Janet Yellen, Presidente do FED americano, falando ontem em evento semi anual no Congresso americano não alterou significativamente o tom de suas avaliações sobre a economia americana, destacando que existem incertezas no cenário prospectivo, a despeito das melhorias consideráveis ocorridas no mercado de trabalho este ano.
Contudo, fez uma menção que deixou um discreto alerta aos países emergentes quando destacou: “se o mercado de trabalho continuar a melhorar mais rapidamente do que o previsto, resultando em convergência mais rápida em direção a nosso duplo mandato, então o aumento na meta para a ‘Fed Funds Rate’ provavelmente iria ocorrer mais cedo e ser mais rápido do que o atualmente previsto”.
A economia americana vem mantendo a média de criação de vagas de emprego em torno de 230 mil e o desemprego está em 6,1%. O viés presente é de melhora, por isso é relevante a observância destes dados da economia americana, que se confirmarem a perspectiva poderão determinar a do juro mais precocemente nos Estados Unidos.
Para os países emergentes esta observação de Janet Yellen provoca desconforto e pode impulsionar depreciação de suas moedas.
No caso do Brasil, onde já se espera a saída expressiva de recursos especulativos adentrados no 1º trimestre, em especial, neste 2º semestre, em concomitância com um recuo expressivo de ingressos no mesmo período, a perspectiva criada pela Presidente do FED americano é um elemento a mais para pressionar a apreciação do preço da moeda americana no nosso mercado de câmbio, pois adicionalmente aos recursos especulativos que tendem a sair por outras razões, capitais não rigorosamente especulativos poderão ser atraídos pelo mercado americano.
Nossa visão é de que o 2º semestre será marcante em fluxos cambiais negativos, o que tende a tornar, cada vez mais, difícil a tarefa do BC monitorar o preço da moeda americana pró controle das pressões inflacionárias.
Continuamos com a convicção de que ocorrerá a transição mais efetiva da demanda do mercado futuro (proteção) para o mercado a vista (pagamento) e este quadro sugere pressão altista no dólar.
O mercado de câmbio registra até a semana passada fluxo insuficiente acumulado oriundo do ano passado da ordem de US$ 15,0 Bi que tem sido bancado pelas posições vendidas dos bancos, quando a rigor deveria estar sendo pelo Banco Central do Brasil. Deste montante somente US$ 2,250 Bi estão sendo financiados pelo BC com utilização das reservas cambiais brasileiras na forma de empréstimos.
Em perspectiva há um ponto de incerteza. Com fluxo cambial crescente negativo será necessário gerar liquidez com o incremento das posições vendidas dos bancos ou venda direta do BC ao mercado.
É notório o desconforto que a hipótese de venda direta do BC ao mercado acarreta a autoridade monetária, visto que deixa evidente que os fluxos de recursos para o país estão cadentes, e isto poderá alavancar, como reação natural e até especulativa, a apreciação do preço da moeda americana.
Hoje o BC deverá divulgar o fluxo cambial até o final de semana passado, mas é bastante provável que o fluxo financeiro líquido continue aumentando o seu saldo negativo.
Quanto ao fluxo comercial a tendência é que entre em declínio gradualmente passada a fase mais aguda das exportações de commodities, já que a queda na atividade econômica e a perda de mercado de manufaturados levou a AEB a reduzir a projeção de saldo de balança comercial para tão somente US$ 635,0 M este ano.
Na margem, ainda há a preocupação de que as importações que tiveram expressiva queda possam ser reativadas, visto que o setor produtivo brasileiro não se demonstra seguro para investimentos e poderá reduzir sua produção buscando a complementaridade com importações, valendo do preço distorcido do dólar que torna atraente esta prática.
É bastante factível que na virada de julho para agosto o viés de correção elevando o preço da moeda americana passe a se acentuar.
Afinal, motivos para a apreciação da moeda americana não faltam.