E o dólar?
Não se pode dizer que os níveis atingidos ontem eram imprevistos, pois nós mesmos, desde que a crise internacional começou a agravar-se em sua nova fase, digamos a partir dos ruídos ocorridos…
E o dólar?
Não se pode dizer que os níveis atingidos ontem eram imprevistos, pois nós mesmos, desde que a crise internacional começou a agravar-se em sua nova fase, digamos a partir dos ruídos ocorridos em torno da disputa política no Congresso americano sobre o teto do endividamento, combinado com o quadro decadente das economias europeias e seus problemas fiscais sem soluções viáveis, temos destacado que deveriam se acentuar as remessas de juros s/capital, lucros e dividendos e até transferências de caixa das filiais de multinacionais aqui instaladas para suas matrizes, de forma a reforçar a liquidez dos caixas das mesmas.
E, destacamos ainda, a possibilidade de retração dos IED´s projetados e o possível aumento do déficit em transações correntes.
Destacamos que a retração do crédito externo será absolutamente factível, pois é uma reação natural do setor creditício internacional quando se intensificam as incertezas, etc. Ao mesmo tempo, que destacamos que o governo brasileiro detém alternativas para suprir esta retração.
Estes eram e continuam sendo fatores previsíveis de pressão sobre a demanda de dólares.
Mencionamos também a existência de incômodo posicionamento “vendido” líquido dos “hedge funds” no mercado de “cupom cambial-DDI”, em torno de US$ 14,0 Bi, que seria um fator pontual de pressão sobre o preço da moeda americana quando ocorresse a manifestação de zeragem, considerando que a liquidez neste derivativo está muito estreita, principalmente desde que o governo estabeleceu a aplicabilidade do IOF nas posições vendidas nos derivativos.
E rotulamos tudo isto como movimentos pontuais, que acreditamos continuem sendo e a leitura dos números e atitudes percebidas no mercado confirmam, e, que a alta que verificaríamos consequentemente seria pontual e não sustentável.
No nosso ponto de vista, nada mudou em perspectiva, não teremos nenhum terremoto e nem se justificam os alaridos magnânimos que assistimos, ouvimos e lemos hoje em torno do assunto.
Afora movimentos pontuais previsíveis e naturais neste momento e a existência de um posicionamento desvantajoso dos “hedge funds” no mercado de derivativos, remanescente de um momento anterior e não corrigido a tempo, em que apostavam no dólar em queda e juro em alta, que naturalmente provocarão momentos de volatilidade com picos de alta não sustentáveis, nada há que possa envolver o real em turbulências maiores, pois não há motivos ou razões para especular nem contra e nem a favor da nossa moeda nacional, neste momento uma moeda sem charme para qualquer especulação pró ou contra, tecnicamente não recomendável por não ser “reserva de valor” e estar bem protegida de qualquer ataque por nossas reservas cambiais.
Os diagnósticos sempre olham para fora, vício do Brasil “fragilizado” ainda presente na memória da grande maioria da nossa população, mas as causas mais críveis estão aqui dentro mesmo.
De fora, vêm as decisões que motivam movimentos pontuais, não por causa do Brasil e o seu risco, mas pelas necessidades e fragilidades que existem por parte das matrizes das empresas aqui estabelecidas e das economias dos seus países, o que vale também para os investidores em renda fixa e/ou variável.
É natural, como já destacamos que os IED´s sofram retardamento, sejam postergados.
Quem está precisando de recursos emergenciais desta vez não é o Brasil! O Brasil não é carente de crédito externo. O “fly to quality” não é uma verdade absoluta neste momento para justificar a saída, mas sim a necessidade premente de recursos é que determina a retirada de investimentos, preterindo assim a rentabilidade, face à retração do crédito no mercado internacional.
Portanto, não há razão para tanto alarido como houve como se o preço de R$ 1,80 fosse absolutamente sustentável e, incrível, já há projeções de R$ 1,90 para o final do ano.
Já se realizam aferições de impactos inflacionários, impactos para os turistas, etc.
Na realidade, o que causou alguma surpresa ontem, foi a intensidade da alta pontual num mesmo dia.
Causa?
Tudo veio do mercado de derivativos, já que o mercado à vista apresentou modesto giro no interbancário de US$ 1,5 Bi.
Os “hedge funds”, que estão expostos com posições “vendidas” no mercado de cupom cambial-DDI e encontram dificuldades para a reversão, pois realizariam enorme prejuízo, estão buscando aumentar as posições “compradas” no mercado futuro de dólar e ontem aumentaram estas posições líquidas “compradas” de US$ 2,30 Bi para US$ 4,40 Bi, ou seja, forçaram a compra de US$ 2,1 Bi, e os bancos é que geraram parte da liquidez e assim aumentaram suas posições “vendidas” no mercado de dólar futuro de US$ 4,3 Bi para US$ 6,0 Bi, e “puxaram” fortemente a taxa cambial para maximizar a perspectiva de lucro de forma rápida quando o preço reverter.
Este tipo de movimento está catalogado para acontecer continuamente enquanto os “hedge funds” não tiverem consumado a zeragem de seu posicionamento de “pé trocado” nos derivativos, determinando assim volatilidade e picos de alta sempre que buscarem diminuir a desconfortável exposição atual.
Portanto, Grécia, Itália que foi rebaixada ontem, e países da Europa Meridional, etc. são fatores marginais que provocam atitudes por parte das empresas e investidores com posições no Brasil, que provocam movimentos de capitais estrangeiros aqui presentes, mas não há uma relação direta de causa-efeito em detrimento do Brasil.
Nós cresceremos menos, teremos que apertar mais a política fiscal, em grande parte porque gastamos de mais e economizamos de menos no passado recente. Esta é a realidade primeira, e se o mundo global vai mais devagar, este fato se soma, pois, afinal, “não somos uma ilha”.
Não há, no nosso entendimento, fundamentos críveis que possam levar o real a uma depreciação expressiva, e, dentro do conceito flutuante, deve ter a curva apontando para um preço no intervalo de R$ 1,60 a R$ 1,65 ao final do ano.
Se faltassem argumentos maiores do que os que o mercado local evidencia, bastaria atentar para o fato dos bancos estarem aumentando suas posições “vendidas” no mercado futuro, no mesmo momento em que o preço da moeda subiu no mercado à vista. É certo que comungam da visão prospectiva de uma taxa cambial mais baixa após este movimento pontual que era previsível, quando então poderão cobrir estas posições “vendidas” adquirindo dólares futuros a preços bem mais baixos.
Não vemos, portanto, nenhuma razão para tantos ruídos em torno do movimento de alta, que poderá se repetir algumas vez, antes da derrocada aos parâmetros de taxas antecedentes entre R$ 1,60 e R$ 1,65.