada oferta de “swaps cambiais” para induzir a apreciação do real, e estimulou os bancos a garantirem liquidez em divisas para o mercado à vista, mitigando a pressão altista natural se a liquidez ficasse apertada, através a constituição de posições vendidas (vendas a descoberto) e ao mesmo tempo forneceu aos bancos o lastro para as mesmas com linhas de financiamentos em moeda americana. Com a taxa do real apreciado acontece a viabilização de arbitragem favorável entre o custo da linha e o juro do cupom cambial, e os bancos se sentem motivados a carregar as posições vendidas.

Contudo, na medida em que há tendência de diminuição de demanda por “swaps cambiais” e o BC já apontou este fato e pode, então, diminuir a oferta destes instrumentos, que já eram excessivas, ocorre a tendência de depreciação do real. Se for intensa, os bancos perderão interesse em manter as posições vendidas, e, a oferta de swaps certamente poderá não ter força para conter a alta que estará tendo a pressão a partir do mercado à vista.

Este cenário poderá surgir como um “corner” para o BC.

Se o tabuleiro virar sobre a mesa, o BC poderá ser levado a ter que efetivamente vender moedas “spot” ao mercado, retirando-as efetivamente das reservas cambiais brasileiras.

E não será algo que passará desapercebido, em especial pelos especuladores que poderão valer-se deste sinal para tentar especular sobre o real.

O preço do câmbio no nosso mercado está afastado dos fundamentos e o ajuste poderá provocar turbulências em torno do preço da moeda americana, principalmente na forma de volatilidade.

 

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