O déficit em conta corrente atingiu US$ 3,953 Bi em junho, mais baixo do que o projetado pelo BC, algo em torno de US$ 5,4 Bi, para o mês. Melhorou em relação ao mês de maio que registrou US$ 6,42 Bi e ante junho de 2012 quando atingiu US$ 4,393 Bi.
Mas é importante observar que houve em junho repatriação de US$ 4,949 Bi em empréstimos “intercompanies” concedidos por empresas brasileiras a suas filiais no exterior, o que impactou forte na redução do déficit em conta corrente, compensando o volume saído de US$ 3,120 Bi e deixando um saldo de US$ 1,83 Bi, acontecimento atípico pela concentração do valor repatriado num único mês.
Observada esta ocorrência podemos entender melhor a razão do valor do déficit em junho ter ficado abaixo das projeções do BC. Houve uma razão pontual.
A despeito desta redução, a queda do déficit em transações correntes de maio para junho foi pouco expressiva, passando de US$ 72,905 Bi para US$ 72,465 Bi, representando agora algo em torno de 3,17% do PIB estimado pelo BC, que havia manifestado projeção deste déficit para o ano de 2013 em US$ 79,0 Bi, algo como 3,46% do PIB, enquanto o mercado financeiro projeta US$ 75,0 Bi, algo em torno de 3,28%.
Por outro lado, os IED´s líquidos atingiram no semestre o montante de US$ 30,027 Bi e nos últimos 12 meses US$ 65,569 Bi, equivalente a 2,87% do PIB. O BC estima para este ano US$ 65,0 Bi equivalente a 2,845% do PIB e o mercado financeiro em US$ 60,0 Bi equivalente a 2,63%.
Pelas projeções do mercado financeiro há um “gap” negativo de 0,65% e pelas do BC 0,62% a ser complementado pela balança comercial e fluxos financeiros, algo mediano em torno de US$ 15,0 Bi.
Se considerarmos que a balança comercial fechou o 1º semestre negativa em US$ 3,09 Bi, esta necessidade se amplia para US$ 18,0 Bi.
O mercado financeiro, conforme Boletim Focus, prevê um superávit da balança comercial de US$ 5,85 Bi, em linha revisional semanal cadente, que já parece distante da realidade possível. Por outro lado, a AEB (Associação dos Exportadores do Brasil), por seu presidente, já projetou saldo zero ou negativo como provável para este ano.
O desafio amparado pelos números e enfrentado pelo país é o de captar, via comércio exterior e/ ou ingressos para o mercado financeiro, consideradas estáticas as projeções para IED´s e saldos em transações correntes considerados no exercício, é da ordem de US$ 18,0 Bi líquidos no 2º semestre.
Não é pequeno e está mais para o improvável do que para o provável, pois embora o mercado internacional ainda detenha grande liquidez, o Brasil não atrai fortemente investidores estrangeiros como outrora, mas merece observação o fato de junho ter registrado ingresso de US$ 6,567 Bi direcionados a títulos de renda fixa, precisando ser mais bem avaliado nos meses subsequentes se foi uma ocorrência pontual ou se poderá haver um incremento neste fluxo de recursos para o país.
Este contexto deixa evidente que o Brasil já não consegue fechar o financiamento do seu déficit em transações correntes de forma tranquila e poderá ter a necessidade de utilizar parte das suas reservas cambiais para complementar o financiamento.
Esta percepção é que coloca em perspectiva de alta sustentável o preço da moeda estrangeira, pois mesmo que consiga com o estímulo para que os bancos utilizem suas linhas externas e ancorem posições vendidas para atender esta demanda, não passará desapercebida esta nova fragilidade do país.
Segundo dados divulgados pelo BC, com o fluxo cambial negativo em US$ 2,4 Bi até o dia 19, as posições “compradas” dos bancos naquela data já estavam reduzidas a US$ 500,0 M, o que é muito pouco.
Provavelmente, agora, já estejam “vendidos”, razão pela qual se valendo da melhora de fluxo de recursos para a BM&FBovespa, forçaram a apreciação do real até R$ 2,22 para comprarem na baixa. Mas este é um momento pontual e não uma tendência.
Não se pode descartar influência externa na apreciação do real decorrente de operações montadas nos balcões internacionais e que acabam afetando o comportamento do preço localmente, sem que ocorra ingresso de divisas, mas que são passageiros e pontuais.
O fato de ter reservas cambiais atenua riscos, mas de forma alguma encobrirá a realidade de que o país vive um novo momento, para pior.
O país precisa, também, otimizar os controles sobre as saídas de recursos para o exterior.
Informações veiculadas recentemente apontam para a queda de saída de turistas brasileiros, em face à alta do preço da moeda americana, contudo, os gastos atribuídos a rubrica de turismo continuam demonstrando vigor.
Os dispêndios nesta rubrica no 1º semestre atingiram US$ 12,3 Bi ante US$ 10,7 Bi no mesmo período do ano passado. Liquidamente, considerando o que aqui foi deixado pelos turistas estrangeiros, a saída de recursos do país foi de US$ 8,849 Bi e a projeção para o ano é de US$ 16,7 Bi, quase o mesmo montante que o país esta precisando para fechar a sua necessidade de financiamento do déficit em transações correntes.
Entendemos que é preciso averiguar se tudo que está sendo registrado nesta rubrica é efetivo turismo ou se estão ocorrendo distorções. Da mesma forma, não há razão plausível para que os cartões “Travel Money” não sofram incidência do IOF de 6% tendo tratamento diferenciado em relação aos gastos com cartões de crédito comuns, já que se prestam as mesmas coisas no exterior.
Evidentemente não é desejável que se criem restrições ao turismo, mas sim, que as normas sejam simétricas e que eventuais distorções sejam eliminadas, corrigindo determinadas liberalidades no dispêndio de moeda estrangeira criadas num momento de “sentimento de riqueza”, que levou o país a exacerbar em concessões e desmonte de controles eficazes.
Da mesma forma que recentemente revisamos grande parte das normas restritivas ao ingresso de recursos externos, é necessário que se faça a revisão das regras de saídas ou que, pelo menos, se aperfeiçoe a acurácia dos controles.
Em tempos de “ressaca” é preciso reavaliar todas as regras de ingressos e saídas, afinal, temos de conviver com a realidade do país.