Temos o hábito de afirmar com frequência que no mercado de câmbio nem tudo que parece, o é efetivamente e, que este não é um segmento para principiantes, já que existem inúmeros fatores de influência afetando a formação dos preços das moedas, que não permitem conclusões tão simplistas.
No Brasil houve relevante redução de vetores de interferência na formação do preço do câmbio, visto que foram “fechados”, normativamente, os flancos especulativos no mercado de derivativos, outrora um verdadeiro “cassino” com ganho fácil, além do fato de ter ocorrido ajustes promovidos no mercado de juro que afetaram as arbitragens, e ainda, contingenciamentos via tributo de fluxos de capitais especulativos, que assim perderam atração pelo real e em parte pelo próprio país.
Além disto, não há mais o incentivo ao real apreciado como neutralizador das pressões inflacionárias por parte do governo. Atualmente, o interesse maior é que a taxa seja estimulante à atividade industrial.
A taxa de câmbio tem e teve várias utilidades por aqui. Já foi coadjuvante da política monetária no controle das pressões inflacionárias, e, através estratégias maquiavélicas nem sempre bem compreendidas ou percebidas pela grande maioria, promoviam intensa valorização do real, a qual o governo, que absorvia via BC todo o excedente de ingressos e mais um pouco, justificava que era decorrente do fluxo cambial, quando tecnicamente era induzida pelas estratégias.
Paradoxos como o real se apreciar intensamente mesmo em ambiente de fluxo negativo foram contumazes. Mas para tudo havia explicação técnica, não tão fácil de entender.
Em certos momentos, sofisticando o fundamento, apontava-se para a correlação com os preços das “commodities”, uma meia verdade na grande maioria das vezes.
Com esta prática, controlamos a inflação, mas atingimos quase mortalmente a competitividade da indústria nacional no comércio exterior, e, por tabela, no mercado interno onde os produtos acabados e os insumos que se tornavam valor agregado do produto nacional e os substituíram de forma acintosa.
Na fase recente do câmbio flutuante “sujo”, ou seja, “administrado” com o objetivo de incentivar a recuperação da competitividade da combalida indústria nacional, o governo impôs a regra de não permitir preço abaixo de R$ 2,00, e, utilizando a técnica de gestão com a utilização dos instrumentos financeiros “swaps cambiais”, efeito venda, e “swaps cambiais reversos”, efeito compra, controlar o preço a partir do mercado de derivativos.
Contudo, a despeito da crença predominante de que era o governo que vinha dando sustentabilidade do preço acima de R$ 2,00, o fluxo cambial desde maio vem emitindo sinais de fragilização em seus volumes, consolidando-se gradativamente com viés negativo. Poucos perceberam que o preço vinha ganhando suporte por si só, face a queda do volume do fluxo cambial líquido.
Muitos prognosticaram que o preço estaria a R$ 1,85 ou assemelhado se o governo não estivesse presente, mas a realidade caminhava para outro lado. Contudo, sem fundamentarem o prognóstico.
O comportamento do fluxo cambial em outubro, dando expressividade ao volume líquido negativo de US$ 3,8 Bi e, no mesmo momento evidenciando que os bancos passavam a deter também posições “vendidas” no mercado a vista em torno de US$ 3,6 Bi, deixou evidente que o mercado de câmbio a vista, aquele que efetivamente transaciona moeda disponível, poderia repercutir este fato no preço.
A liquidez do mercado de câmbio a vista ficou estreita e nesta situação, contrariamente ao que muitos estão sugerindo, a venda de “swap” quaisquer que seja, no caso seria “swap cambial”, não resolve, sendo necessário se o aperto da liquidez ficar extremo que o BC realize leilão de venda de moeda à vista no mercado, visto que os bancos estão limitados pela autoridade monetária nas suas capacidades de exposição de “posição vendida”, sem ônus.
É bem verdade que, como já vínhamos preconizando desde o mês passado, o governo não deve ver com desconforto a mudança da banda para R$ 2,05 a R$ 2,10, adicionando assim incentivo adicional à competitividade da indústria nacional externa e internamente, na busca de motivá-la ao investimento.
Afinal, a indústria retraiu 3,1% nos últimos 12 meses e mais recentemente 1% setembro frente a agosto, e não realiza os investimentos desejáveis pelo governo, a despeito da brusca redução de juro ocorrida no último ano.
O câmbio com uma taxa cambial mais elevada é a quase única opção disponível para o governo tentar motivar a indústria, já que não dispõe de folga para promover incentivos fiscais, visto que encontra dificuldades para cumprir superávit primário do ano.
Este salto na banda esta tendo forte contribuição de circunstâncias do próprio mercado e o BC está deixando ocorrer, pois assim não ficará com o ônus da elevação que seria muito criticada pelos vigilantes da inflação.
Sem dúvida, quando a liquidez apresentar riscos sobre a operacionalidade dos agentes do mercado, caso não ocorra recuperação eventual do fluxo cambial, o BC entrará no mercado e realizará leilão de venda para irrigar a liquidez.
Mas, a banda já estará mudada e consolidada entre R$ 2,05 a R$ 2,10.
E, não devemos estranhar se adiante flexionar o prazo para os empréstimos externos para menor com alcance do IOF de 6%, pois o país precisa focar a melhora do fluxo, já que notoriamente perde atratividade para os investimentos em renda fixa e variável; a balança comercial “balança” com desempenho desapontador. E, segundo a mídia poderia estar deixando de registrar no tempo importações da Petrobrás da ordem de US$ 6,0 Bi, o que tornaria pífio o seu superávit até o momento. E já há quem não tenha tanto otimismo em relação aos IED´s para 2013, dada a percepção de aumento gradual de intervencionismo do governo na economia e que o nosso crescimento possa não ser tão robusto como vem sendo projetado.
Hoje os “tsunamis” de recursos externos não tendem a ocorrer mais para o Brasil. Perdemos atratividade e também fechamos as portas para a especulação. No nosso ponto de vista, flexionando o prazo para menor sem o alcance do IOF de 6% proporcionará que as empresas captem recursos no exterior para serem direcionados para a atividade principal, e isto seria bom para ajudar 2013 ser melhor do que 2012.
O Brasil vai precisar destes recursos externos, o tempo de definição é agora.
Como vimos salientando, o país possui reservas cambiais, mas não podemos nos acomodar com este “conforto”.
Hoje será divulgado o fluxo cambial até 9 de novembro ultimo. Vamos observar.
Precisamos ter maior foco no crescimento macroeconômico do país, pois o modelo de crescimento suportado por consumo movido a crédito já emite sinais de moderação com base nos mais recentes dados de consumo no varejo. A inadimplência voltou a mostrar aquecimento.
Se a economia não retomar ritmo em 2013 corremos o risco de ter sinais de desemprego, que a indústria paulista já está mostrando neste ano, e este fato pode ser um grande risco para expansão da inadimplência.
É tempo de o governo ser pró-ativo nas tomadas de decisões.
No exterior, os Estados Unidos discutem o “penhasco fiscal” procurando evitar o pior e reorganizar-se para o novo período de governo Obama, sem vida fácil no Congresso, o que não permite vislumbrar-se uma recuperação forte já em 2013.
A China ultima a posse dos novos dirigentes com o desafio de alterar o modelo de crescimento. O modelo exportador deixou evidente a dependência das economias desenvolvidas e não é sustentável, sendo necessário desenvolver o mercado interno, mas isto demandará tempo, e, a perda de ritmo da atividade econômica parece ser inevitável em 2013.
A Europa é um caos. Hoje 5 países – Grécia, Portugal, Espanha, Itália e França – tem greve geral programada. Este é um efetivo retrato sintetizando o quadro atual e a razão das baixas perspectivas de superação da crise em 2013.