Análise do Mercado – 15/01/2013

 A inflação surge como a grande preocupação do governo neste início de ano, ao revelar-se bastante aquecida.

Neste embate para evitar que atinja picos como 6,5% nos últimos 12 meses, o governo negocia a descentralização da ocorrência dos reajustes típicos de inicio do ano e, isto provoca que as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro posterguem o reajuste do transporte publico, normalmente aplicado nesta fase inicial do ano para meados do ano.

Janeiro e Fevereiro concentram grande parte de eventos que agregam reajustes pesados, diretamente, nos indicadores inflacionários. Este ano ocorrem, também, oscilações climáticas que estão provocando altas em alguns itens de alimentos.

Há ainda a questão mal resolvida da necessidade de reajuste dos combustíveis, quase inadiáveis face ao tempo que vem sendo postergado em beneficio da inflação.

A descentralização posterga a evidência do impacto do reajuste no índice inflacionário, porém não elimina o problema, que necessariamente deve ocorrer.

Os instrumentos que as autoridades dispõem para reduzir a pressão inflacionária são reduzidos.

Há o indicativo precedente de que a taxa de juro SELIC será mantida em 7,25% por um longo período e a indústria nacional não tem reagido com investimentos buscando aumentar a oferta de produtos no mercado interno, que seria um antidoto relevante para inibir pressões inflacionárias nos preços.

É inevitável que o governo lance mão do dólar para ser a âncora disponível de maior eficiência neste momento visando à contração das pressões inflacionárias e o BC, então, conduza a administração do preço da moeda americana a um patamar desvalorizado.

O Brasil precisa de investimentos e ganho de produtividade e este novo cenário desestimula os investimentos pela indústria nacional, que não conseguindo ganhar competitividade, deverá continuar importando insumos e bens finais, retomando a linha da desindustrialização, algo absolutamente contrário aos anseios do país que deseja retomar a linha do crescimento.

A questão energética pode vir a agregar pressão inflacionária numa eventual correção de preços, mas, do ponto de vista câmbio, pode ter um poder de inibição de investimentos de origem interna e externa, e o impacto poderá vir a ser mensurado numa eventual queda dos IED´S, já que atualmente competimos com inúmeras outras economias no direcionamento destes recursos externos.

Embora seja o receituário indicado para a contenção da inflação, o dólar depreciado provocará danos nas expectativas de recuperação da nossa atividade industrial, deveremos importar mais para a complementariedade da oferta no mercado interno.

E 2013 é um ano que sugere que exportaremos menos.

Temos ressaltado a perda de atratividade do Brasil, também, para as aplicações de renda fixa e renda variável. O aquecimento da inflação tornará cada vez mais desinteressante as aplicações em renda fixa sendo mantida a taxa SELIC em 7,25%, e, na medida em que o crescimento do país não demonstre recuperação em relação a 2012, às aplicações em ações devem evidenciar dinâmica desfavorável.

O fato da China ter sinalizado que poderá elevar substancialmente a cota permitida para que estrangeiros invistam nos seus mercados de ações, seguramente, não é uma boa noticia para o Brasil, já que, neste momento, a China desperta maior interesse dos investidores do que o Brasil e esta abertura pode prejudicar reduzindo fluxos para o Brasil.

A questão é que o governo tem problemas com um aquecimento forte das pressões inflacionárias, tendo como “bala prioritária” a utilização da taxa cambial como fator de contração.

Porém, 2013 não está sugerindo que será um ano de fluxo cambial confortável para o país, o que pode conspirar contra esta estratégia.

Podemos atenuar observando que temos reservas cambiais, mas já ficou muito evidente no final do ano de 2012 que o governo reluta em utilizá-las e suprir o mercado de câmbio à vista com liquidez.

Por isso, temos afirmando que o cenário prospectivo para o câmbio é bastante complexo e exigirá muitas intervenções da autoridade monetária.

Esta calma aparente neste inicio do ano não será duradoura no nosso entendimento.

 


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

 

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