Análise do Mercado – 26/01/2011

A sinalização do BC, através da Carta-Circular 3484 de 25/01/11, de que poderá vir a adotar as operações a termo nos seus leilões de compra e venda no mercado de câmbio físico, estimula, também, a idéia de que pode estar na pauta um avanço…

A sinalização do BC, através da Carta-Circular 3484 de 25/01/11, de que poderá vir a adotar as operações a termo nos seus leilões de compra e venda no mercado de câmbio físico, estimula, também, a idéia de que pode estar na pauta um avanço necessário, e já tardio, na operacionalidade do mercado físico, limitado legalmente para as operações entre empresas e bancos ao conceito taxa “spot”, o que acabou por fomentar o deslocamento e crescimento das transações típicas do seu ambiente para os mercados futuros da BM&FBovespa, a ponto de ter ficado praticamente refém destes mercados na formação do preço.

Atuando a termo o BC provavelmente conseguirá financiar a um custo mais baixo a parcela envolvida nestas transações como compra, que também representam reservas cambiais, e diminuirá o volume de emissões de títulos públicos para esterilizar os reais injetados no mercado com a aquisição “spot” das divisas.

Certamente, retirará parcela do volume de transações que se “acomodam” no mercado futuro da BM&FBovespa, para superar a inviabilização de suas realizações no mercado físico.

É importante observar que esta é uma operação que envolve entrega efetiva de moeda estrangeira, já que realizada no mercado físico, mediante pagamento dos reais. São denominadas como “deliverable forward”.

Temos advogado reiteradamente a necessidade do governo e do BC procederem à revisão legal que restringe as operações de câmbio das empresas no mercado físico à condição de preço “spot”. O Brasil mudou substantivamente, detém reservas cambiais consideráveis face ao seu passivo externo, podendo promover uma abertura operacional no mercado de câmbio físico, estimulando as operações a termo, cobertas, por parte das empresas com os bancos e vice-versa, atenuando tanto as pressões de oferta “spot” que poderiam também ser a termo com taxa a termo e estimulando a demanda, também, a termo.

Provavelmente, este seja também o momento de retomar a avaliação das contas em moedas estrangeiras por parte de grandes empresas junto aos bancos brasileiros autorizados a operar em câmbio, permitindo que estas disponibilidades sejam administradas como recursos de tesouraria e vendidas pelas empresas quando melhor lhes aprouver. Certamente, a 1ª questão em oposição é a questão da expressividade do juro interno que não estimularia a abertura destas contas, mas é preciso avançar quando há tranquilidade.

As medidas válidas e que podem ter maior eficácia por parte do BC são as normativas, já que as operacionais que pode praticar têm pouca eficácia.

Mesmo atuando com leilões a termo os efeitos podem ser pouco significativos no preço, apesar de ter o mérito de retomar operações que acabavam indo para o mercado futuro da BM&FBovespa e viabilizar uma opção de financiamento das aquisições de dólares por parte do BC no próprio ambiente do mercado físico, mas se ampliada a possibilidade de operações de câmbio a termo no mercado físico, cobertas, para todos os “players” poderá ter efeitos mais consideráveis.

O BC, contudo, precisa ficar atento aos limites de posições “vendidas” dos bancos, sendo recomendável que reduza com maior contundência os limites estabelecidos sem alcance do depósito compulsório, para não deixar “brechas” especulativas pró-real.

Os “swaps cambiais reversos”, novamente colocados no mercado futuro, têm, como temos salientado, potencial inverso ao desejado pelo governo e estimulam a apreciação do real. O argumento de que a operação coloca risco para os “players”, com fundamento nas ocorrências de 2008 por ocasião do agravamento da crise, não parece se sustentar no ambiente presente e nem prospectivo de curto/médio prazos, que são os prazos dos “swaps cambiais reversos” colocados.

Ao contrário, vemos muita tranquilidade para apreciação do real, com a certeza de que ao seu vencimento a autoridade gerará a liquidez necessária para a reversão da posição e efetivação do lucro. Este não é no nosso entender, definitivamente, um instrumento que deva ser utilizado pelo BC.

Mudando de foco, o país e todos os segmentos co-relacionados foram surpreendidos pela forte recuperação dos IED´s em dezembro, ao registrar ingressos da ordem de US$ 15,364 Bi, maior volume histórico, e que totalizaram no ano US$ 48,462 Bi superando o déficit em transações correntes que registrou US$ 47,518 Bi. A melhor projeção das autoridades monetárias era da ordem de US$ 38,0 Bi.

Os números absolutos afastam a idéia de que os ingressos de recursos especulativos é que financiam o déficit em transações correntes, mas certamente, transitoriamente isto ocorreu ao longo do ano, pois somente o ingresso forte , pontual e inesperado de dezembro alterou esta realidade.

O BC também informou que o fluxo de recursos externos para o país em janeiro, até o dia 21, foi positivo em US$. 9,205 Bi, com o BC retirando com os seus leilões de compra o total de US$ 3,927 Bi, o que deve ter reduzido as posições “vendidas” dos bancos a US$ 11,505 Bi, muito próximo dos US$ 10,0 Bi que o BC estimou que a medida estabelecendo o depósito compulsório, em vigor a partir de 4 de abril próximo, causaria como efeito.

É provável que até o final de janeiro as posições “vendidas” dos bancos estejam enquadradas dentro dos parâmetros estabelecidos pelo BC, já que, sabidamente, as captações externas neste janeiro ultrapassaram com folga os US$ 10,0 Bi.

Já há, portanto, ambiente para o BC promover a revisão daquele normativo e reduzir outra vez os limites de posição “vendida” não sujeitos ao recolhimento do depósito compulsório.

Por enquanto, não vislumbramos tendência de recuperação do preço da moeda americana no nosso mercado, o cenário externo está positivo e as medidas internas por parte do governo ainda não evidenciam potencial para tanto.

A “expectativa” quanto a novas medidas na área cambial, já que ocorre o retorno do Ministro Mantega, promovem uma relativa estabilidade em torno de R$ 1,67, mas se o BC insistir com os “swaps cambiais reversos”, poderá motivar uma nova rodada de apreciação do real.

 

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