O mercado de câmbio ainda não sinaliza comportamento que determine a necessidade de intervenção do Banco Central do Brasil, de vez que não indica demanda por proteção cambial adicional à simples rolagem dos contratos de swaps cambiais vincendos e nem demanda pressionando liquidez no mercado de câmbio à vista.
No nosso entendimento, face aos fundamentos presentes, o preço da moeda americana é sustentável entre R$ 3,80 a R$ 3,95.
O alcance das intervenções do BC no câmbio tem limitações a fatores pontuais como eventual demanda de proteção cambial, o que nos parece pouco provável, já que o mercado está suprido com algo em torno de US$ 67,0 Bi, ou demanda de liquidez no mercado a vista, que a autoridade monetária poderá suprir com a oferta de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra.
Os demais fatores que circundam e podem influenciar o comportamento da taxa cambial, que consideramos imponderáveis, não se sensibilizam com intervenções do BC e sim decorrem de fatores desfavoráveis quer econômico, quer político, quer jurídico, com os quais convive o país, e, fatores externos de impacto no mercado internacional que envolva mutações com reflexos diretos nos mercados emergentes.
Temos destacado que o Brasil é no momento um emergente diferente para pior, visto que tem um cenário econômico-político-jurídico bastante conturbado que forja expectativas agravadas por intensas dúvidas e incertezas.
Há a percepção de um sentimento crescente de que o que está ruim pode ficar pior e isto gera insegurança generalizada.
Há mutações nas projeções que passam a comprometer a visão sobre o PIB deste ano, como consequência direta da retração consistente da atividade econômica e suas repercussões em cadeia, com impactos não previstos na inflação que naturalmente poderão afetar as decisões do COPOM na política monetária, contudo, consideramos que estes aspectos já estão precificados no nível atual do intervalo da taxa cambial praticados no mercado brasileiro.
A tendência de elevação do juro americano e seus efeitos nos mercados emergentes já é fato computado na formação do preço da moeda americana no nosso mercado, e, a presumível pressão de demanda no mercado a vista para saída dos recursos de investidores estrangeiros do país não tendem por sí só impactar no preço visto que o BC tem amplas condições de suprir a liquidez.
Os efeitos da intensificação ou não da guerra comercial entre Estados Unidos e China, que poderá até envolver outros países tendem a ser disseminados de forma gradual e na prática podem diferenciar das colocações teóricas imediatas, visto que sugere re-acomodações. A repercussão da relação causa/efeito demanda tempo, por isso os impactos imediatos tendem a ser amortecidos logo após a reação inicial aos fatos.
No Brasil já está presente o risco latente com potencial de impacto no preço da moeda americana no nosso mercado, absolutamente insensível a eventual intervenção do BC, centrado nos imbróglios jurídicos em torno da sucessão presidencial e o acirramento em torno da disputa eleitoral e suas perspectivas.
Todavia, com a recente decisão do Congresso Nacional no que diz respeito à LDO, ressurge de forma altamente preocupante a tendência de agravamento da já grave crise fiscal pela reabertura à expansão de gastos que havia sido restringida, afetando de forma substantiva o próximo governo, e este é um aspecto altamente nefasto internamente e muito considerado externamente. Este é um fator que eleva o conceito de risco do país de forma substantiva e pode impor maior desvalorização do real frente ao dólar.
Estes dois pontos tem potencial de conduzir o preço do dólar ao rompimento do parâmetro do intervalo do preço da moeda americana predominante neste momento, entre R$ 3,80 e R$ 3,95, e não são passíveis de sensibilização por intervenções do BC.
Desta forma, o mercado deverá conduzir os seus negócios observando os fatos no entorno destes dois pontos.
Não acreditamos que haja razões efetivas para impactos na taxa cambial do nosso mercado a partir dos reflexos da guerra comercial USA-China, podendo ocorrer oscilações nos preços das commodities.
Entendemos que o BC deva estar atento aos sinais de incremento de demanda no mercado a vista, não retardando a intervenção com oferta de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra.
A rigor, o BC poderia antecipar-se ao início da esperada intensificação da demanda no mercado a vista, que acreditamos deva ocorrer ao final deste mês e início de agosto, agindo de forma profilática e previdente balizando a formação da taxa cambial, com oferta de leilões de oferta de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO