Apreciação substantiva do preço da moeda americana no curto/curtíssimo prazo com viés de queda no longo prazo consubstanciada em perspectivas que o mercado financeiro acredita existir em caso de vitória oposicionista na eleição presidencial, seria o comportamento mais coerente, a exemplo do comportamento em relação aos papéis de longo prazo – as NTN-Fs (prefixadas) – que apresentam queda nas taxas de juros e estão sendo trocados principalmente por LTN´s mais curtas, como destacou em matéria ontem o jornal Valor.
A Bovespa já assumiu comportamento de subir no boato e realizar preventivamente antes do fato, para assim renovar o movimento puramente especulativo ancorado em ações de empresas que tenham influência direta ou indireta do governo.
O momento atual não dá condições de sustentabilidade ao real apreciado com base em pesquisas eleitorais, e se assim ainda permanece é como consequência da intervenção do BC, que, todavia, acreditamos que irá se fragilizar na medida em que se acentue o déficit no fluxo cambial e ocorra aumento de pressão de demanda no mercado de câmbio à vista.
É um crasso erro ancorar no curto/curtíssimo prazo apreciação do real com base em pesquisa eleitoral, e, a rigor, caso se confirme a hipótese que vem sendo considerada pelo mercado financeiro, não deve ocorrer simplesmente ao definir novos nomes de governo, pois os arranjos em torno de uma nova dinâmica de gestão em torno do câmbio dependem de inúmeras ações de governo na economia, passando inclusive e necessariamente pela recuperação da atratividade, credibilidade e confiabilidade dos investidores externos no país.
Serão, caso a expectativa do mercado financeiro venha a se confirmar, inúmeros vetores que precisarão convergir positivamente para que, então, na ponta o câmbio passe a deixar de ser utilizado como coadjuvante da política monetária e perca seu efetivo papel.
A reação causa-efeito que se espera da indústria praticamente aniquilada pelo câmbio e pela remuneração aos empregados em parâmetros acima da produtividade, que desaguou no desestimulo ao investimento e a perda de competividade, não será obtida no curto prazo.
O país está em recessão técnica o que propaga a probabilidade de geração de desemprego, que afeta a renda e provoca a retração do consumo, já bastante afetado pelo expressivo endividamento das famílias e inadimplências.
A retomada da atividade econômica somente se fará com a capacidade do governo que assumir motivar investimentos massivos na infraestrutura do país, por parte de nacionais e, muito acentuadamente, de estrangeiros.
O câmbio é só um dos inúmeros vetores, mas provavelmente será dos últimos a serem alinhados, portanto, não há por que trazer para o curto/curtíssimo prazo perspectivas que possam existir para longo prazo.
Este 2º semestre sinaliza forte tendência de perda liquida de fluxos cambiais, situação que deve ir se acentuando nos próximos meses com a intensificação de saídas de recursos e retração dos ingressos.
O mês de agosto findo registrou um fluxo cambial negativo de US$ 3,056 Bi, dos quais US$ 3,556 Bi consolidados na semana última de 25 a 29, sendo US$ 2,040 Bi negativo comercial e US$ 1,016 Bi negativo financeiro. Foi o pior resultado do mês e pode estar sinalizando o inicio da acentuação dos fluxos negativos.
No ano o fluxo cambial está negativo em US$ 700,0 M, resultante de US$ 2,467 Bi positivo comercial e US$ 3,167 Bi negativo financeiro. Destaque-se que o fluxo comercial tem contado com exportações de petróleo e plataformas de petróleo, o que demonstra a fragilidade de nossa balança comercial.
Relevante destacar que o país teve ingressos de US$ 484,326 Bi (US$ 150,652 de exportações e US$ 333,674 Bi de financeiros) e saídas de US$ 485,026 Bi (US$ 148,186 Bi de importações e US$ 336,841 Bi de financeiros), o que determinou o fluxo negativo liquido no ano de US$ 700,0 M.
Além disto, desde o ano passado os bancos vêm carregando em posições vendidas montante de fluxo insuficiente, ancoradas em linhas de financiamentos em moeda estrangeira. Atualmente o montante é de US$ 18,826 Bi, equivalente a 4,96% das reservas cambiais brasileiras que estão em US$ 379,357 Bi, que “lactu sensu” se considerarmos que é uma exposição negativa no mercado à vista reduz as reservas cambiais em termos efetivos a US$ 360,531 Bi, visto que a rigor caberia ao BC suprir a liquidez do mercado à vista, em especial, quando se convive com um contexto que predomina desde 2012 sem que o país consiga volume de fluxo cambial para prover-lhes de cobertura e não se vislumbra esta possibilidade no curto/médio prazos.
Com uma sustentável tendência de manutenção e ampliação dos fluxos cambiais negativos, bancos dando suporte à liquidez no mercado à vista com posições vendidas ancoradas em linhas de financiamentos em moeda americana e o BC praticando crescente e irreversível, pelo menos no cenário atual, intervenção pelo mercado futuro com excepcional estoque “em ser” de swaps cambiais de montante em torno de US$ 94,0 Bi, e, considerando-se ainda, que soluções para reversão do “status quo” atual do câmbio enseja tempo e enfrentamento de situações adversas, não há como identificar-se coerência na apreciação a que é submetido o real.
As reservas cambiais brasileiras absolutamente sem condições de serem elevadas, mas com riscos de eventuais reduções, tende a ser preservada ao máximo pelo BC até para evitar movimentos inoportunos sobre o preço da moeda por especuladores, o que leva a crer que os bancos continuarão a serem os geradores da liquidez no mercado à vista.
Há, contudo, fatores que podem afetar esta estratégia, como a evolução das posições vendidas a montantes muito elevados que tenham repercussões por representar endividamento de curto prazo e/ou a ocorrência de perda de ganho de arbitragem entre a renda do cupom cambial e o custo das linhas de financiamentos em moeda estrangeira que ancoram as posições vendidas.
No câmbio não conseguimos vislumbrar uma trajetória reta e imediata para que consolidem os anseios presentes, parecendo mais razoável admitir-se que precisará piorar antes para depois melhorar.
Com tantas atipicidades provocadas por expectativas em torno do contexto eleitoral, o que desvincula preços de ativos financeiros dos seus fundamentos, até a SELIC que é objeto da reunião do COPOM que se finaliza hoje perdeu importância.