Análise do Mercado – 16/11/2011

A “queima”, iniciada ontem, dos bônus da dívida soberana dos países da eurozona atingindo indiscriminadamente quase a totalidade deles, valendo como exceção a Alemanha, evidencia uma perigosa postura que pode conduzir o…

A “queima”, iniciada ontem, dos bônus da dívida soberana dos países da eurozona atingindo indiscriminadamente quase a totalidade deles, valendo como exceção a Alemanha, evidencia uma perigosa postura que pode conduzir o cenário a um estado de pânico, até porque não há facilidade de colocação, e os títulos de Espanha e Itália têm somente o BCE como comprador, o que induz a elevação rápida e generalizada dos prêmios para atrair interessados em assumir o risco.

A Itália, onde o novo comandante político Mario Monti anuncia seu governo hoje, voltou a registrar mercado impondo rendimentos acima de 7% para seus títulos. Na mesma linha os títulos da Espanha pagaram rendimentos de até 6,3%. Em regra, todos os títulos tiveram suas rentabilidades aviltadas pelo mercado.

A situação, cada vez mais, torna-se de alta complexidade, e deixa evidente que a perda de credibilidade em planos de resgate e novos governantes é crescente, deixando transparecer que será necessário algo grandioso, como um pacto com um novo planejamento para o inter-relacionamento dos países da região, unificando o comando das políticas fiscais da região para promover a convergência à razoabilidade, emitindo um único tipo de bônus soberano da região para substituir os papéis de risco soberano individualizados.

Acreditamos que não haja exageros quando se menciona que é uma situação para ser resolvida numa década.

A prevalência da individualidade no enfrentamento da crise poderá levar todos ao caos, grandes e pequenos, ricos e pobres, por isso, parece melhor pensar na solução como coletivo.

Nos Estados Unidos, que cresceram 2,5% no 3º trimestre, há sinais mais brandos de inflação evidenciados pelo PPI Índice de Preços ao Produtor que caiu 0,3% em outubro frente a setembro, mês em que havia subido 0,8% frente a agosto. O núcleo do PPI que exclui dados de energia e alimentos ficou estável em outubro ante setembro. Contudo, na comparação do PPI anualizada base outubro, a alta está em 5,9%.

O entendimento decorrente poderia ser de que o FED fica com espaço para medidas focando a redução do desemprego, até porque os dados sobre as vendas no varejo americano indicaram alta, o que sugere que a economia começou o 4º trimestre com algum vigor.

No ano base outubro, as vendas no varejo cresceram 7,2%, porém o fraco desempenho da renda continua desapontando, o que indica que os americanos vem utilizando suas poupanças para o consumo, o que “quebra” um pouco o lado positivo do indicador.

Há no ambiente do FED e suas regionais inúmeras divergências quanto à percepção da atividade econômica do país, havendo quem entenda que o quadro permite medidas novas para incentivar a atividade econômica, e outros que pensam ao contrário. Mas o Presidente Ben Bernanke não tem se mostrado confortável com o cenário atual, mas também não dá sinais firmes de novas benesses, demonstrando sempre certo desapontamento com os resultados e preocupação com o desemprego, desafio maior.

Em tese, poder-se-ia afirmar que o problema americano é menor do que o da Europa, mas não se pode deixar de considerá-lo também grave, pois os esforços do governo não têm determinado os resultados objetivados.

A situação pré-eleitoral para Presidente nos Estados Unidos impede que medidas mais abrangentes sejam tomadas, já que o contexto de disputa política se sobrepõe ao econômico, por isso não se espera mudança radical do quadro atual, que deve prevalecer até que se definam os novos governantes.

O Japão continua com seu fraquíssimo desempenho e hoje foi mantido o juro de zero a 0,1%.

A China tende a revelar no seu crescimento os efeitos negativos dos quadros americano, europeu e japonês.

Dado a este contexto geral predominante no mundo global, consideramos bastante preocupante o movimento de “sell-off” dos papéis soberanos dos países da eurozona, pois pode estimular o temido movimento de ajustes dos demais mercados sobre os ativos que ainda permanecem com os preços e indicadores exacerbados.

A economia mundial está sem fundamentos críveis para justificar os movimentos que são presenciados nas bolsas de valores, “commodities”, etc.

É preciso ficar atento, há o que temer em perspectiva.

No Brasil, o BC colocando-se à frente outra vez, adotou medidas liberando capital para os bancos, visando com isto estimular o crédito que poderá garantir o consumo interno a ponto de dar sustentação a um crescimento melhor do que o já percebido de 3% para o PIB este ano.

O fato é que quando se realiza a aferição dos impactos de retração no crédito e na demanda, a partir das medidas prudenciais adotadas a partir de dezembro de 2010, e, se busca restabelecer recuperação da demanda revertendo as medidas focando estímulo ao crédito, tem um dado que só o tempo poderá esclarecer, afinal, a demanda sofreu retração pela diminuição da oferta de crédito ou por que diminuiu a propensão ao consumo da sociedade brasileira, já bastante endividada?

Certamente, o BC será mais contundente no corte da taxa SELIC na próxima reunião, pondo-se em linha com o ambiente atual e corrigindo o que não fez na reunião passada.

A crise mundial está cada vez mais a mostra e a sua grandiosidade ganha corpo cotidianamente, restando poucas dúvidas de que todos sofrerão os seus impactos, com intensidades diversas.

O Brasil terá que rever suas projeções para o ano de 2012, colocando-as na nova perspectiva e sem olhar para o retrovisor.

Haverá benefícios para a contenção das pressões inflacionárias, mas, certamente, haverá impactos no déficit em transações correntes, já que os fluxos de recursos externos não deverão ser tão benignos, e este é um fator que impacta na taxa cambial.

Já há sinais presentes de que o fluxo está com tendência de piora e isto justifica a alta presente na taxa cambial, mas em 2012 o quadro poderá ser mais consistente a partir do início do ano.

 

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