Quando o mercado age contra os fundamentos, atribuindo expectativas acima do razoável a um fato pontual, o risco de mudança brusca se faz presente e é necessário aumentar a dose de cuidado.
É o caso presente que se verifica na formação do preço da moeda americana no nosso mercado de câmbio.
Atribui-se importância demasiada e impactos relevantes no câmbio a partir do anuncio de que a problemática Petrobrás torna publico o seu balanço, evento que vinha sendo protelado por inúmeras causas e nenhuma consideravelmente positiva.
E, se procurarmos razões efetivas para este impacto na formação da taxa cambial, provavelmente são todas de intensidade baixa.
Internamente o governo e alguns setores colocam o fato como de absoluta redenção do país às observações dos estrangeiros. Mas a coisa não é bem assim.
A agência de avaliação de risco Moody´s disse que a publicação do balanço da estatal antes do final de abril é um fato positivo. A agência que tem sido austera em suas avaliações e que em fevereiro retirou o grau de investimento da estatal chama a atenção para o fato de que alguns investidores de grande porte possuem regulamentos que os proíbem de manter recursos em empresas sem o grau de investimento. Desta forma vê a saga da Petrobrás deve perdurar, ainda que menos agudos.
Por outro lado, a BBC , através seu correspondente em Washington, DC, nos Estados Unidos, destaca que a divulgação de balanço não deve alterar a ação contra a mesma nos Estados Unidos. Adita ainda que investidores entendem que a melhora na imagem da empresa depende do fortalecimento de seus padrões de gestão, alguns indo à ironia em afirmar que a divulgação do balanço “é o mínimo que se espera da Cia” e que os dados poderão ser revisados futuramente caso sejam descobertos novos desvios na empresa.
Analistas estrangeiros especializados em países emergentes destacam: “Uma melhora na imagem da Cia depende do fortalecimento de seus padrões de gestão” e mais, “Ela continuará a ser considerada uma empresa energética nacional onde os interesses do governo vêm antes dos seus outros acionistas (privados).
O que deve efetivamente fundamenta o comportamento do preço da moeda americana no nosso mercado são os dados concretos e as perspectivas em torno do cenário.
O Banco Central do Brasil adotou nova metodologia para as contas externas e isto o levou a revisão nas projeções para 2015, além de ter revisado o déficit em conta corrente de 2014 para exuberantes US$ 103,9 Bi contra US$ 91,2 Bi na metodologia anterior, representando 4,43% do PIB.
Os investimentos Estrangeiros Diretos (IED´s) passaram a se chamar Investimento Direto no País (IDP), com a conta passando a incluir reinvestimentos de empresas feitos no Brasil, bem como o retorno de investimentos brasileiros no exterior. Pela nova sistemática o país fechou 2014 com IDP de US$ 96,851 Bi contra um IED de US$ 62,495 Bi.
Em março o déficit em contas correntes foi de US$ 5,736 Bi e para abril o BC está projetando US$ 6,0 Bi. No ano até março o déficit acumulado é de US$ 25,394 Bi e a estimativa é de US$ 84,0 Bi ou 4,42% do valor do PIB.
Este é um número expressivo para o qual o país não deve captar financiamento suficiente, e isto sim, é um dos pontos que deve impactar nas perspectivas para formação do preço da moeda americana no nosso mercado.
A estimativa do BC de saldo de balança comercial embora baixo é desafiador visto que até a 3ª semana de abril o resultado está negativo em US$ 5,665 Bi.
O fluxo cambial vem se mantendo positivo ancorado, principalmente, nas entradas financeiras que contribuem com US$ 7,9 Bi para o total de US$ 9,1 Bi. Acredita-se que grande parte deste ingresso financeira se trate de capital especulativo e há sinais de tendência de arrefecimento destes ingressos, embora o país ofereça elevada remuneração, pois sendo oriundos de operações de “carry trade” os investidores começam a ver riscos em perspectiva que podem impactar no preço do real, sendo que o preço desequilibrado do momento trás insegurança.
Ademais, deve ser considerado o fato de que há um expressivo de exportações ainda não embarcadas, mas com câmbio já fechado, o que impacta na oferta, e um expressivo volume de importações já desembaraçadas e ingressadas no país sem câmbio contratado para pagamento, o que impactará na demanda.
A busca de conceder-se importância relevante ao problema em torno da Petrobrás e seu balanço e procurar-se correlacioná-lo com a formação do preço do dólar, afastando a formação do seu preço dos fundamentos presentes pode inibir a evolução das exportações, reduzir a atratividade pelo país do capital especulativo, retardar decisões e, deixar em aberta a possibilidade de mudanças abruptas no preço.