O IBC-Br de 0,44% de setembro sobre agosto ou 0,91% trimestre presente sobre trimestre anterior trouxe um alento de que a economia caminha na direção certa, ainda que não seja com a intensidade desejada, mas uma visão otimista já sugere um crescimento do PIB neste ano em torno de 1,0%, ainda 0,92% na projeção FOCUS.
A atividade está ganhando tração, o CDS do país está em 121 pontos, um pouco acima dos 114 pontos de semanas atrás, mas ainda um excelente nível, inflação acomodada projetada pelo FOCUS em 3,33%, juros baixos com viés de maior redução da SELIC, e isto poderá restabelecer atratividade por parte de investidores estrangeiros, em princípio para a Bovespa, pois o momento está sendo observado com maior rigor para investimentos de longo prazo devido ao “abalo” natural do surgimento de sinais de insegurança jurídica e relativa ebulição política com movimentos por parte do Presidente Bolsonaro.
Merece certa atenção a evolução mais rápida do que previsto do déficit em transações correntes de 0,75% do PIB para um pouco mais de 2,0%.
Mas, o mercado financeiro, em especial bolsa e câmbio, começa a nutrir perspectivas de que possa haver melhora nos fluxos dos investidores estrangeiros, que afinal, vem sendo aguardados desde o início do ano fato que não se consumou até porque a Reforma da Previdência, que era fator relevante para atenuar a pressão da crise fiscal teve sua decisão final postergada para além da pior expectativa de tempo.
Acreditamos que a presença do investidor estrangeiro, agora como investidor de melhor qualidade e não somente especulador, se configura como imprescindível para que a Bovespa ganhe propensão efetiva de valorização, que em concomitância deve melhorar os fluxos cambiais para o país que devem em linha direta repercutir na formação do preço da moeda americana no mercado à vista, colocando-a em rito de desvalorização.
Sem o investidor estrangeiro não é razoável vislumbrar perspectivas de grande valorização dos papéis na Bovespa e de apreciação do preço do real frente ao dólar, face à melhora do fluxo cambial que sofreu forte derrocada ao longo deste ano.
É inegável que o clima de insegurança jurídica impacta forte na decisão dos investidores estrangeiros que possam estar interessados em participar do programa de privatizações do governo, e este é um dano que tem extrema relevância conceitual por parte dos investidores.
Outro ponto de insegurança, mas de caráter político ocorre em torno das perspectivas de aprovação das reformas complementares, como administrativa e tributária, pois já eram consideradas difíceis antes mesmo de se questionar se o governo terá base de apoio com a troca de partidos políticos, o que poderá fragilizar ainda mais as perspectivas de aprovações.
Então, o “recurso transitório” poderá circular pelo nosso mercado financeiro na busca de rentabilidade de oportunidade, mas o “recurso para ficar”, como efetivo investimento, tende a demorar um pouco até que se afastem as inseguranças jurídica e política, e isto poderá até frustrar o programa de privatizações bastante alvissareiro do governo.
Temos ainda “valorizado”, acreditamos em demasia, o embate China-Estados Unidos, pois acreditamos que os malefícios já foram precificados e o que resta são espasmos, que a rigor, deveriam somente ter perspectiva favoráveis numa visão mais cética porque o custo do dano já foi agregado ao ambiente presente.
Na nossa visão é baixíssimo o risco de piorar, e relevante o de melhorar, mas este é um jogo que ainda deve perdurar por muito tempo.
Neste embate a sensibilidade brasileira deve ser baixa, mas o país deve estar pronto para aproveitar as oportunidades pontuais que surgirem.
Nosso ponto de vista sugere que os problemas que afetam o Brasil neste momento decorrem de problemas puramente oriundos das questões internas do país, e, o país recuperará a atratividade perdida na medida em que coíba seus próprios erros.
Por enquanto, entendemos que predominarão movimentos de volatilidade, mas ainda difícil tendência sustentável, até que melhore o fluxo de recursos estrangeiros.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO