Câmbio: Consenso de alta entre 10 a 15% no dólar neste ano prevalece!

As projeções mais conservadoras indicam o fechamento do ano com o dólar ao preço de R$ 2,40, valor mediano da última pesquisa FOCUS divulgada, indo até R$ 2,55 no ponto de vista de analistas mais rigorosos.

Há mesmo a convicção de que esta é uma tendência efetiva, porém existem tantos vetores de influência e incertezas no percurso até ao final do ano que tornam incerto o “timming” desta efetivação.

Parece mesmo que nesta questão estamos mais à mercê de fatores externos que podem impactar nas nossas fragilidades e limitações impulsionando movimentos de saídas de recursos estrangeiros do país, do que podemos fazer por nós mesmos para alterar este quadro.

O país virou o ano transportando um fluxo cambial negativo de US$ 18,124 Bi a ser coberto e ancorado nas posições vendidas dos bancos lastreadas, em principio, por linhas de financiamentos concedidas pelo BC com fundos oriundos das reservas cambiais brasileiras. Afora isto, havia também um passivo de comércio exterior a ser liquidado, já que o saldo remanescente de importações a pagar superava o de exportações a receber.

A partir de agosto de 2013 o cenário envolvendo o fluxo de recursos estrangeiros para o país apontou sinais de forte reversão, exigindo da autoridade monetária medidas focando atenuar pressões de demanda por moeda estrangeira que poderiam causar apreciação elevada no preço da moeda americana no nosso mercado, com impactos imediatos na inflação interna já aquecida.

O BC utilizou a estratégia de optar pelo fornecimento de linhas externas aos bancos, ao invés de se desfazer definitivamente de parte das reservas cambiais com a realização de leilões de venda, no afã de que o fluxo cambial pudesse melhorar a ponto de dar uma solução de mercado a este montante de fluxo insuficiente. Com isto, via bancos financiados, o BC garantiu a liquidez do mercado de câmbio à vista.

Por outro lado, iniciou uma oferta massiva e programada de “swaps cambiais” garantindo “hedge” (proteção) aos passivos existentes em nossa economia em moeda estrangeira, e assumindo o risco da variação cambial mitigou os surtos de pressão sobre o preço da moeda americana.

Estamos chegando ao final do 1º semestre de 2014 e os bancos ainda carregam posições vendidas da ordem de US$ 13,802 Bi, ainda contando com financiamento do BC da ordem de US$ 7,001 Bi, tendo sido modestamente reduzido o montante migrado do ano passado de US$ 18,124 Bi.

Importante apontar que o país teve no período fluxo de ingresso de US$ 329,7 Bi (US$ 103,5 Bi comercial e US$ 226,2 Bi financeiro) mas registrou saídas de US$ 325,2 Bi (US$ 100,6 Bi comercial e US$ 224,6 Bi financeiro), restando como fluxo liquido tão somente US$ 4,569 Bi.

Oportuno também destacar que no financeiro tão somente US$ 1,652 Bi, bastante modesto tendo em vista o expressivo montante de captações externas realizadas por empresas estabelecidas no Brasil e um volume bastante expressivo de ingressos de capitais especulativos que adentraram o país, direcionados para Bolsa e renda fixa, forjados a partir de operações de “carry trade” no momento em que o FED americano sinalizou que as mudanças na sua política econômica poderiam ser retardadas face à economia revelar ritmo abaixo do previsto.

Importante mesmo destacar que se não houvesse ocorrido este fluxo considerável de capitais especulativos, até certo ponto inusitado e ocorrido por razões pontuais, o nosso fluxo cambial poderia ter se tornado negativo ampliando o saldo negativo carreado do ano passado.

Há convicção de que estes capitais especulativos tendem a deixar o país no momento em que o FED americano der sinais de mudança de sua política monetária ou até mesmo quando a economia americana começar a gerar dados positivos mais consistentes e sustentáveis, deixando implícita a viabilidade da mudança.

É bastante razoável se imaginar que o fluxo de capitais especulativos para o Brasil tenha doravante tendência ao negativo, pois com a proximidade das férias no hemisfério nortes os investidores especuladores tendem a reduzir drasticamente suas exposições à risco, o que implica em reversão. Além disto, são crescentes as incertezas em torno das eleições no Brasil e isto afeta o comportamento dos mercados de forma não técnica, e incertezas não são boa companhia para capitais especulativos.

Por outro lado, mesmo considerando-se a possibilidade de atração de capitais produtivos, o Brasil não os atrai no momento. Perspectivas de crescimento cada vez menores, com o FOCUS apontando a projeção mediana de 1,16% mas já havendo algumas mais rigorosas abaixo de 1% e as perspectivas para a atividade industrial já negativa.

Há uma forte convicção de que a inflação está sendo o efetivo antidoto às pressões nos preços da economia na medida em que corrói a renda e isto está causando a retração do IPCA, como reflexo provoca a diminuição do consumo e tomada de crédito, e nem tanto a taxa de juro.

Tudo leva a crer que teremos um 2º trimestre de apertos no câmbio, com aumento da demanda no mercado à vista e baixa perspectiva de elevação de fluxos favoráveis ao país.

O PMI Markit dos Estados Unidos veio muito acima do esperado ao apontar 57,5% na leitura de junho ante 56,2% de maio e projeção de 56,5%. As vendas de imóveis residenciais usados cresceram 4,9% em maio, acima do projetado. São sinais importantes que devem ser observados e que tendem a afetar as perspectivas para os mercados emergentes, que seguramente perderão investimentos neles alocados e não rigorosamente de natureza especulativa quando o FED alterar sua política monetária.

No próximo dia 30 será encerrado a oferta programada de “swaps cambiais” pelo BC, que já anunciou que continuará com um programa, mas ainda não anunciou o formato.

O mais razoável, já que a demanda por “swaps cambiais” tem se revelado cadente, fato confirmado pelo Presidente do BC Alexandre Tombini, e até pelo fato do BC ter reduzido o volume das rolagens de posições vencidas nos meses passados, é que a autoridade passasse a monitorar o comportamento da demanda e a suprisse com o volume de oferta de rolagem.

Contudo, este procedimento que parece ser o mais adequado não garantiria ao investidor no Brasil a certeza da oferta que um programa pré-anunciado garante, por isso, acreditamos que o BC deverá apresentar um novo formato, porém sem afastar a garantia de certo volume de “swaps cambiais” novos, com a intenção de não criar insegurança aos eventuais investidores no Brasil.

A complementariedade de volume, se necessário, poderia ser feito a partir dos volumes das rolagens.

É bem possível que o país não conquiste satisfatório fluxo de investimentos no 2º semestre, mais evitaria que este seja o problema, e poderá também atender às empresas que captarem no exterior e os bancos se tiverem que expandir as suas posições vendidas para dar suporte à liquidez do mercado à vista.

O BC certamente manterá sua intervenção no mercado de câmbio, mas é certo de que quando a demanda se transferir mais efetivamente do mercado futuro para o mercado à vista, num ambiente de fluxo cambial negativo, ocorrerá a pressão determinando a apreciação do preço da moeda americana, e num ambiente com este contexto o que resolverá é moeda efetiva para saída efetiva dos recursos do país e os efeitos de oferta de “swaps cambiais” perderá força na influência da taxa.

Este cenário prospectivo é que sugere a alta do preço da moeda americana entre 10% a 15% até ao final do ano, a dúvida existe no “timming”.

 

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