Quando a emoção substitui a razão os riscos se acentuam porque ocorre a volatilidade e uma boa dose de comportamentos especulativos definindo preços afastados dos fundamentos.
Este tem sido o cenário recente e constante do comportamento da Bovespa, juros e dólar, e no dia de ontem mais intenso.
O índice do dólar no mercado internacional atingiu a mais expressiva alta em 13 meses em relação à cesta das principais moedas mundiais, apoiado por dados apurados pelo ISM evidenciando que o PMI da atividade manufatureira americana subiu para 59,0 pontos em agosto após uma leitura de 57,1 pontos em julho, contrariando projeção dos economistas de queda em agosto para 56,8 pontos.
A repercussão foi bastante forte no mercado global e só não foi maior devido a expectativa em torno do relatório sobre emprego nos Estados Unidos que será divulgado na sexta-feira, que se confirmar recuperação do mercado de trabalho, pode se tornar o fator-chave para decisão sobre a trajetória futura do FED em relação à política monetária.
Na segunda feira haviam sido divulgados dados decepcionantes da indústria manufatureira da China e da zona do euro, criando expectativa que tanto o Banco da China quanto o BCE venham a criar programas de estimulo.
O dado americano impactou nas bolsas americanas que operaram em baixa e o juro do T-Bill 10 anos subiu e até ocorreu um movimento de ajuste no Brasil com a Bovespa em queda, juros em alta e o dólar em alta se alinhando ao exterior.
Contudo, outra rodada de expectativas em torno das pesquisas eleitorais que serão divulgadas amanhã provocou a retomada da alta na Bovespa puxada por Petro e Vale, os juros passaram a devolver a alta da manhã e o dólar devolveu a alta e retomou volatilidade em torno da estabilidade em desalinhamento com os emergentes base de comparação.
Quando ocorre o descolamento dos fundamentos, naturalmente se elevam os riscos.
Na realidade todos os fatores que estão repercutindo o entendimento dos investidores no mercado financeiro estão trazendo para o curto/curtíssimo prazo, eventos capazes de se materializar após inúmeras ações passiveis de maturação no médio/longo prazo e se houver o efetivo reordenamento presumível encaixando todos os vetores e resultando em sucesso.
O quadro macroeconômico brasileiro fortemente deteriorado não será revertido somente com mudança no juro, mas de inúmeras decisões de política econômica envolvendo investimentos em infraestrutura e com foco no aumento da produtividade, e isto não será alcançado no curtíssimo prazo.
As mudanças nas empresas direta ou indiretamente geridas pelo governo que o mercado espera certamente passará por alterações na gestão e na política de preços, que, contudo, não ocorrem de forma tão imediata quanto presumível.
E o dólar precisará antes superar, com elevação de preço, inúmeros obstáculos ainda presentes neste 2º semestre, para depois aguardar que o país reconquiste a credibilidade, atratividade e confiabilidade do investidor estrangeiro com base em novo programa macroeconômico, a ponto de atrair fluxos positivos capazes de promover excepcional saldo positivo acumulativo que permita o desmonte da expressiva intervenção atual da autoridade monetária com os “swaps cambiais” no mercado futuro e também com as posições vendidas dos bancos no mercado à vista.
E isto ainda com o desafio de não utilizar as reservas cambiais, pois se o fizer a autoridade monetária poderá fomentar movimentos especulativos a partir do entendimento de fragilização mais intensa da moeda nacional e da atratividade do país perante investidores estrangeiros.
A reversão da política cambial necessitará de um período longo para viabilização do novo ambiente, para que então seja repensada a forma de administração menos intervencionista e menos à serviço da contenção das pressões inflacionárias.
Exportar não depende somente da taxa cambial, mesmo quando desalinhada como na atualidade, pois, por exemplo, encarece os insumos importados.
O preço do câmbio provoca inúmeros efeitos nos preços da economia, por isso recompô-lo a sua realidade com base nos fundamentos, ainda que discretamente administrado, implica em ações cuidadosas devido às repercussões nos preços relativos.
Antes, notoriamente se pode antever o preço do dólar em apreciação, para depois, quem sabe 2016 termos uma nova forma de gestão pela autoridade monetária.
Por isso, continuamos mantendo o entendimento de que o câmbio não deve repercutir as pesquisas eleitorais, pois o anseio pode estar presente nas palavras, mas a exequibilidade vai exigir tempo. Há uma desafiadora realidade a ser transposta antes de tudo no curto/curtíssimo prazo, não sem afetar o preço da moeda americana.
E mais, toda esta reação é baseada somente em pesquisas eleitorais e anseios manifestados pelos candidatos, por isso os riscos são agravados.
Nesta fase os ativos financeiros de renda variável passam a ser campo proibido para principiantes.