O Banco Central do Brasil “percebeu” que havia um movimento buscando apreciar o real logo na abertura dos negócios do mercado de câmbio ontem e, sem perder tempo interviu, desta vez operacionalmente e não verbalmente pela imprensa, e colocou uma oferta de “swaps cambiais reversos” de vencimento curto, 3/9
próximo, no montante de 50.000 contratos, equivalentes a US$ 2,5 Bi, que tem um efeito compra no mercado futuro, com o objetivo de evitar que o preço da moeda americana pudesse romper o piso de R$ 2,00.
O resultado da colocação foi baixo, algo como 7.000 contratos equivalentes a US$ 350,0 M, mas o recado foi preciso e pontual. A autoridade não deseja o preço do dólar abaixo de R$ 2,00.
Na essência foi uma ação pontual e focada num momento do mercado de câmbio. Como o fez com instrumentos financeiros vincendos no curtíssimo prazo, 3/9, poderão se tornar liquidação parcial antecipada de posições vincendas de “swaps cambiais” na mesma data ou não. O próximo momento, final do mês, definirá para a autoridade a necessidade e conveniência mais adequada.
Ontem, foi um recado firme ao mercado de que o comportamento do preço da moeda americana está sendo monitorado com extrema acuidade.
Na realidade, a não ser pelas posições fortemente opostas no mercado de derivativos que acabam ensejando disputas de interesses entre bancos, fundos nacionais e fundos estrangeiros, o preço da moeda americana tecnicamente, face ao fluxo cambial da atualidade, não teria razões para ficar abaixo de R$ 2,00, muito pelo contrário, deveria até sustentar um viés de alta, na medida em que o fluxo cambial se propaga claramente com tendência menos favorável ou até mesmo negativo para este 2º semestre, agravado ainda pelo estoque de importações a resgatar migrado do exercício de 2011 para 2012.
Esta tem sido a nossa percepção, o que nos leva a manter a projeção de que o preço da moeda americana esteja mais próximo de R$ 2,10 ao final do ano, dentro das nossas projeções apontadas já em 27 de dezembro de 2011, fundamentadas em ocorrências no cenário internacional e nacional decorrentes da crise que vem se confirmando, que colocavam o preço do dólar neste patamar, ainda quando prevaleciam as projeções majoritárias de R$ 1,75.
Hoje foi divulgado o IPCA-15 de agosto com alta de 0,39% após ter registrado 0,33% em julho. No ano acumula alta de 3,32% e nos últimos 12 meses 5,37%.
Também foi divulgado que a inadimplência das empresas cresceu 8,5% no mês de julho.
No cenário internacional, gradualmente, a dura realidade da crise quase crônica que afeta mais intensamente a Europa e também os Estados Unidos começa a dar transparência as suas repercussões nas economias dependentes de exportações para aquelas regiões, e isto acaba por impactar nos mercados financeiros, que tem procurado conviver com otimismos forjados em circunstâncias e fatos fundamentalmente frágeis, numa busca de fazer o ritmo dos negócios manter um falso dinamismo na medida em que não focam o decrépito “status quo”.
Após a China ter dado evidências que sua economia perde dinamismo em decorrência da sua dependência como exportadora, carro chefe do seu crescimento econômico, na medida em que a crise na Europa e Estados Unidos se prolonga e se agrava, agora, o Japão, economia também alavancada pelo setor exportador, revela as mesmas repercussões com quedas nas exportações.
Este contexto seguramente terá repercussões nos países emergentes fornecedores de insumos para a China e Japão.
As siderúrgicas chinesas pressionadas pela fraca demanda do país por aço descumpriram contratos de fornecimento ou adiaram recebimentos de até 4 mm de toneladas de minério neste mês, após a rápida perda nos preços da “commodity”, cujos preços caíram este ano 23%, numa evidencia firme de que a atividade econômica chinesa desacelera. O mesmo cenário se verifica na queda da produção da indústria automobilística chinesa.
Tentando alterar a matriz do seu crescimento o governo chinês vem buscando estimular o consumo interno para que este passe a ser uma fonte de incremento da atividade econômica, mas este é um processo lento.
Todo este contexto coloca a superação da crise internacional em perspectiva de longo prazo, com grande possibilidade de piora antes de melhorar, até porque há problemas na Europa para os quais não há ideias de como poderão ser superados.
Então, quando ocorre este “choque de realidade”, os mercados globais assumem a preocupação com a crise global e a sua propensão a agravamento.
Perdido o bom humor, crescem os descréditos acerca das novas possibilidades do FED vir a promover um novo programa injetando liquidez no mercado financeiro, sendo baixas as expectativas a respeito das manifestações de Ben Bernanke em Jackson Hole, ao final deste mês.
O sinal mais imediato vem pelas bolsas.
Na contramão do mundo, a nossa Bovespa opera com volatilidade mas sustentando alta, enquanto as demais bolsas do mundo operam no negativo e, a rigor, não há fundamentos críveis que possam justificar esta atipicidade pontual.
Hoje é dia de divulgação do fluxo cambial, dado que recomendamos passe a ser melhor observado e monitorado por todos, pois pode estar no seu contexto um fator de pressão altista do preço da moeda americana.