Desde muito temos repetidamente destacado que há um relevante hiato entre o anseio com que são prognosticados resultados para a economia brasileira e a sua realidade presente e prospectiva.
A grande maioria manifestava a percepção de crescimento de 1% no 3º trimestre na comparação com o 2º trimestre, colocando já a economia em ritmo de 4% ou mais de crescimento anualizado, com alguns chegando a 1,2%, enquanto o Ministro Mantega situava seu prognóstico para de 1,0% a 1,3%. Tudo parecia resolvido, enquanto o mundo convive e deve continuar convivendo com uma crise complexa e que inibe os crescimentos dos países desenvolvidos, afetando diretamente o desempenho do emergente maior, China, o Brasil se via crescendo à margem disto tudo, ancorado numa politica de estimulo ao consumo via crédito, com baixa propensão ao investimento.
Mas, como costumamos afirmar, números são frios e não tem amigos, e, os números divulgados pelo IBGE relativos ao 3º trimestre trás a todos um choque de realidade ao apontar o crescimento de tão somente 0,6% na comparação com o 2º trimestre.
O dado apurado ficou abaixo até do indicativo do IBC-Br do Banco Central do Brasil, considerado prévia do PIB, e que indicava crescimento de 1,15% neste período.
No acumulado do ano o PIB cresce 0,7% ante igual período do ano passado. Já no acumulado em 4 trimestres o PIB cresce 0,9%.
A indústria cresceu 1,1% no 3º trimestre ante o 2º e ajudou a atividade econômica, contudo, neste período não houve a contribuição do setor de serviços que ficou estável e a agropecuária cresceu 2,5%. Destaque-se que o crescimento da indústria mostrou-se dependente da redução do IPI para automóveis, que foi o que a impulsionou, mas mesmo assim se comparado com o mesmo período do ano passado houve recuo de 0,9%.
A formação bruta de capital fixo na comparação do 3º trimestre frente ao 2º e que representa os investimentos em máquinas e equipamentos e na construção civil caiu 2%. Os investimentos atingiram no 3º trimestre 18,7% do PIB, decepcionante.
No comércio exterior, as exportações cresceram tão somente 0,2% e as importações retrocederam 6,5% na comparação do 3º com o 2º trimestre.
Os números consolidam as projeções de crescimento do PIB em torno de 1,5% ou menos este ano e deixam preocupações reais acerca das projeções excessivamente otimistas para 2013.
O governo tem buscado criar incentivos, mas inegavelmente não tem condições de realizar a politica contra cíclica necessária, que envolveria uma complexidade de incentivos mais abrangentes na economia brasileira com desonerações para as quais não há folgas orçamentárias para dar suporte.
Parecem-nos excessivas também as projeções presentes de IED´s em 2013, a crise internacional deve provocar contração, além de vir despontando outras economias emergentes com maior atratividade e oportunidades e grau menor de intervencionismo do governo. Investimentos em renda fixa e variável e balança comercial também deverão ter performance menor do que neste 2012.
Não devemos ter um 2013 com folgas no fluxo cambial e, o BC e Ministério da Fazenda precisam agir fortalecendo este foco, antecipando-se a esta ocorrência previsível revertendo “amarras” impostas anteriormente, especialmente flexionando o prazo dos empréstimos com tributação de IOF de 0,6% retrocedendo-o a 1 ano e estendendo o prazo para os pagamentos antecipados as exportações de 360 dias para 540 dias ou 720 dias.
Isto nos faz acreditar que o BC poderá rever de forma frequente a banda cambial, pois este é o instrumento que dispõe mais a mão para incentivar a indústria aumentando, mesmo que até artificialmente sua competitividade no comércio exterior, ao estilo Delfim Neto no passado, e da mesma forma dando-lhe força no mercado interno ao encarecer o produto importado.
A indústria precisará de forte e ampla e geral desoneração e incentivos para retomar investimentos e aumentar a oferta, este é o caminho, pois incentivar o consumo com crédito sem resposta do setor produtivo resulta em inflação forte e aumento da importação.
No mercado de câmbio hoje temos forte pressão à qual o BC, acreditamos, não deve reagir visto na segunda-feira ocorrer o vencimento de 30.000 contratos de “swaps cambiais reversos” que deverá “quebrar” a pressão presente. O comportamento do preço da moeda americana hoje não é indicativo de que a banda esta livre acima de R$ 2,10, mas sim da ocorrência de fato pontual.
Como é final do mês, há também uma disputa entre “comprados” e “vendidos” no mercado futuro/derivativos e isto ajuda a pressão.
Outro fator é a queda do fluxo cambial, valendo lembrar que os bancos ainda devem estar “vendidos” no mercado a vista, e isto pressiona a formação do juro dólar no cupom cambial, pressionando a taxa cambial no mercado futuro com reflexos no mercado à vista.
Evidentemente, o BC não é “prisioneiro do mercado” neste quadro de hoje, se optar por não ser “paciente” com a alta de hoje e aguardar o vencimento dos “swaps cambiais reversos” na segunda, poderá fazer uma oferta de “swaps cambiais” hoje para um vencimento futuro e na segunda feira, ao invés de liquidar os “swaps cambiais reversos” promover a rolagem.
Por enquanto, ousaríamos indicar que exportadores “vendam hoje” e importadores “comprem na segunda”.