O bom senso dos mercados globais certamente não trabalha com a hipótese de que o impasse, presente no Congresso americano, sobre a aprovação do novo teto de endividamento atinja situação de absoluto confronto a ponto de conspirar contra a imagem dos próprios Estados Unidos…
O bom senso dos mercados globais certamente não trabalha com a hipótese de que o impasse, presente no Congresso americano, sobre a aprovação do novo teto de endividamento atinja situação de absoluto confronto a ponto de conspirar contra a imagem dos próprios Estados Unidos.
Evidentemente, a percepção de que é um embate político com foco nas eleições presidenciais do próximo ano está evidente, tanto é que o especulativo mercado de CDS (Credit Default Swap) não entrou em ebulição em relação aos Estados Unidos, e, o mesmo cenário já ocorreu em 1995, resolvido no limite do prazo final, e, também e principalmente, que é inimaginável que o país emissor da moeda da dívida pratique um “default” na mesma.
Mas, o mercado financeiro “capitaliza” fatos e perspectivas, mesmo quando não inteiramente criveis, e posiciona o humor predominante aos seus interesses, e isto, acaba por estimular movimentos voláteis que, por sua vez reacende os volumes, mas não cria tendências sustentáveis.
Como esperado, ocorrem os primeiros sinais de que republicanos e democratas, juntamente com o Presidente Obama, estão chegando a um termo de ajuste para acomodar a questão do novo teto de endividamento, num cenário quase repetitivo do que ocorreu em 1995, e, isto motiva o cenário global a dar uma “relaxada” nas “tensões” que estavam presentes, e o cenário global assume um enganoso comportamento otimista, na ponta sujeito a volatilidade.
Desta forma, as bolsas de valores da Asia e Europa, de forma quase generalizada, reagem com desempenhos positivos. As bolsas americanas sinalizaram no pré-market que abririam em alta, mas como subiram muito ontem, já construíram “um ambiente de ansiedade” ante a demora do anúncio de um acordo no Congresso, e com isto realizam uma rodada de realização de lucros, já que claramente o viés de alta ontem não era algo sustentável, sendo previsível a volatilidade; o dólar ainda tende a se fragilizar ante as demais moedas, até porque por paradoxo que pareça, a procura por T-Bills arrefece o que retira pressão sobre a demanda por dólares e os seus rendimentos sobem; ativos de risco, como o ouro, refúgios típicos em tempos de incertezas depreciam seus preços; “commodities” como petróleo sobem o preço; etc.
Mas, à margem deste cenário em torno dos Estados Unidos, continua sem solução a crise fiscal dos países europeus, hoje já não só dos periféricos, pois já envolve economias mais representativas, e este parece ser um problema de difícil convergência de idéias dos membros da euro-zona que possa viabilizar o equacionamento adequado e sustentável. Efetivamente, o grande temor da crise fiscal européia é o contágio entre os países da região, com sequentes repercussões negativas nos outros países, entre os quais os emergentes.
Portanto, a despeito da melhora de humor, há com que se preocupar em perspectiva, e muito.
No Brasil, o destaque é que o governo continua arrecadando muito mais do que o crescimento da economia, tendo fechado o 1º semestre do ano com um aumento de arrecadação da ordem de R$ 77,1 Bi, algo como 19,8% ou 12,7% real, ao atingir R$ 465,0 Bi ante R$ 388,0 Bi no semestre anterior.
A inflação medida pelo IBGE revelou pelo IPCA-15 alta de 0,10% em julho, após alta de 0,23% um mês antes. Acumula neste ano 4,20% e nos últimos 12 meses 6,75%. Como a metodologia do IPCA-15 é a mesma do IPCA sendo diferente tão somente o período de pesquisa, o indicador pode ser considerado bom, já que o FOCUS esta projetando o IPCA de julho em 0,20%, e efetivamente poderá ser menor.
A economia embora sinalize arrefecimento ainda se mostra bastante aquecida, pois continua gerando número expressivo de empregos, junho registrou 215,4 mil novas vagas, fechando o semestre com um total de 1,4 milhão de novos empregos, 3º melhor da série, com um nível de desemprego de 6,2%.
A BOVESPA tende a dar uma melhorada, mas parece com “pouco charme” para atrair os investidores, por isso quando cai segue o comportamento externo mas quando sobe não repercute o mesmo ritmo. Hoje começou em alta, mas é possível que reverta o comportamento.
No mercado de câmbio um ambiente “morno”, com o volume de giro no interbancário mantendo-se entre US$ 1,0 Bi a US$ 1,5 Bi, evidenciando que a nova PTax fulminou o giro especulativo, com a taxa mantendo-se no entorno de R$ 1,57, sem motivos para subir e nem cair, enquanto os posicionamentos líquidos de bancos e “hedge funds” de US$ 16,3 Bi “comprados” e US$ 20,8 Bi “vendidos”, respectivamente, vem sendo mantidos a despeito do ajuste que os bancos tiveram que realizar em suas posições “vendidas” no mercado físico ao longo da semana passada.
Hoje, quando ocorrer a divulgação do fluxo cambial, teremos uma prévia do ajuste ocorrido nas posições “vendidas” dos bancos. Uma prévia, visto que como o critério da tabulação é D+2 câmbio liquidado, a visão efetiva do ajuste será conclusiva com o movimento até 19 na planilha do BC, e hoje teremos uma visão até 15, sexta-feira.
Tudo leva a crer que o COPOM elevará a taxa SELIC em 0,25% elevando-a para 12,50%, mas não trabalhamos com a perspectiva de que o país venha a ter intensificado o fluxo de recursos externos, visto que o cenário externo, dada as incertezas presentes, sugere que os investidores mantenham-se em riscos de maior qualidade, o que deve inibir um pouco o fluxo para os países emergentes.
Em nossa percepção os “players” vem mantendo observação sobre o comportamento do mercado e das autoridades monetárias após os ajustes determinados nas posições “vendidas” dos bancos e na nova formulação de cálculo da PTax, acompanhando também o desenrolar das incertezas externas, por isso vem se mantendo, de certa forma, precavidos, até com a possibilidade da ocorrência de novas medidas impactando no mercado de derivativos.
Aparentemente, a manutenção da taxa cambial no entorno de R$ 1,57 até R$ 1,60 deixa o governo numa área de conforto, já que é contributiva para o controle inflacionário e a melhor dentro do possível para o momento. Caso se intensifique um eventual movimento de apreciação do real, consideramos que se torne efetiva a possibilidade de novas medidas por parte das autoridades monetárias.