Aposta no dólar acima de R$ 3,80/R$ 4,00 é de alto risco! Brasil é outro em 2018!

Há um círculo vicioso no país que acentua o viés especulativo sobre o preço do dólar toda vez que ocorre o agravamento de expectativas de impacto, mas, desta vez, a área cambial do país está absolutamente tranquila, porém sendo uma área de baixo entendimento dos seus mecanismos, a prática contumaz se repete e pode provocar perdas por se revelar, desta vez, má aposta.

Costumamos asseverar que nem tudo que se vê ou observa no câmbio é exatamente o que parece, e mais, que o mercado financeiro brasileiro, nos segmentos mais sofisticados, não é para principiantes.

O Brasil não tem neste momento qualquer risco de crise cambial, por mais contraditório que possa parecer, o câmbio é o único setor onde deve pairar a tranquilidade, após a taxa cambial ter se ajustado à realidade efetiva do país e dos riscos externos em perspectiva, deixando a irrealidade do preço em torno de R$ 3,30 para a ajustada em torno de R$ 3,80, com discreta volatilidade face à pontuais momentos de estresse, porém sem exacerbá-la de forma sustentável até a proximidade de R$ 4,00, hipótese que consideramos ser ultrapassada na eventualidade, remota, do ex-Presidente Lula vir a conquistar o direito de ser candidato à sucessão presidencial, o que é considerada hipótese remotíssima.

Acirramentos em torno da disputa eleitoral, letargia da atividade econômica, preocupante situação fiscal que pode vir a determinar novas reduções nos ratings do país, desemprego, queda de renda e consumo, retração na propensão de investimento por parte do empresariado, etc, etc…, tudo isto que estava contido e não precificado com o preço de R$ 3,30 passou a sê-lo no preço de R$ 3,80, por isso não consideramos que o real tenha sido das moedas mais desvalorizadas do mundo face aos fatos mais recentes no mercado internacional, porque na realidade foi ajustada para o seu preço efetivo com uma correção em torno de 15, no nosso entender, por ser insustentável a sua administração naquele patamar enganoso que não sancionava realidades do país, porém muito acreditado, visto que era altamente contributivo para a contenção inflacionária e manutenção do juro em piso reduzido.

Um país com reservas cambiais da ordem de US$ 37,0 Bi com enorme problema na área externa e com 1,67% de déficit em transações correntes e sem espaço para utilização de instrumentos operacionais próprios e necessários para proporcionar proteção e liquidez as demandas cambiais, que para tanto utilizava títulos com correção cambial porém insuficientes e sem lastro confiável, como em 2002, não pode ser comparado com o Brasil de hoje com reservas cambiais substantivas da ordem de US$ 380,0 Bi com déficit em transações correntes da ordem de 0,7% (a Turquia com quem procuram nos associar tem 5,4%), com enorme diversidade de instrumentos para fornecer “hedge” (swaps cambiais) aos passivos em moedas estrangeiras (já o fez em torno de US$ 70,0 Bi) e apto a gerar a liquidez que for necessária para o mercado à vista, caso haja demanda por moedas estrangeiras para saída de recursos do país, mediante o fornecimento de linhas de financiamento em moedas estrangeiras com recompra aos bancos.

2018 nada têm a ver com a situação vulnerável e preocupante de 2002 na área cambial.

Portanto, o dólar não é o ativo para, desta vez, ser o foco da especulação e tensões em torno das incertezas em perspectiva.

A situação da economia e a dívida fiscal, estas sim, são em 2018 muito diferentes e piores em relação a 2002.

Na situação de 2002, algo como a recuperação de 0,5% no PIB era suficiente para que a atividade econômica estivesse no rumo certo e não havia dívida fiscal, havia equilíbrio.

Então, as perspectivas atuais são preocupantes no entorno da capacidade do novo governante de redinamizar a atividade econômica e buscar soluções para a caótica situação fiscal do país, que exigirá reformas com grande contundência, de forma que ocorram sinais de recuperação do emprego, renda e consumo.

É a baixa convicção em torno dos programas partidários dos candidatos á sucessão presidencial que fomentam o estresse e as tensões presentes ancoradas nas dúvidas e incertezas.

Desta forma, o foco deve estar centrado na atividade econômica e o destempero com a fragilidade das expectativas deve ser um fator impactante no mercado acionário e não no câmbio.

A Bovespa claudica, mas ainda não sustenta um viés de “sell off” e isto decorre do fato dos investidores estrangeiros estarem todos protegidos por “hedge”, o câmbio não os preocupa, e por enquanto estão sustentando suas posições na ações, com baixo volume de saída como se vê pelo fluxo cambial e não pelas informações de intensificação de investimentos, mas esta postura poderá ser alterada no curto prazo como ação defensiva.

Por tudo isto é que consideramos que ocorreu um movimento especulativo, sem fundamentos críveis, mas que sempre ganha eco na mídia e nos setores menos familiarizados com o câmbio e suas nuances no país. Valendo-se da “tradição da memória” o foco sobre o câmbio foi acentuado, atribuindo-lhe o conceito de “porto seguro” no momento de incerteza, mas desta vez já foi adotado neste conceito por detentores de passivos em moeda estrangeira que demandaram, em momento anterior, algo em torno de US$ 70,0 Bi como proteção cambial fornecida na forma de “swap cambial” por parte do BC.

Por assim entender, acreditamos que o preço do dólar retorne ao intervalo de R$ 3,80 a R$ 4,00, sem que haja motivos ou razões para que o preço se afaste destes parâmetros, salvo se o candidato ex-Presidente Lula conseguir superar os impedimentos legais e se tornar efetivo.

O BC corretamente não intervém porque não há razões ou motivos para que o faça, afinal os movimentos especulativos ou reacionários erráticos estão entre os fatores imponderáveis, e assim não cabe a autoridade monetária buscar, sequer para conter a volatilidade, visto que seria absolutamente ineficaz.

O BC somente deve intervir se a volatilidade decorrer de mutações contínuas de fluxos efetivos ou por demanda de liquidez, seja por proteção cambial ou por demanda efetiva no mercado à vista.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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