O mercado de juros deixou evidente, pelo movimento de ajuste ocorrido ontem, que o consenso sobre o corte de 0,5% na taxa SELIC pelo COPOM existia na formação de opinião, mas solidamente não na prática. Grande parte dos “players”…
O mercado de juros deixou evidente, pelo movimento de ajuste ocorrido ontem, que o consenso sobre o corte de 0,5% na taxa SELIC pelo COPOM existia na formação de opinião, mas solidamente não na prática. Grande parte dos “players” trabalhava com a hipótese de um corte mais agressivo, foi o que ficou evidenciado.
O fato concreto é que o BC vinha diagnosticando os riscos envolvidos na crise externa com grande acuidade, colocando-se à frente do mercado financeiro, e, de repente optou pelo gradualismo que o coloca em linha com o mercado financeiro, mas pode deixá-lo tardio em relação aos impactos na economia brasileira.
Continuamos com o entendimento que o momento envolve um contexto diferente, portanto, precisamos ter atitudes diferentes, e o foco deve ser acentuadamente prospectivo, tendo pouca valia o retrospectivo, já que temos presente uma crise internacional que envolve as maiores economias do mundo, para a qual não há soluções críveis de curto prazo, e que vem tendo o humor administrado mais por “esperanças” que se diluem como espuma, do que pela dura realidade que terão que enfrentar inequivocamente.
Entendemos que seria extremamente oportuno que a periocidade das reuniões do COPOM voltasse a ser mensal, visto o contexto atual sugerir avaliações mais breves.
A China naturalmente deverá ter reflexos no dinamismo de sua economia, afinal dependente para suas exportações dos Estados Unidos e da Europa, e isto repercutirá nos emergentes que são potencialmente seus fornecedores.
As “commodities” já começaram a dar sinais de desaquecimento dos preços, que deverá vir também no quantitativo da demanda global.
A inflação cederá mais pelo contexto predominante do que pelo efeito taxa de juro.
As “esperanças” centram-se agora na reunião dos dirigentes da Eurozona neste final de semana e na próxima quarta-feira, mas há muitos pontos a ajustar entre as partes, e, se não houver decisões focando e organizando a base causadora do caos, o financiamento dos passivos pode não trazer soluções, mas sim postergar os problemas.
O “desespero” é tamanho que na Europa querem neutralizar a divulgação dos “ratings” temporariamente, o que seria “brincar de esconde-esconde” num cenário que tem necessidade da transparência.
O grande risco é de, de repente, termos um choque de realismo e ocorrer um desmonte abrupto de posicionamentos em ativos que permanecem inflados.
O nosso mercado de câmbio, que finalmente está bem defendido da especulação do mercado de derivativos pela “travada” dada pelo IOF, embora precise de acertos para os “hedge” com lastro, está repercutindo os fluxos como deve ser no conceito flutuante, situação da qual se manteve distante ao longo dos últimos anos.
Os bancos estão “comprados” no mercado à vista, porém “vendidos” no dólar futuro, quase de forma compensatória, o que os deixa protegidos. E, estão posicionados “vendidos” no mercado de “cupom cambial-DDI” em torno de US$ 4,5 Bi. O posicionamento no mercado de derivativos não tem sido alterado nos dias mais recentes.
Os “estrangeiros” continuam mantendo posicionamento no mercado de derivativos bastante equilibrado e sem característica especulativa, “vendidos” em “cupom cambial-DDI” em US$ 4,0 Bi e “comprados” em dólar futuro em US$ 4,3 Bi, o que os protege na “perna do dólar” da posição de “cupom cambial-DDI”.
As razões pós-decisão do COPOM para a alta do dólar com volatilidade decorrem de fatores pontuais locais com o fluxo cambial. O fator externo provoca marginalmente decisões por parte de empresas estrangeiras presentes no Brasil de remessas para atender suas matrizes no exterior com necessidade de fortalecimento da “liquidez de caixa”.
Assim, não é porque o dólar está subindo ou caindo no exterior que ocorrem os movimentos de forma direta por aqui, e ontem foi um bom exemplo, o dólar se valorizou aqui e caiu nos demais mercados emergentes.
O que está presente no mercado de câmbio é a efetiva demanda ocorrida ontem e que perdura hoje, envolvendo remessas de juros sobre capitais e investimentos brasileiros no exterior, em volumes consideráveis, e como o mercado está em estado de “flutuante” este fato retarda a apreciação do real.
Mas continuamos projetando apreciação do real.