Estamos passando de 2011 para 2012 com incertezas muito marcantes, que nos faz desconfiar que há otimismos excessivos por aqui, que podem estar nos afastando da necessária observação sobre a realidade que teremos, com…
Estamos passando de 2011 para 2012 com incertezas muito marcantes, que nos faz desconfiar que há otimismos excessivos por aqui, que podem estar nos afastando da necessária observação sobre a realidade que teremos, com grande probabilidade, que conviver.
A cena global aprofundou sua crise e complexidade, mas ainda não descarregou por aqui seus efeitos de forma semelhante a sua fase inicial em 2008/2009. Certamente somos hoje um país com atividade econômica com menor tendência a intensificar seu vigor, quanto naquela oportunidade, e, este pode ser o “x” da questão que não estamos considerando com o peso certo, parecendo que acreditamos que seja fácil fazer um “bis” do que já foi feito e obtermos os mesmos resultados.
O país tem atualmente maiores volumes de recursos no seu arsenal defensivo perante à crise. Tem mais depósitos compulsórios e mais reservas cambiais que poderão ser utilizados de forma estratégica, como já o foram em 2009, para recompor os níveis de crédito interno e aquecer a demanda interna.
Mas a questão é não superestimar-se demasiadamente a capacidade do nosso mercado interno, que, eivado de demandas reprimidas e com facilidades de acesso ao crédito, pode sustentar 60% do nosso PIB na primeira fase da crise. Como grande parte da demanda foi movida a crédito de longo prazo, hoje pode haver menor demanda reprimida, e há maior grau de endividamento da população, num ambiente em que a curva de geração de emprego é cadente, e, a inflação nos itens mais consumidos pelas classes ascendentes corroeu parte da renda familiar de forma mais intensa, pontos que impactam negativamente na propensão ao consumo.
O tripé da crise, Europa, com ênfase à eurozona, Estados Unidos e os reflexos consequentes no desempenho da China, a grande processadora de insumos dos emergentes e fornecedora de produtos acabados aos desenvolvidos, deixa evidente que o choque externo é recessivo e deflacionário.
No nosso entender a Europa não terá mais espaços para decisões protelatórias, devendo assumir atitudes com enfrentamento direto da crise, o que imporá medidas de forte impacto negativo às populações, e um risco considerável de ocorrência de recessão econômica. A Europa equivale a um Estados Unidos em termos de pujança econômica, e, se entrar em recessão, as consequências comerciais e financeiras para o restante do mundo não serão pequenas.
Nos Estados Unidos “tudo deverá continuar como antes” até as eleições presidenciais, e, se o eleito tiver apoio no Congresso, o que deixa poucas perspectivas de ações mais efetivas buscando a superação da crise econômica a partir de 2012. A atividade econômica deverá continuar anêmica e o desemprego grandioso para um país de tamanha importância global.
A China pagará os pecados de não ter transferido renda da riqueza conquistada para seus nacionais, e, em razão disto, seu consumo interno representar tão somente 35% do seu PIB. Como é uma grande processadora de produtos primários em secundários e terciários e dependente de suas exportações, sentirá os efeitos da queda brusca de atividade economia na Europa e Estados Unidos.
Temos tido muito cuidado quando abordamos o fluxo cambial para 2012. Não temos cultivado o mesmo otimismo que as projeções do Banco Central do Brasil e nem mesmo do FOCUS.
Como nossa percepção é de agravamento da crise externa, não conseguimos identificar possibilidade de fluxos intensos de IED´s para o Brasil, nem mesmo de investimentos para renda variável, visto que com a perspectiva de crescimento em 2012 contido aos parâmetros de 2011, não vemos atrativos para os investidores estrangeiros virem para a BOVESPA, até porque, com um cenário recessivo e deflacionário da crise externa, não há como as “commodities” não terem seus preços deprimidos, e as empresas ligadas a este segmento tem um peso enorme no comportamento da bolsa brasileira.
O crédito deverá ficar muito restrito e seletivo na Europa e mesmo nos Estados Unidos, e, empresas multinacionais tenderão a preservar liquidez ao máximo, buscando formar um colchão, e isto as transformará muito mais em requisitoras de recursos do que investidoras fora de sua base principal, o mesmo acontecendo com demais investidores, que darão preferência à liquidez e segurança em detrimento da rentabilidade.
No último semestre ainda captamos US$ 16,5 Bi, mas devemos considerar que a expressão da cifra de US$ 35,7 Bi do 1º semestre, foi quase todo consolidado no 1º trimestre e ingress
ou com prazo curto; quase que com destino certo para arbitrar taxa de juro especulativamente, o que foi contido pelo governo com a imposição de IOF e prazos mais extensos para ficarem isentos.
Não nos foge à percepção, que, o Brasil, ao invés de destino de recursos, possa passar a ser fonte, com as coligadas das multinacionais no país captando recursos aqui localmente, e os remetendo ao exterior na forma de disponibilidade, e, através a estruturação de operações de lançamentos de papéis pelas matrizes, com bancos fazendo somente o “fronting” mediante um “fee” na emissão dos mesmos, adquirirem estes papéis, transferindo assim recursos do Brasil para o exterior.
Vemos poucas possibilidades de uma recuperação rápida das nossas exportações de manufaturas, mesmo com uma melhora do preço do dólar que vislumbramos e abordamos adiante, pois a concorrência no mercado externo tende a estar acirrada e a nossa competitividade é baixa.
Temos a percepção que o fluxo cambial para o Brasil poderá ser desfavorável, confirmando a tendência destes últimos meses com agravamento, o que, mantidas as regras atuais, impactará na formação do preço da moeda estrangeira, a partir do conceito básico do mercado flutuante que é a oferta e procura. Por isso, não nos surpreenderíamos com um preço de dólar atingindo ao longo de 2012 a faixa de R$ 2,00 a R$ 2,20.
Este nível de preço seria contributivo para alguma melhora das exportações de manufaturas, mesmo tendo como fator adverso a excessiva competição com os demais países, e, também inviabilizaria parte substantiva das importações de insumos utilizados pela indústria nacional e que substituíram os insumos nacionais, o que contribuiria para o PIB do ano pela troca do valor agregado importado pelo nacional.
A indústria manufatureira reagindo, certamente, contribuiria para a demanda de mão de obra, amenizando os riscos da curva do emprego vir a tornar-se menos vigorosa de forma acentuada.
Mas, neste nível de preço do dólar, as pressões inflacionárias poderiam se intensificar e conspirar contra as pretensões do governo de reduzir a taxa de juro SELIC de forma acentuada em 2012.
O mundo global tende a ter um ano bastante pesado em 2012, e, o Brasil pode sofrer impactos menos intensos, mas é ilusório imaginar que poderá ser uma exceção, visto que a interdependência existente é notória e expressiva.
Por isso, é preciso dosar o otimismo e se aproximar mais do que pode ser a realidade, para que não ocorram surpresas.