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Ausência do investidor estrangeiro retrai otimismo, altera projeções e tendências

A visão prospectiva posta ao final do ano de 2018 para 2019 foi bastante otimista, seja pelo novo governo e as perspectivas em torno do mesmo, seja pela expectativa de um novo tempo para o país.

Agora se constata que houve precipitação expressiva quanto ao alcance de mudanças fundamentais colocadas em projeção pelos analistas e mesmo pelo novo governo, tendo havido certa desconsideração e erro de avaliação dos percalços protelatórios já evidentes e a se acentuarem na trajetória das proposituras fundamentais por parte do governo e que já se tornam evidentes, seja pelo trâmite burocrático, seja pelos empecilhos políticos, seja pela oposição corporativista e ideológica.

A percepção é que foi desconsiderada a retração que se constata do apetite dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil, imprevista nas projeções antecedentes, e que, na medida em que surpreende os analistas e projeções dos segmentos do mercado financeiro, impacta atenuando o tom do otimismo anteriormente predominante e deixando bastante inseguras as tendências mais imediatas.

Assim, a B3 para a qual se projetou ascensão até 120 mil pontos ou mais e em relação ao preço do dólar que exageradamente chegou a se apontar no entorno de R$ 3,20/R$ 3,30, e que até insinuaram sem fundamentos concretos este alinhamento, vivem um momento de correção sem que necessariamente ocorra quebra efetiva do otimismo, mas agora há indecisões e insegurança, embora continue se vislumbrando que em algum momento pós aprovação das reformas, o investidor estrangeiro foco direcionar recursos para o Brasil.

Ocorre que, na melhor das hipóteses, a aprovação da reforma mais em evidência, qual seja a da Previdência, está sendo vista como factível em junho/julho e há muitas dúvidas se o Governo conseguirá estabelecê-la na forma proposta, que sequer ainda se conhece os termos.

Este hiato no fluxo de recursos externos de investidores coloca a B3 em ajuste reversivo do ímpeto altista e o dólar volta a retomar o seu ponto de equilíbrio para o momento, no entorno de R$ 3,75.

O anseio conduziu à precipitação que causou alta da B3, que se não contido poderia conduzir a mesma ao encarecimento precoce, que seguramente desestimularia eventuais direcionamentos de investimentos estrangeiros para o mercado financeiro brasileiro, agravado por um preço de dólar absolutamente desequilibrado, que fortaleceria a postura de desinteresse, visto que no conjunto dos dois fatores a B3 resultaria cara.

Parece não haver dúvidas que os investidores estrangeiros estão receosos e querem ver primeiro a consolidação das reformas, que serão fundamentais para a crise fiscal que assola o país.

O contexto é binário, se forem aprovadas as reformas de forma favorável é possível que se consolide fluxo de investimentos externos, não sendo possível se estimar montantes visto que a economia real brasileira continua a mesma, será preciso dar tempo ao tempo, e poderá ocorrer efetivamente contração dos investidores estrangeiros se as reformas não se consolidarem, o que será bastante desapontador.

Por enquanto, o otimismo mais moderado e sensato prevalece, mas é bastante provável que o mercado acionário e o de câmbio sofram o reajuste para compatibilização com a realidade presente, e passem a apresentar discreta volatilidade sem acentuar tendências.

O fato é que as projeções poderão ser alteradas para o Brasil 2019. O Boletim Focus acentua a percepção de queda do IPCA, agora em 3,87, mas o crescimento do PIB que está mantido em 2,50% já teve revisão de um grande banco para 2,00%, pois se a economia perder meio ano para poder ter os impulsos concretos, certamente perderá ímpeto.

No contexto externo há a percepção de que a economia global perderá volume, mas ainda se nutre expectativa em torno do embate entre China e Estados Unidos. Agora, está sendo construída uma perspectiva, para criar uma visão prospectiva mais favorável, de que esta disputa pode promover uma abertura maior comercial por parte da China e não tão protecionista por parte dos Estados Unidos. Por enquanto, é mais um anseio e torcida, de efetivo só há muitas dúvidas.

O governo precisa agilizar suas ações pró reformas para não provocar impacto maiores nas perspectivas de melhora efetiva da situação do país.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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