Análise do Mercado – 25/02/2011

O mercado de câmbio não apresenta novidades e nem deve apresentar, visto que o governo tem conduzido suas intervenções com sucesso, no sentido de que se mantenha “neutro” no entorno de R$ 1,67, praticamente “blindando” este preço…

O mercado de câmbio não apresenta novidades e nem deve apresentar, visto que o governo tem conduzido suas intervenções com sucesso, no sentido de que se mantenha “neutro” no entorno de R$ 1,67, praticamente “blindando” este preço em relação aos comportamentos da moeda americana no exterior e dos ruídos em torno da crise na Líbia.

Se existe viés, este é para baixo, devido à existência de posições de “swaps cambiais reversos” em volume crescente no mercado e que podem, nos seus vencimentos, induzir a movimentos pontuais de apreciação do real.

As operações de leilões de compra a termo delimitam o espaço das variações e podem, no máximo, provocar um efeito “marola”, subindo um pouco o preço quando são realizados e caindo um pouco na iminência de seus vencimentos, puramente operacional, induzido pelos bancos.

Contudo, a queda que se presencia no momento, já iniciada ontem, tem a ver com a chegada do final do mês, quando o Ptax impacta sobre as posições. Como os “players” com maior força indutora estão “vendidos” liquidamente, considerando que os bancos com suas substanciais posições “vendidas” no mercado físico à vista e a termo em volume muito acima das posições “compradas” no mercado futuro da BM&F, são os mais fortes na apreciação pontual do real.

Não é necessário que exista forte ingresso, mas sim, forte giro no interbancário, para que coloque o real em apreciação. Ontem, o giro atingiu US$ 5,690 Bi, típico de ocorrência de movimento indutor à apreciação do real.

O BC, que agora intervém no mercado de câmbio efetivamente “operando” para manter a taxa neutra, já realizou hoje um leilão de compra no mercado à vista, e já anunciou um leilão de 20.000 contratos de “swap cambial reverso”. Ocorre que, quando ofertam em leilão estes “swaps” não pelo fato de representarem, teoricamente, uma compra de dólares futuro, mas sim com o objetivo de que o preço do dólar futuro fixado na operação seja mais alto e lhes beneficie na liquidação, os bancos tendem a fortalecer o preço da moeda americana.

É uma intervenção do BC “confrontando” o movimento de apreciação do real capitaneada pelos “players” com posições “vendidas”, ou seja, a autoridade não quer que o preço descole muito do eixo do R$ 1,67. Não será surpresa se adiante anunciar leilão de compra a termo, após ter consolidado o leilão dos swaps, que também na sua efetivação motiva os bancos a elevarem a taxa da moeda americana.

Aliás, falando em fluxo, janeiro teve um expressivo saldo positivo acima de US$ 15,0 Bi, que causou certo euforismo, e, na oportunidade, apontamos como causa principal as captações externas de recursos por empresas/bancos e não por fluxo para investimentos, nem na bolsa e nem em títulos de renda fixa, a despeito da taxa de juro atraente. Hoje, levantamentos apontam que o fluxo líquido para investimentos em renda fixa em janeiro foi negativo em US$ 500,0 MM, após negativos, também, em US$ 200,0 MM em dezembro.

No nosso entender, no câmbio neste momento não há no país e nem se deve esperar novidades quanto ao comportamento da taxa cambial. Os fatores externos não estão conseguindo impactar na formação do preço no nosso mercado, o BC não está dando espaço para ações dos “especuladores”.

O foco está mais centrado nas discussões no entorno da SELIC que será objeto de avaliação na reunião do COPOM nos próximos dias 1º e 2 de março, havendo ainda dúvidas sobre qual será a atitude do órgão gestor.

Hoje tivemos a divulgação do IGP-M de fevereiro apontando 1,0% de alta, após 0,80% em janeiro. O IPCA-15 também veio forte dias atrás, ligeiramente abaixo de 1%. Embora se diga dentro ou próximo das projeções, o fato concreto é que a inflação está forte, embora haja fatores pontuais nesta fase do ano. Contudo, o que é preocupante é que a perspectiva que vem se formando acerca da inflação é negativa e isto induz a crença que passa a contaminar toda economia.

Na realidade “o remédio deve ser compatível com a febre”, portanto, a dimensão da elevação não pode ser pré-concebida, mas sim definida no momento em que vai prescrever o tratamento. E, neste momento, tudo sugere que o COPOM precisará ser mais firme aumentando 0,75%, pois o governo precisa demonstrar atitude convincente no enfrentamento da inflação. Se será necessário subir mais ou menos nas próximas reuniões, isto o tempo indicará, já que os efeitos das medidas prudenciais impactando na liquidez do crédito e nos níveis de oferta e custo do mesmo ainda estão sendo mensurados.

A indústria, que já começou a rever suas projeções para baixo, certamente está aguardando alguma atitude do governo, e esta precisa contemplar incentivos e desonerações à atividade exportadora, antes que seja tarde.

 

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