O governo mostrou mais determinação com as novas medidas, anunciadas em 20 e vigentes a partir de ontem, endurecendo o jogo para os especuladores estrangeiros na BM&FBovespa, além de vetar práticas costumeiras de aluguel, empréstimos e…
O governo mostrou mais determinação com as novas medidas, anunciadas em 20 e vigentes a partir de ontem, endurecendo o jogo para os especuladores estrangeiros na BM&FBovespa, além de vetar práticas costumeiras de aluguel, empréstimos e trocas de títulos, valores mobiliários e ouro ativo financeiro realizadas pelas instituições financeiras a investidores não residentes para constituição de margens de garantia, colocou ao alcance da tributação pelo IOF todas as migrações internas de recursos em Real destinados a constituição também das margens de garantia e fechou o cerco DETERMINANDO que a BM&FBovespa excluísse as cartas de fiança como suporte às margens de garantia.
Tecnicamente fechou as brechas, sendo a mais relevante a exclusão das Cartas de Fiança, instrumento que por não ser considerado financeiro não poderia ser tributado pelo IOF e se constituiria na “grande janela” para continuar tudo como estava, já há vários mecanismos para que sejam geradas pelos bancos nacionais e internacionais.
O aluguel, empréstimos e trocas de títulos dão suporte a algo em torno de 88% das garantias recebidas pela BM&F e doravante estão vetadas. As cartas de fiança representavam somente 3%,mas tinham uma capacidade explosiva de ampliação, principalmente se começassem a ser geradas a partir do exterior .
Ao determinar a exclusão da aceitabilidade pela BM&FBovespa das cartas de fiança, o governo desferiu “tiro certeiro” .
O “dólar sintético” foi fortemente atingido pelo conjunto de medidas, agora vale se a moeda entrar no país e se entrar pagará o tributo.
Uma atitude correta do governo e na direção certa, já que o mercado de derivativos é o centro nervoso da especulação que, nesta fase, provoca a apreciação excessiva do real.
Se há algo a sofrer crítica é o fato de ter faltado astúcia e determinação do governo desde o início, quando foi estabelecida a Resolução 3.912 no dia 7 de outubro, deixando para agir quando se sentiu desafiado pelo mercado e ao reagir aumentou o número de normativos dando, a impressão de contínuas intervenções tentativas.
Porém, medidas duras e abruptas podem provocar “efeitos colaterais” nas acomodações no novo contexto para os investidores/especuladores. Embora os representantes da BM&FBovespa procurem minimizar as repercussões do impacto das medidas, certo é que haverá desmonte de posicionamentos, tanto comprados quanto vendidos, a liquidez poderá ficar apertada e os volumes negociados em perspectiva terão curva descendente.
A opção do governo foi de mitigar os riscos para o país, não se preocupando com os “efeitos colaterais” possíveis e a queda da liquidez nos segmentos especulados no mercado de câmbio.
Optou pelo considera mais importante preservar e desta vez não deu voltas, foi direto ao ponto.
No nosso entendimento que é conforme com a decisão do governo, que não dispondo de estratégias operacionais que possam promover a sustentabilidade do preço da moeda americana, valeu-se da sua eficiência a partir de sua capacidade de estabelecer regras normativas e tributárias. Mas a atitude estabelece um fator novo e relevante, provavelmente mais forte na contração do fluxo do que a própria tributação do IOF e a proibição de inúmeros atalhos que haviam para constituir-se as margens de garantia: A INSEGURANÇA DOS INVESTIDORES!
Toda vez que o governo intervém nas regras do jogo de forma radical provoca a insegurança, maior temor dos especuladores, mas que também afeta os bons investidores e repercute negativamente em todos os segmentos do mercado financeiro, extrapolando em muito o segmento dos derivativos.
Desta forma é possível que a retração dos investidores estrangeiros seja maior do que o esperado, podendo atingir também as operações com ações e mesmo de compra de títulos de renda fixa de longo prazo. Isto é algo que os números nos responderão proximamente.
Neste momento será importante acompanhar o comportamento do mercado de derivativos e as acomodações ao novo contexto e se a ocorrência de eventual queda de liquidez pode criar situações de aperto para os especuladores.
O preço da moeda americana tende a apreciação gradual com volatilidade, porém sem excessos. Se quem estiver mal posicionado quiser sair muito rápido pode provocar agilização na apreciação e volatilidade acima do razoável.
É bom lembrar que estas medidas do governo são profiláticas e preventivas para conter o que pode estar por vir e assim repudiá-lo, sendo oportuno lembrar que a excessiva apreciação do real presente não tem, ainda, como razão causal fundamental a inundação de dólares que os Estados Unidos está promovendo, mas já era uma situação provocada pelas autoridades monetárias que estimularam a apreciação do real para utilizá-la como antídoto as pressões inflacionárias.
O ” Carry trade” é um atingo benifenciario da rentabilidade Brasileira e tem muito destes recursos em nossas reservas cambiais, mas agora há uma nova onda de fluxo e é este que o Brasil quer desestimular.
Por isso, não é justo atribuir-se precipitadamente e no todo aos Estados Unidos as causas do real apreciado. Misturar política monetária com política cambial, começou por aqui bem antes dos Estados Unidos, só que ao contrário, nós focamos a apreciação do real, enquanto os Estados Unidos focam a desvalorização do dólar. Nós perdemos o potencial exportador do setor industrial e inundamos o consumo com produtos importados e temos uma taxa de juro que atrai o especulador para aplicar em Real e eles pretendem recuperar o potencial exportador e a contração das importações e tem uma taxa de juro que desestimula a aplicação em dólares.
É fundamental que o BCB deixe de retirar com seus leilões de compra diários mais dólares do que os excedentes do fluxo evidenciam, pois indo além, como vem fazendo sistemicamente, induz a apreciação do real. Precisa parar de comprar e levar os bancos a colocar suas posições no mercado à vista, niveladas ou ligeiramente compradas.
É preciso que haja coerência e alinhamento de propósitos em todas as atitudes.
Mas a despeito de tudo que foi feito pelo governo é preciso ficar atento, especulador não existe somente no exterior, temos muitos e bons por aqui e se não cessar o governo vai ter que olhar para os nacionais, e, então precisará limitar as exposições do sistema financeiro aos riscos das transações com variação cambial e estender as regras válidas para os não residentes para os residentes.
Por fim, se não conseguir “domar a fera da especulação” e considerando que não pode ter a poupança fiscal que precisaria ter e que também não pode reduzir o juro elevado que pratica como política monetária, só restará mudar o sistema cambial flutuante que, também, não pode ter e assumir a realidade de um sistema cambial hibrido, mais compatível para conviver com as nossas fragilidades imutáveis no curto prazo.
Mas provavelmente esta seja uma tarefa desafio para o próximo governo, já que interferir na formação do preço da moeda nacional contra o dólar amparado por tributos deve ser visto como algo extremamente pontual e até emergencial. Redução dos gastos públicos, aumento da poupança fiscal e redução do juro compõem a receita adequada, mas isto leva tempo.