Análise do Mercado – 17/03/2011

O fluxo cambial divulgado pelo Banco Central do Brasil com data base até 11 de março, pelo conceito câmbio liquidado, indica um saldo positivo líquido no ano de US$ 30,3 Bi, dos quais US$ 29,2 Bi no segmento financeiro…

O fluxo cambial divulgado pelo Banco Central do Brasil com data base até 11 de março, pelo conceito câmbio liquidado, indica um saldo positivo líquido no ano de US$ 30,3 Bi, dos quais US$ 29,2 Bi no segmento financeiro.

Este dantesco número superavitário não é motivo de euforia, mas sim de preocupação, pois deixa evidente que o fluxo de captações de recursos de curto prazo (até 1 ano) por empresas brasileiras, com o claro objetivo de arbitragem de taxas de juros externas versus interna, continua se acentuando e esta realidade confronta-se, diretamente, com os objetivos de política monetária do governo de reduzir a liquidez do mercado financeiro, focando conter o crédito ao consumo das pessoas físicas, razão das medidas prudenciais.

São diminutos os investimentos direcionados para aplicação em renda fixa e mesmo na Bovespa, prevalecendo os ingressos, em parte, para IED´s e na proporção mais significativa como capital de giro. Este é o cenário prevalecente desde o final do 4º trimestre do ano passado.

Não é sem causa, portanto, que o crédito e o consumo ainda estão em patamares acima das expectativas e pressionam os índices inflacionários. Muito provavelmente se encontre neste fato a origem da surpresa do Índice de Atividade Econômica do Banco Central do Brasil (IBC-Br) de janeiro, que surpreendeu o mercado renovando as preocupações sobre o ritmo da economia , ao ter registrado alta de 0,7% na comparação com dezembro de 2010, que havia crescido tão somente 0,1% ante novembro.

Não resta dúvida, até por razão previdente, mas mais por confrontar com as diretrizes atuais de política monetária, que cabe a adoção pelo governo de tributação com IOF às captações externas de até 1 ano, estendendo os 5% vigentes até 90 dias para 1 ano.

Prudencial, cautelar, corretiva, saneadora de fluxo cambial não adequado aos propósitos de política monetária atual, contingenciadora das intervenções do BC no mercado de câmbio físico com seus leilões de compra de dólares e do custo de carregamento das reservas cambiais na medida em que evoluiriam mais lentamente, são inúmeros adjetivos apropriados para justificar uma norma do governo disciplinando a aplicação do IOF de 5% para o prazo de até 1 ano, o que, acreditamos, desincentivaria a prática, visivelmente em crescimento, e que compromete a política monetária do governo.

Onde “dar o tiro certeiro”, para quem aparentemente não tem muitas balas no revólver, o governo já sabe, mas parece que tem receios demasiados, principalmente considerando que o país tem em perspectiva um déficit em transações correntes projetado para este ano no entorno de US$ 70,0 Bi.

Afinal, o “efeito Japão” no mercado financeiro pode retirar, por necessidade dos poupadores nipônicos, parte dos estimados US$ 80,0 Bi que possuem no país, nas mais diversas formas de investimentos, indo até os “carry trade” montados a partir de empréstimos em yens na origem.

E, como projetar de antemão que as projeções para os IED´s neste ano não sofrerão efeitos do problema japonês e não fluam para o país nos montantes prognosticados? E a nossa balança comercial, cada vez mais fragilizada em perspectiva de resultados pela fragilidade do preço do dólar e, agora também, com incertezas quanto ao comportamento dos preços das “commodities” em razão do problema do Japão?

Enfim, a tributação com o aumento do IOF poderá ser eficaz, provocando uma recuperação no preço da moeda americana no país, beneficiando o parque industrial exportador, mas certamente deixando de ser contributiva à contenção inflacionária, mudando de lado e passando a contribuir com as pressões na inflação.

Qual seria a resultante nas pressões inflacionárias do confronto de contenção mais forte do crédito com a inviabilização da captação externa de curto prazo e em contrapartida a elevação do preço do dólar ?

Ficar inerte ante a situação, após ter anunciado que haveria medidas, nos parece uma posição contraditória e de insegurança do governo, pois só faz intensificar o movimento de ingresso de captações de curto prazo no país, inflando cada vez mais a liquidez do mercado financeiro e o fluxo cambial brasileiro.

Estaria o governo em “check”? Então, porque anuncia previamente o que vai fazer, quando no câmbio, principalmente, o princípio magno é faça antes e explique depois, se necessário?

O cenário externo sofre os efeitos negativos do ocorrido no Japão, cuja extensão ainda não se consegue avaliar com precisão, mas, ao mesmo tempo, a economia americana dá sinais de melhora e na Europa a Espanha consegue captar pagando juro menor.

Nas crises, o dólar continua sendo o refúgio, e os T-Bills passam a ter a preferência mundial, em detrimento até das “commodities”, e fica mais exposta à grande ciranda financeira tocada a contínua especulação.

Portanto, a volatilidade deve continuar predominando a cada notícia boa ou ruim, num cenário de humor extremamente mutante, que por vezes pode encobrir fatos novos e positivos que estejam sendo gerados por economias fortes.

O Brasil não é uma ilha, portanto, deve conviver com este cenário externo e repercutir a volatilidade, principalmente na Bovespa, mas tem uma lição de casa difícil a ser implementada, que deve ensejar atitudes fortes e imediatas, sem medo de errar, pois o tempo é um fator extremamente contrário neste caso.

A pior decisão é a falta de decisão, já que a origem da expectativa de medidas no mercado de câmbio não foi criada pelo próprio mercado, mas sim por antecipação das autoridades.

 

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