Há notória evidência que o BC está atuando para balizar a taxa da moeda americana no entorno de R$ 1,67, e está tendo sucesso neste objetivo com a mixagem das operações de leilões de compra no mercado físico à vista e a termo e…
Há notória evidência que o BC está atuando para balizar a taxa da moeda americana no entorno de R$ 1,67, e está tendo sucesso neste objetivo com a mixagem das operações de leilões de compra no mercado físico à vista e a termo e complementarmente com a colocação dos instrumentos financeiros denominados “swaps cambiais reversos” no mercado futuro, interferindo nos cupons cambiais na BM&F.
Com esta combinação praticamente “amarra” o preço neste patamar, sendo o instrumento mais forte os leilões a termo de curtíssimo prazo, que é adequado para este objetivo.
Com esta dinâmica consegue este balizamento, já que não tem formulações técnicas operacionais que possam elevar o preço da moeda americana no nosso mercado e inibe um movimento continuo de apreciação do real. Mas, como vai formando no mercado futuro um estoque substantivo dos instrumentos financeiros denominados “swaps cambiais reversos”, corre o risco de, nos vencimentos destes instrumentos, ter acentuado movimento de apreciação do real, em decorrência da forma de remuneração implícita nos mesmos, que motiva os bancos a buscar além do juro que lhes remunera, também, um ganho com variação cambial ao seu favor, tornando-a negativa para o BC.
Salvo eventos negativos relevantes no exterior que possam afetar o nosso mercado de derivativos, hoje menos especulado do que na crise de 2008 e, portanto, menos sujeito a ser surpreendido como naquela oportunidade, com o país “mais escolado” o que pode evitar precipitações como as ocorridas, o comportamento do preço da moeda americana deve manter-se neste patamar de R$ 1,67, com um viés de baixa decorrente do estoque crescente de “swaps cambiais reversos” em poder do mercado.
Pequenas oscilações no entorno deste preço são decorrentes de situações pontuais, já que a atual estratégia do BC praticamente cerca o preço deixando-o inelástico aos fatores externos nas dimensões atuais, até porque, nossa dependência de petróleo é baixa.
O que vai ficando evidente é que o novo governo sinalizou para uma modulagem nova de política monetária fiscal e cambial, que focava contenção da expansão do crédito para consumo e rigor fiscal contendo gastos públicos, causas relevantes das pressões inflacionárias, o que permitiria uma menor utilização do preço do dólar como coadjuvante do juro na estratégia de contenção da inflação, mas encontra na prática dificuldades de implementação, o que a teoria não conseguiu antever.
Desta forma, o preço do dólar deve ser mantido como elemento neutro, mas ainda num patamar contributivo para contenção inflacionária. O juro, que pretendia fazer menor, ainda deverá ser largamente utilizado para focar a contração das pressões inflacionárias, e, adicionalmente para que os gestores: BC e MF aumentem a credibilidade perante o mercado financeiro, que, ainda observa tudo muito reticente.
Por outro lado, o governo ao definir um corte orçamentário da ordem de R$ 50,0 Bi parece ter desejado diminuir a ansiedade do mercado financeiro a respeito, mas, na prática, encontra muitas dificuldades para implementá-lo, ficando com o risco de “cortar fumaça”, e ter que acabar elevando os gastos, num ambiente que prognostica um crescimento menor do PIB.
Por isso, entendemos que há grande probabilidade de uma elevação de 0,75% da taxa SELIC na próxima reunião do COPOM, para acalmar as preocupações crescentes com o risco de descontrole da inflação, que já deve alcançar percentual anualizado no meio do ano bastante elevado. O governo está precisando conquistar maior confiança dos agentes do mercado financeiro no controle inflacionário, e, isto poderá ser agilizado com uma alta mais expressiva na SELIC.
As aferições dos efeitos das medidas prudenciais baixadas em dezembro, visando a contração da liquidez e do crédito ao consumidor pessoa física sinalizam resultados equivalentes a uma alta da SELIC da ordem de 0,75%, segundo o próprio governo e órgãos de análise do mercado. Mas, de toda forma, o crédito e o consumo ainda estão aquecidos, seria necessário agravar mais as medidas prudenciais.
Por outro lado, a alta do juro já se configurará como um desincentivo aos investimentos, e, se forem acentuadas as “restrições” ao crédito com reflexo no consumo, o setor produtivo poderá ser levado ao desânimo, e, isto é tudo que o governo precisa evitar no contexto atual.
Resta então, no nosso entender, o incentivo ao setor produtivo para exportar, e, parece cada vez mais evidente, que não há outra alternativa, já que pelo preço do dólar este incentivo não se tornará efetivo. No nosso entender o governo precisa agir rápido, chegar com o seu incentivo desonerador das exportações antes que o humor do setor produtivo se torne negativo.
Após a divulgação do expressivo déficit em transações correntes em janeiro, dentro das previsões, mas não por isto não expressivo, ontem foi divulgado o fluxo cambial de fevereiro, que registra saldo positivo de US$ 3,54 Bi até o dia 18 último, com o BC tendo retirado com seus leilões de compra à vista US$ 6,58 Bi, retomando, assim, a prática de comprar mais do que o fluxo cambial revela como excedente.
Na semana de 14 a 18 o incremento foi de US$ 961,0 MM, sendo positivo US$ 971,0 financeiro e negativo US$ 10,0 no comercial. Nesta semana, o BC retirou com seus leilões de compra à vista US$ 2,227 Bi.
Como, além das compras à vista, o BC também realizou leilões de compra a termo e desconhece-se este “estoque a liquidar”, mas que são efetivas vendas dos bancos e compras do BC, e que só são dadas a conhecer quando liquidadas, não se tem base para vislumbrar o montante efetivo de posições “vendidas” mantido pelos bancos. Considerando-se tão somente o montante à vista divulgado, já atingem US$ 14,0 Bi, mas este é um dado parcial pela ausência da informação das operações a termo.
Este quadro deixa evidente que velhas práticas são retomadas, só que agora os bancos podem não estar buscando recursos em moeda estrangeira nas linhas externas, mas entregando na liquidação das operações à vista, os dólares que ficam em poder quando vendem a termo, deixando evidente que a operação de cupom cambial, antes realizada na BM&F, acaba sendo realizada no próprio mercado de câmbio físico, só que com a entrega física. Este é um fator limitante de alta do preço da moeda americana, podendo eventualmente induzir a baixa nos dias de vencimentos, para que os bancos comprem e entreguem ao BC.
A novidade é que o BC está assumindo o controle da formação do preço da moeda americana, tirando a supremacia do mercado de derivativos da BM&F, numa engenharia bem montada, mas que, no nosso entender, não tem o propósito de apreciar o preço do dólar. A estabilidade, neste momento, parece claramente ser o objetivo.