O mundo global reage no curtíssimo prazo a fatores pontuais e com isto anima seus mercados que, por vezes, evidenciam um otimismo sem causa efetiva, mas que consegue manter o dinamismo dos negócios, que assim convivem com uma “bipolaridade”, reagindo para o bem ou para o mal a toda e qualquer evidência,
normalmente não sustentáveis e nem revelando ser tendência, enquanto, por outro lado, mantém uma visão de médio/longo prazo olhando com mais seriedade e senso crítico do grave quadro no entorno da crise internacional.
Um sinal de que o BCE poderá conceder mais prazo para que a Grécia possa cumprir os termos do acordo realizado para seu resgate; uma fala renovada pelo Presidente do BCE de que “fará o que preciso for para preservar o euro”; um sinal de menor oposição da Alemanha a medidas socorristas; um custo mais favorável para a Espanha na colocação de títulos; etc., determinam movimentos de repercussão com altas nos preços dos ativos, muito mais intensos do que a importância efetiva dos fatos.
Mantém-se no fundo sempre a esperança de que os Estados Unidos e Europa possam vir a realizar novos programas de estimulo à retomada da atividade econômica, e com isto, injetarem grande volume de liquidez que migrará para os inúmeros segmentos do mercado financeiro, menos para o efetivo apoio o setor produtivo da economia, e que se assistirá nova e intensa retomada da costumeira especulação no preço dos ativos.
Na via marginal ao cenário que convive com este entusiasmo não sustentável, encontramos visões e análises mais sensatas e com diferente nível de seriedade que está mais próxima da realidade que muitos não querem ver.
Matéria bem condensada, assinada por Jamil Anderlini, publicada hoje no jornal Valor, põe a nu a apreensão com a desaceleração da China, deixando evidente que é um fato real e que as perspectivas estão muito distantes de otimistas.
Por isso, não devemos nos entusiasmar pelo fato de termos exportado 12,16% mais minério até julho para a China, a um preço médio 22,2% abaixo. Este aumento pode ser uma estratégia de estocagem do produto a preço baixo, uma opção de oportunismo por parte da China. O ritmo de atividade econômica do país não sugere que esteja aumentando a demanda por “commodities metálicas” a não ser por razões estratégicas.
Ao mesmo tempo, vemos El-Erian, Ceo da PIMCO, uma das maiores empresas de gestão em investimento, colocar com grande propriedade algo que temos repetido inúmeras vezes, o problema do euro tem problemas de legitimidade política e de liderança efetiva de um órgão supranacional que dite e faça respeitar as regras. Destaca que a Europa começou um projeto incompleto, referindo-se ao euro, destacando que a união monetária que introduziu uma moeda comum e uma instituição poderosa monetária, o BCE, foi insuficientemente acompanhada por outras medidas que são criticas para a estabilidade de longo prazo. Salienta, que os europeus vem tentando de forma difícil ajustar em tempo real, invés de tentar uma fundamental reformulação, e os ajustes marginais demonstraram eficácia limitada, dada a extensão das falhas iniciais do projeto.
Quando se foca o epicentro da crise na zona do euro se constata que o problema não se limita e não se resolve com financiamentos, etc., que são paliativos e protelativos sem viabilizar a superação dos problemas que envolveria uma discussão muito maior para reinventar e reordenar o processo da unificação em torno do euro.
Desta forma, parece que o mundo global está dividido entre as fantasias e esperanças sem fundamentos de curto prazo e, uma dura realidade que só poderá encontrar solução no médio e longo prazos com grandes sacrifícios e disciplina, que grande parte procura não enxergar.
Claro está que não há viabilização no curto prazo, pode ser até que o quadro geral ainda tenha que piorar muito antes de voltar a ter o dinamismo sustentável readquirido.
Por isso, estamos nesta fase de mais do mesmo sempre, esperando realizar uma transição que a rigor ninguém sabe exatamente como ocorrerá, mas que sabem não será fácil e nem de curto prazo.
No Brasil, dependente das exportações de “commodities” metálicas e agrícolas no seu comércio exterior, há repercussões na balança comercial que se faz menos brilhante do que em anos recentes, e, só não tem performance pior em razão de quebras de safras de soja, milho, etc., por razões climáticas ao redor do mundo terem provocado expressivas altas nos preços e nos beneficiado.
Continuamos suprindo o nosso mercado interno com algo em torno de 24% de importados, pois a nossa indústria castigada e agredida sem capacidade de reagir nos anos recentes, ainda demonstra baixíssima propensão a investir, preferindo comprar insumos, fazendo-os agregados aos produtos que posteriormente estampam como nacional.
É possível que ainda não tenhamos tido todas as repercussões da crise internacional, pois o nível de investimentos externos ainda se mostra suficiente para financiar o nosso déficit em transações correntes, mas em perspectiva este cenário pode sofrer alterações, pois há outras economias tornando-se mais atrativas do que o Brasil aos olhos dos investidores, enquanto continuamos sendo um país caro por retardarmos desonerações.
No nosso mercado de câmbio “administrado” houve uma certa pressão baixista hoje ao início dos negócios, o que determinou que o BC realizasse uma oferta de US$ 2,5 Bi em swaps cambiais reversos com vencimento curto em 3/9, efeito compra de dólares no mercado derivativos, tendo colocado tão somente US$ 350,0 M, deixando evidente que era mais uma investida dos “vendidos” no mercado de derivativos buscando apreciar o real.
Para o marasmo que vive o mercado de câmbio, os posicionamentos no mercado futuro de dólar e derivativos estão relativamente fora do ponto e, acreditamos que este fato possa gerar movimentos e pressões atípicas pontuais ao final do mês, por isso o BC permanece atento.
Mas, a despeito do monitoramento pontual do BC, continuamos com a perspectiva de que o preço do dólar possa vir a aproximar-se mais a R$ 2,10 até o final do ano, ocasionado por razões decorrentes do fluxo cambial.