Análise do Mercado – 11/02/2011

O mercado financeiro ainda permanece reticente quanto à efetividade do corte orçamentário, com o mercado de juro não assumindo uma tendência após o anúncio, mantendo-se estável, como que observando os fatos subsequentes que devem…

O mercado financeiro ainda permanece reticente quanto à efetividade do corte orçamentário, com o mercado de juro não assumindo uma tendência após o anúncio, mantendo-se estável, como que observando os fatos subsequentes que devem envolver o detalhamento do mesmo.

Contudo, os dados divulgados pelo BC ontem e a manifestação do seu Diretor de Política Econômica, Carlos Hamilton Araújo, trouxeram evidências calcadas em números, por isso consistente, quanto à eficácia das medidas macroprudenciais adotadas pelo governo em dezembro e que já geram indicadores críveis de que o crédito foi afetado, seja pela retração da concessão, seja pelo encarecimento ao consumidor pessoa física.

Não é desprezível uma redução de 45% nos empréstimos para compra de veículos em janeiro, sendo que nos bancos das montadoras a redução foi de 35%. Os juros para o crédito para pessoas físicas chegam atingir elevação de 10% em janeiro. O crédito pessoal recuou 19%. Estes números deixam evidente a relação causa efeito da medida, e ocorre no curtíssimo prazo, contrariando os que vislumbravam que os efeitos seriam percebidos num período maior de tempo.

O Diretor do BC declarou que os números demonstram que as medidas macroprudenciais funcionaram adequadamente.

Este fato, agregado ao corte orçamentário, levaram o Diretor do BC a prognosticar uma elevação da SELIC não necessariamente dentro do que o mercado financeiro tem projetado.

No mercado de câmbio tivemos mais do mesmo, com o BC anunciando leilão de lote de 20.000 contratos de “swaps cambiais reversos”, que taticamente leva os agentes do mercado a apreciar imediatamente a taxa do dólar, para que a base do preço da moeda estrangeira seja mais alta determinando um valor futuro mais alto. Como a curva do juro imputado no preço futuro do dólar tende a ser maior do que a curva efetiva do preço do dólar, com isto visam garantir melhor posicionamento para que sejam ganhadores na operação. E, ainda, se resolverem especular com base nestes instrumentos financeiros impondo apreciação ao real, tem um “gap” maior para ganho.

O BC colocou 17.280 contratos da sua oferta de 20.000, algo em torno de US$ 855,0 MM.

Como o BC vem se mantendo previsível, os agentes esperam agora um leilão de compra a termo, e por esta razão, o preço da moeda americana encontra sustentabilidade hoje, pois há interesse, também, nestas operações que a formação do preço a termo parta de uma base mais elevada.

E assim vai, na ocorrência dos vencimentos destas operações então os agentes apreciam o real, e o mercado fica convivendo com este efeito “gangorra” previsível e que não chega a ser uma volatilidade.

Coincidentemente tivemos uma melhora do dólar ante moedas fortes no mercado internacional, e, assim, busca-se atribuir a melhor do preço local ao fato externo, mas continuamos com a percepção de que é mera coincidência, acreditando que os fatores internos estão pesando mais neste movimento iniciado ontem.

No nosso entendimento o BC está diversificando seu “modus operandi” no mercado de câmbio físico, mas não está focando efetivamente apreciar a moeda americana, mas sim estabilizá-la no entorno de R$ 1,67, caso contrário seria menos previsível na sua dinâmica operacional.

Embora haja quem entenda que o BC busca a volatilidade para colocar “risco” nas operações e assim neutralizar movimentos especulativos que artificializam o preço da moeda americana, não identificamos esta possibilidade com a estratégia atual.

A estratégia atual coloca para o BC a possibilidade de atenuar o custo do carregamento das reservas cambiais, caso passe a realizar as operações de compra a termo com prazos mais longos, e, de deixar no estoque este custo, ou seja, no preço do ativo (dólar), e não numa rubrica explicita que evidencie este custo contábil de forma aberta na forma de juros. A perda ou, ganho será apurado no balanço como variação cambial e ao final dos exercícios, sem o foco crítico de pagamento de juros.

O mercado de câmbio físico precisa ter suas amarras ao subdesenvolvimento quebradas, para que ganhe modernidade, operando “spot”, “forward”, “a termo”, arbitrando moedas, etc., e estabelecendo o acesso às empresas, com transações lastreadas. Da mesma forma, permitindo o estabelecimento de contas em moedas estrangeiras no país, sob regulamentação criteriosa, fazendo com que outros “players” contribuam com o carregamento das disponibilidades cambiais do país.

As reservas cambiais brasileiras superaram os US$ 300,0 Bi, e estabelece-se discussão se é ideal, excessiva ou baixa. O que deve ser considerado é que o custo de carregamento destas reservas é elevadíssimo, dada à disparidade do nosso juro interno, e, que o governo não acumula reservas porque assim o deseje, mas, simplesmente, porque não tem como conter a sua expansão. Esta é a grande realidade que deve ser considerada.

Não adianta comparar com as reservas de outros países emergentes, pois será necessário avaliar também os montantes de seus negócios no comércio exterior e financeiro. A China, além do extraordinário superávit comercial que acumula anualmente, teve no ano passado IED´s de US$ 100,0 Bi e Hong Kong outros US$ 60,0 Bi.

O fato concreto é que temos reservas suficientes para pagar nosso passivo externo total, e, após um montante substantivo de reservas cambiais, estas deixam de sensibilizar as condições financeiras concedidas ao país. Se tivermos US$ 500,0 Bi provavelmente o nosso risco será o mesmo com US$ 300,0 Bi.

Mas a questão é: como o BC, até com a participação do FSB, poderão cessar o aumento das reservas cambiais?

 

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