Câmbio News

Análise do Mercado – 20/01/2011

O COPOM decidiu em linha com as expectativas predominantes no mercado financeiro, sancionando alta de 0,5% na taxa de juro SELIC, elevando-a para 11,25% a.a. A menção, na nota após reunião, de que a medida é o “início do processo de…

O COPOM decidiu em linha com as expectativas predominantes no mercado financeiro, sancionando alta de 0,5% na taxa de juro SELIC, elevando-a para 11,25% a.a.

A menção, na nota após reunião, de que a medida é o “início do processo de ajuste da taxa de juro básica”, torna-se um comprometimento futuro de que novas altas serão sancionadas nas próximas reuniões, e, deixa um “sentimento” de relativa descrença antecipada sobre a eficácia das medidas prudenciais, que menciona como complementares, e não faz menção as perspectivas com o esperado rigor fiscal, que continua sendo visto com ceticismo por todos os setores da economia brasileira.

Já que o governo tem sinalizado que focará o combate das pressões inflacionárias a partir das causas, razão das medidas macroprudenciais e de efetivação de uma política fiscal com maior rigor, ainda na intenção, poderia ter manifestado maior convicção sobre os resultados desta linha de conduta, afastando-se do comprometimento estratégia de utilizar preponderantemente o juro para todas as consequências geradoras de inflação.

Em início de governo, a emissão de sinais alinhados é fator importante para a construção da credibilidade.

A abordagem desnecessária sobre a “efetiva autonomia do BC” é utópica, visto que só é real quando o BC é um órgão de natureza independente do governo e assim seus dirigentes dispõe desta autonomia, como nos Estados Unidos. Nos parece mais uma impertinência desafiadora condicionante a que “o caçador abata todo dia um leão para ser considerado caçador”, ou seja, o BC só será considerado autônomo se atender sempre as expectativas do mercado financeiro e as projeções do FOCUS.

Entendemos que quando ocorre a prevalência de fatores de pressão inflacionário não sensível a elevação da taxa de juros, a efetivação da alta é forte alimentadora da espiral inflacionária.

O Brasil retoma a liderança absoluta da prática da maior taxa de juro real do mundo, algo em torno de 5,5% a.a. considerada a projeção de inflação para 2011. Para se ter percepção da distorção, a Austrália é a “second by far” com 1,9% a.a.

O fluxo cambial divulgado ontem pelo BC, período de 3 a 14 de janeiro, provavelmente efetivo até 12 de janeiro pelo fato das operações serem contabilizadas D+2, aponta um saldo positivo de US$ 5,185 Bi, sendo US$ 3,968 Bi financeiro e US$ 1,217 Bi comercial.

Na semana de 7 a 14 o saldo foi positivo em US$ 1,086 Bi, sendo US$ 345,0 MM financeiro e US$ 740,0 comercial.

Observa-se que na 1ª semana de 3 a 7 com um superávit no fluxo de US$ 4,099 Bi, o BC havia retirado do mercado, com seus leilões de compra, US$ 1,364 Bi, possibilitando aos bancos reduzirem suas posições “vendidas” no mercado à vista para US$ 14,04 Bi.

Na 2ª semana de 10 a 14 ocorreu superávit de US$ 1,086 Bi e o BC retirou do mercado, com seus leilões de compra, US$ 927,0 MM, deixando somente US$ 159,0 MM para os bancos reduzirem suas posições “vendidas” para US$ 13,889 Bi.

Percebe-se também que o fluxo líquido financeiro na 2ª semana registrou US$ 345,0 MM ante US$ 3,623 Bi na 1ª semana.

Este movimento de ingresso financeiro líquido na 1ª semana de janeiro pode ter sido estimulado pelos receios dos investidores de novas medidas restritivas por parte do governo.

Notoriamente, o dólar vem evidenciando a retomada da curva gradual de depreciação, já que as medidas adotadas pelo governo, até o momento, não foram eficazes o suficiente para promover reversão, e as posições “vendidas” pelos bancos no mercado à vista, tiveram fixado um limite, isento de depósito compulsório, muito amplo, da ordem de US$ 3,0 Bi .

As medidas tributárias com elevação do IOF contiveram uma parte do fluxo de divisas para o Brasil, mas com poucos efeitos ou nenhum na formação do preço da moeda americana, já que o BC no governo passado, sempre foi comprador de montantes muito acima do excedente do fluxo cambial, portanto sempre neutralizou as pressões de oferta da moeda americana no mercado físico de dólar. O que aconteceu é que teve que comprar menos, somente isto.

Os “swaps cambiais reversos” são ineficazes na tarefa de sustentar o preço do dólar, e a este respeito já tivemos inúmeras oportunidades de fundamentar o que de fato ocorre, que provoca um efeito contundente de apreciação do real.

Enfim, com o “arsenal” utilizado até agora, certamente, o governo não conseguirá sucesso em dar sustentabilidade ao preço do dólar.

Por enquanto, há muito do mesmo no novo governo, não parecendo ser tão fácil levar a teoria à prática, mas não devemos precipitar críticas, é preciso dar um tempo para melhor observação.

Continuamos entendendo que o assunto juro e câmbio precisam ter uma discussão aprofundada, questionando-se as razões da efetiva necessidade de taxa de juro tão alta e o câmbio precisa passar por processo revisional, retirando-se o impedido legal de só poder-se operar “à vista” no mercado físico, focando o aumento de volume e diversificação do mesmo, de forma que possa absorver parte maior dos dólares que ingressam no país.

 

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