A Grécia ainda perdura como centro das atenções até que o Parlamento aprove o plano de contenção de Euros 28 Bi, condição indispensável para que se habilite ao recebimento de ajuda. A decisão ocorre na 4ª feira, num ambiente conturbado…
A Grécia ainda perdura como centro das atenções até que o Parlamento aprove o plano de contenção de Euros 28 Bi, condição indispensável para que se habilite ao recebimento de ajuda. A decisão ocorre na 4ª feira, num ambiente conturbado socialmente com greves e manifestações contrárias da população.
Como o papel tudo aceita, ninguém espera que, a despeito da reação popular, não seja aprovado e que a Grécia, então, receba os recursos emergenciais dos quais está dependente. Cumprir o plano é uma outra história a conferir posteriormente, em outra rodada, pois a crise grega não é uma questão resolvida.
Por inevitável, os bancos internacionais tendem a renovar suas aquisições de papéis da Grécia, transfigurando como “ato de boa vontade”, um sofisma ante a absoluta necessidade de evitar o pior.
Isto mascara a situação, não “aperta” a Grécia a ponto de “roer a corda” e não precipita problemas no sistema financeiro, em especial europeu, sem contar com os respingos em outros países ditos desenvolvidos.
O “paciente”, a Grécia, continuará na UTI, já que sua situação caótica será contornada, mas está distante de ser resolvida, e, a partir do modelo, fica a tipificação da solução para outros periféricos e não tão periféricos integrantes da eurozona, caso demonstrem a mesma fragilidade grega.
No fundo, é tudo um “faz de conta” evitando-se o pior, já que não há saídas confiáveis e exequíveis sem moratória, que, no entanto, precisa ser evitada de toda forma.
A OCDE vaticinou que o mundo deverá acostumar-se com crises mais frequentes, mas parece que a visão com maior rigor implica em acostumar-se com um estado perene de crise, visto que o “tamanho do problema” instalado na economia mundial tende a ser duradouro, por muitos e muitos anos.
As economias maiores, tidas ou tratadas como desenvolvidas, têm um sério e quase incontornável problema de estoque de dívida, causada por má gestão e erros estruturais de controles como na eurozona, onde se estabeleceu limite para endividamento dos partícipes sem, contudo, criar instrumentos de monitoramento fiscalizatório.
E os tidos como emergentes têm um sério problema em perspectiva de fluxo, pois hoje suas moedas são valorizadas pelo fluxo positivo de divisas, o Brasil, em especial, pela atratividade de sua taxa de juro combinada com o baixo risco, mas que, pode sofrer perda da intensidade do mesmo, primeiro, pelo recrudescimento do crescimento e posteriormente, pela melhora e alteração das economias desenvolvidas, que poderão determinar o refluxo dos capitais especulativos ingressados, e que no Brasil, representam parte substantivas das reservas cambiais do país.
As bolsas asiáticas, europeias e americanas reagem positivamente às perspectivas em torno da Grécia. Nos Estados Unidos a melhora decorre também do fato do S&P Case Shiller ter anunciado que os preços das casas subiram pela 1ª vez em 8 meses. Por outro lado, o Conference Board indicando a confiança dos consumidores americanos apontou 58,5 pontos, contrário à projeção que era de 60,8 pontos.
O Brasil, que tem sido foco do mundo, valendo lembrar que ainda tem “rating” inferior a Espanha e Itália, países com dificuldades fiscais, precisa estar atento, visto que já não é unanimidade e começa a ser melhor observado pelo que não fez do que pelo que fez, e este é um quadro que o sujeita a muitas críticas pontuais no mercado global.
O déficit em transações correntes crescente, representando algo como 2,5% do seu PIB, ainda é financiável, mas é preciso ter cuidados ao abordarmos o fluxo de IED´s, visto que o BC ainda insiste em agregar nesta rubrica estatística os empréstimos “intercompany”, na presunção de que sejam antecipações de investimentos futuros, quando na realidade podem estar só “passeando” pelo nosso mercado financeiro na busca de rentabilidade não alcançável em nenhum outro pais no mundo.
Esta é uma estratégia não desmontável com tributação, pois há “roteiros de fuga” para evitá-la se o ingresso efetivamente ocorre com a pretensão de tornar-se investimento, como pressupõe a autoridade brasileira em suas estatísticas. Se for verdadeira a hipótese acreditada pelas autoridades, então porque não restabelecer a viabilização de ingressos já como “investimentos – futuro aumento de capital”, desautorizado há já alguns anos, não permitindo, contudo, retorno devendo obrigatoriamente tornar-se investimento, para dar confiabilidade de que está considerando um IED efetivo e não um pressuposto, que poderá não ser confirmado.
Maio trouxe um robusto aumento no déficit de transações correntes da ordem de US$ 4,1 Bi, maior desde maio de 1947 e o dobro do verificado em maio de 2010. Nos primeiros cinco meses já acumula US$ 22,2 Bi, mas o governo, embora com a curva ascendente, continua validando sua projeção de US$ 60,0 Bi no ano.
Os brasileiros continuam gastando forte no exterior, o governo criou o IOF arrecadatório de oportunidade e, como previsto, não houve contração, já que os turistas brasileiros passaram a utilizar largamente os cartões com saldo carregado, não objetivados pelo tributo, e como sempre uma parte mínima em dinheiro. Mas, as diferenças de preços no exterior são tão sobejamente atraentes que mesmo as compras com cartões de crédito sujeitos ao tributo ainda se revelam interessantes.
O mercado financeiro brasileiro não vem atenuando fortemente as projeções de retração da inflação, conforme evidenciou o Boletim FOCUS, mas, ainda que discretamente, segue projetando um crescimento menor do PIB, já abaixo de 4% para este ano.
Há indicativos de que o nível de endividamento da sociedade brasileira está elevadíssimo, já com alto grau de inadimplência, o que sugere que a demanda comece a retroceder.
No nosso mercado de câmbio o viés é para apreciação mais acentuada do real, visto que há predomínio dos “vendidos”, sendo este o ultimo mês em que a Ptax será apurada pela metodologia de média ponderada, o que viabiliza a sua manipulação, já que a partir do mês de julho a média será puramente aritmética apurada de 4 tomadas diárias pelo próprio BC junto aos “dealers”.
Já se insinua neste direcionamento, mas não se acentua em razão do BC estar realizando oferta de “swaps cambiais reversos” para rolagem de posição vincenda, e este fato motiva os “players” até a elevarem um pouco o preço da moeda americana para obter o “fixing” mais alto no registro, ou na pior, como é o caso, não apreciar o real tão intensamente.
Contudo, passado este momento pontual hoje e com o anúncio da decisão favorável à Grécia amanhã, espera-se que na quinta (dia 30) a apreciação do real seja bem fortalecida, a partir do interesse dos “vendidos”, os “hedge funds”, já que os bancos estão relativamente equilibrados entre as posições “compradas” no mercado de derivativos e “vendidas” no mercado físico de câmbio.