Antes tarde do que nunca!!
O BC tentou conter a queda da liquidez no mercado de câmbio à vista com intervenção “neutra”, ou seja, ofertando dólares à vista, no mercado à vista, e o fez num montante em torno de US$ 24,0 Bi reduzindo as reservas cambiais, mas conjugando-a com oferta de swaps cambiais reversos, que tem o impacto de demanda no mercado futuro de dólar, fazendo, com isto, o contraponto que contém o efeito do seu incremento na liquidez na formação do preço. A isto se denomina intervenção neutra.
Num ambiente em que o preço da moeda americana se configurava “fora do ponto”, já evidenciando “disfuncionalidade”, esta estratégia se configura inadequada por dar sustentação do preço distorcido, quando o correto seria antes reequilibrar o preço com adequação somente da oferta de moeda.
Não bastasse isto, alguns arroubos de argumentos de que “taxa de juro baixo/dólar alto, como se tivéssemos uma relação perfeita no Brasil do juro/câmbio”, ou ainda, de que “não há preocupação com o preço do dólar elevado”, etc. etc., fortaleceram a especulação e transfigurou um ambiente que não revela qualquer risco de crise cambial num cenário tenebroso sinalizando de forma enfática um problema que o país não tem dado o confortável volume de reservas cambiais em estoque.
Ao BC é o guardião da moeda e sua estabilidade, inclusive no câmbio, como destacamos em matéria anterior, por isso ao perceber distorção grave na formação do preço deve intervir, é o seu papel, sem constrangimentos.
O Brasil registra um momento desfavorável no fluxo cambial que está negativo e os bancos autorizados a operar em câmbio carregam relevante posicionamento “vendido”, e estes fatores adversos sugeriam que o BC, no cumprimento do seu papel, fornecesse ao mercado de câmbio liquidez pura, moeda à vista, para equacionar o desequilíbrio e conter a “disfuncionalidade” presente na formação do preço. Assim, simples assim!
Contudo, o BC optou, já com o preço da moeda aviltado, em realizar intervenção “neutra”, ofertando dólares à vista e contendo os efeitos na formação do preço com oferta conjugada de swaps cambiais reversos.
Com isto, sua intervenção dava sustentação ao preço já exorbitado, e adicionalmente uma série de considerações inoportunas a respeito do preço do dólar relacionado com juro baixo ou ainda da não relevância do fato, acabou por alavancar mais a disfuncionalidade.
O diagnóstico primário indicava queda no fluxo e naturalmente carência de liquidez em dólares à vista, que era o fator que provocava a distorção e sugeria que o BC fizesse unicamente leilão de moeda à vista equalizando oferta/demanda e provendo a formação do preço à realidade do país, que sabidamente está em torno de R$ 4,00, que poderá retroagir na medida em que haja recuperação do fluxo cambial.
Sabidamente este hiato no fluxo cambial em que ocorreu a saída forte do capital especulativo pela perda da atratividade pela queda do juro prematura e a não retomada do fluxo de recursos de qualidade de imediato decorre da demora da aprovação da Reforma da Previdência, da sinalização lenta de melhora da atividade econômica e da falta do efetivo programa de privatizações na prática, o que se tem agora em perspectiva, por isso se considera que este quadro do fluxo e da intervenção do BC é temporário.
Então, a fase 1 digamos assim, deveria ter envolvido tão somente a oferta de dólares à vista, mas o BC mostrou-se “cauteloso em demasia” para não dar a impressão de que estava interferindo na formação da taxa, quando na realidade estaria somente coibindo a disfuncionalidade, e assim com a intervenção “neutra” acabou por dar sustentação à taxa elevada fora do ponto.
A intervenção “neutra” seria plausível somente na fase 2 com estabilidade no preço, então este tipo de intervenção proveria a liquidez dando sustentabilidade à taxa cambial num parâmetro descontaminado de especulação.
Assim, teoricamente, é de supor que o preço da moeda americana estivesse em R$ 4,00, e o BC continuasse então, nesta fase, com a intervenção neutra, podendo até retroagir quando houvesse recuperação do fluxo positivo, o que permitiria a interrupção das intervenções do BC.
Como não agiu assim, agora, face às repercussões mais acentuadas da alta do preço da moeda americana, ameaçando a retomada da inflação pela contaminação dos preços relativos da economia (aumento dos combustíveis e retorno das maquininhas de remarcação com aumentos nos supermercados de São Paulo) e comprometendo as perspectivas para os cortes na taxa SELIC, o BC, ainda que mantendo a intervenção neutra com queda de demanda, passou ao enfrentamento efetivo do problema com a realização, tardia, dos leilões de dólares à vista com contundência no mercado de câmbio.
É possível voltar a vislumbrar o preço do dólar no em torno de R$ 4,00, se a ação do BC for persistente até eliminar a distorção presente.
Sem mais arroubos ou firulas, enfrentando frontalmente a disfuncionalidade para evitar retrocessos nos pequenos avanços conquistados, simples e objetivamente assim, sem constrangimentos, afinal:
“Herói é aquele que não teve tempo de correr!”
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO