Análise do Mercado – 17/01/2013

O COPOM anunciou ontem ao término de sua reunião a manutenção da taxa SELIC em 7,25%, rigorosamente dentro da expectativa dominante.

Todos os membros do colegiado consideraram a manutenção da SELIC neste patamar “por um período de tempo suficientemente prolongado” como a estratégia mais adequada para a convergência da inflação à meta. Merece observação o fato de ter retirado a expressão “ainda que de forma não linear” ao se referir a este tema, o que sugere que o governo deseja a convergência sem espaço para desvios.

Por outro lado, notoriamente procurou ser discreto ao mencionar a piora de inflação no curto prazo, hoje principal problema e de difícil gestão por parte do governo já que as pressões se revelam fortes e preocupantes, a ponto de levá-lo a agir no sentido de desconcentrar o acumulo de aumentos impactantes normais ao inicio do ano, principalmente dos serviços públicos. No nosso entender esta é uma preocupação central do governo no momento.

Reconheceu que o nível de atividade doméstica está abaixo das expectativas e que o cenário externo persiste complexo e com inúmeras incertezas, fato que já vimos mencionando em nossas considerações.

Evidentemente que estes dois pontos são contributivos para que a inflação não esteja sofrendo pressões muito maiores, visto que a intensidade atual já é expressiva e preocupante.

O governo está lançando mão do que é possível para mitigar os riscos presentes de maior aceleração da inflação e, afora as atitudes visando descentralizar a ocorrência dos reajustes previstos para este inicio de ano, administra o preço do dólar com o intuito claro de torná-lo a “ancora principal” neste embate focando a convergência para a meta.

Contudo, como temos salientado, não será tarefa fácil, o fluxo cambial precisaria colaborar muito para que este objetivo seja alcançado.

O que se vê já começa a preocupar. Na primeira quinzena deste mês de janeiro o fluxo cambial foi positivo tão somente US$ 254,0 M e os bancos estão com suas posições no mercado de câmbio à vista “vendidas” em torno de US$ 5,75 Bi.

Em janeiro de 2011 tivemos um fluxo cambial positivo de US$ 15,5 Bi e em 2012 US$ 7,2 Bi, sendo improvável que 2013 tenha performance próxima destes números.

Como a pressão altista de dezembro de 2012 foi mitigada pelo BC com operações conjugadas de 90 dias, neste 1º trimestre vencer-se-ão as operações da ponta de venda dos bancos ao BC e, se o fluxo cambial não evidenciar recuperação, certamente haverá pressão altista natural por falta de liquidez.

E esta pressão terá menos espaço de ser contida com operações conjugadas ou quaisquer outras do arsenal de estratégias que o BC possui, o mercado vai desejar dólares à vista efetivamente, e a expectativa sobre o fluxo cambial estará mais forte sobre uma piora em 2013.

Quando lemos notícia de que os IED´s para a China, que continua crescendo a taxas elevadas caiu 4,5% no ano de 2012, e se encontra como fundamentos para esta situação a queda da atratividade do país e salienta-se a alta dos custos, não há como deixar de correlacionar este fato com o Brasil, e cautelarmente colocar em perspectiva um recuo de IED´s para o Brasil, visto existir uma gama de países emergentes com oportunidades e custos mais atraentes.

No nosso entendimento o preço do dólar está rigorosamente administrado pelo BC e insensível aos fatores externos, mas é inegável que o comportamento do fluxo cambial, que é fator relevante de mercado, poderá opor-se à tranquila administração da autoridade monetária, passando a exigir um esforço e numero maior de intervenções no mercado.

E, se isto vier a acontecer, a pressão altista poderá intensificar-se visto que as perspectivas serão diferentes das acreditadas em dezembro.

Não temos um sentimento de tranquilidade para o mercado de câmbio em 2013, em perspectiva acreditamos em volatilidade e viés de alta, já a partir do inicio do 2º trimestre.

 


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

 

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