Brasil tem motivos suficientes para o descompasso, efeito externo é baixíssimo!

Parece irônico quando percebemos que se buscam motivos e razões externas para justificar o absoluto descompasso no comportamento dos preços e indicativos do nosso mercado financeiro, quando sobram evidências impactantes internas, que por si sós sancionam o contexto do insensato momento brasileiro.

É preciso que se tenha a sensatez de considerar o ambiente externo em que se desenvolve o embate sino-americano de interesses comerciais meramente um fato a ser observado pelos emergentes, mas no caso específico do Brasil sem perder de vista que ambos são nossos parceiros e nossos concorrentes e que as suas e as nossas demandas continuarão, com algumas melhoras momentâneas por ocuparmos de forma oportuna alguma interrupção de fluxos de produtos por razões decorrentes do impasse entre ambos, em especial por imposições tarifárias recíprocas.

No curto prazo, como temos salientado, enquanto não houver alinhamento o Brasil terá benefícios nas suas exportações, portanto, a rigor, não há contexto negativo.

O Brasil, sim, está “atolado” num cenário de “areia movediça” que o faz prisioneiro e vítima de suas próprias mazelas e de um problema fiscal dantesco que ameaça a liquidez do próprio governo e que se não for amenizado no curtíssimo prazo poderá se transformar numa consequência imobilizante da gestão governamental.

Então, notoriamente o Brasil é vítima de sua própria situação e isto é que torna a perspectiva binária e suscita a oportunidade para movimentos especulativos e de desalento, distorcendo de forma significa a formação dos preços dos ativos no mercado financeiro.

O Brasil está cercado por um ambiente absolutamente nefasto e contraditório aos interesses imediatos do país, que o deixa exposto a riscos consideráveis e que, por vezes, não parece estar sendo considerados pelos políticos com a seriedade necessária e sem ponderação da gravidade.

O IBC-Br apurado pelo BC com queda no trimestre de 0,68% deixa bem evidente o preocupante quadro da nossa economia, sendo amplamente desapontador.

O índice aponta no comparativo março/fevereiro deste ano queda de 0,28%; no comparativo março/18 com março/19 a queda é de 2,52% e nos últimos 12 meses aponta um avanço de somente 1,05%.

Já há predominância de projeções que apontam perspectiva de crescimento em 2019 de somente 1,0% quando ao início do ano havia perspectiva de até 2,8%. Isto, se confirmado, tornará 2019 um ano a mais perdido e poderá até comprometer as perspectivas para 2020, por isso é absolutamente necessária a aprovação da Reforma da Previdência para dar um alento à situação fiscal do país e permitir que o novo governo possa efetivamente começar a governar e planejar sua dinâmica de gestão.

Este cenário atual e suas perspectivas desalentadoras é que efetivamente pesam no mercado financeiro brasileiro, que como consequência fica vulnerável a todo tipo de atipicidades e especulações, perdendo qualquer simetria com fundamentos que se perdem neste momento, passando “tudo que se vê” conceitualmente sem qualquer sustentabilidade.

Não é razoável que se construa expectativa de melhora de emprego, renda e consumo e nem políticas desenvolvimentistas por parte do governo, é absolutamente insensato ter-se expectativas neste sentido.

O que se vê no mercado financeiro é um “espelho” do “status quo” do país, não precisa forjar eventuais impactos externos. Se o Brasil estivesse bem, tudo estaria “bombando” na atividade econômica e isto seria suficiente para que os fluxos de investimentos estivessem intensos por parte de nacionais e estrangeiros, a despeito do conflito sino-americano do qual poderíamos tirar mais proveito do que atualmente.

O fluxo cambial inicia o mês com movimento absolutamente discreto revelando-se positivo, até o dia 10, no comercial em US$ 639,0 mm e no financeiro US$ 586,0 mm, totalizando US$ 1,226 Bi, deixando evidente que não há nenhuma intensificação nem nos ingressos e nem nas saídas de recursos estrangeiros, não havendo, portanto quaisquer pressões de impacto na formação do preço da moeda a partir do mercado à vista. As pressões compradoras ocorrem por parte dos estrangeiros no mercado futuro de dólar, atitude claramente especulativa e ancorada na expectativa do caos do país, mas ainda assim, muito inconsequente visto que na questão cambial o país está absolutamente defendido.

Como temos mencionado especular com dólar versus real exacerbando o preço é movimento de altíssimo risco, pois ao menor sinal positivo em torno do andamento da Reforma da Previdência a razão motora da especulação se fragilizará e o preço cederá fortemente.

Esta é uma fase de transição até que se tenha visão mais concreta de evolução da Reforma da Previdência, que, acreditamos, a despeito de todo o imbróglio em torno deverá acabar sendo aprovada, ainda que desidratada, pois ao contrário o país irá efetivamente para o “buraco negro” mencionado pelo Ministro Guedes, e será ruim para todos.

Enquanto isto, o país conviverá certamente com esta intensa volatilidade na formação de preços dos seus ativos, mas, é importante que ajustem o diagnóstico de que as causas estão aqui e não no exterior, fato confirmado ontem quando Wall Street e bolsas europeias operavam positivamente e o índice dólar estava literalmente estável, e aqui no Brasil a Bovespa “derretia” um pouco mais e o dólar teve até cotação ousada em alta se aproximando de R$ 4,02 para depois recuar para abaixo de R$ 4,00 sem perder o viés de alta.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

Compartilhar :
plugins premium WordPress