A crise instalada deixa uma evidência efetiva sobre a nossa moeda, o real, e a mantém, digamos quase neutra aos “desesperos” do mercado global, pois a alta registrada neste momento decorre diretamente da reação típica do mercado…
A crise instalada deixa uma evidência efetiva sobre a nossa moeda, o real, e a mantém, digamos quase neutra aos “desesperos” do mercado global, pois a alta registrada neste momento decorre diretamente da reação típica do mercado flutuante, aumento de demanda de moeda americana repercute com aumento do preço e depreciação da moeda local.
Afinal, fica evidente que o real não é moeda apropriada para reserva de valor, o que já reafirmamos inúmeras vezes, e, também não tem mais, assim como o Brasil, a vulnerabilidade típica de países debilitados e carentes de crédito externo.
Portanto, não enseja pressões artificiais nem pró-apreciação e nem pró-depreciação, estando a nossa moeda imune a movimentos especulativos neste momento, sendo que, seus movimentos repercutem movimentos efetivos do mercado de câmbio.
A pressão de demanda é natural pela saída um tanto quanto abrupta dos investidores estrangeiros em renda variável, que promove queda da BOVESPA seja pelo “fly to quality”, recomposição de liquidez e, inegavelmente, pelas perspectivas concretas de que as “commodities” agrícolas e metálicas, que representam parcela substancial dos negócios, tendem a perder preços num ambiente tendente a recessão nas economias tidas como desenvolvidas.
É razoável que movimento de saída também ocorra nos investimentos externos em renda fixa, já que a necessidade de incrementar a liquidez de caixa e priorizar a segurança em detrimento da rentabilidade, motiva este tipo de comportamento. Esta nossa visão confronta com a que prevê aumento de fluxo cambial para o Brasil face a taxa de rentabilidade elevada.
Como em tempos de crise, principalmente envolvendo as economias desenvolvidas, as corporações buscam preservar a liquidez, é bastante provável que sofram postergação os ingressos de IED´s e acentuem-se as saídas de dividendos, lucros e juros s/capital por parte das filiais remetendo às suas matrizes.
O crédito externo deverá sofrer retração e encarecimento, típica postura do sistema financeiro nas crises com cenários predominante de incertezas.
O Brasil que tem peso inferior a 2% na economia mundial, tem reservas cambiais no entorno de US$ 350,0 Bi e depósitos compulsórios do sistema financeiro de, estimados, R$ 420,0 Bi, portanto, se faltar crédito externo ou interno, tem como prover as demandas neutralizando eventuais alterações do cenário externo, e estimular o crédito interno para que o consumo, mesmo que em intensidade menor do que 2008, continue impulsionando o crescimento do PIB, para que registre algo entre 3,5% a 4,0% de crescimento, mantendo o emprego e a renda.
Temos um sistema financeiro sólido, requerendo contudo um acompanhamento mais próximo dos bancos menores, pouco alavancado, não aplicado em papeis externos em níveis preocupantes.
E, hoje, a nossa boa superação da crise de 2008, referencia o país perante a comunidade internacional, o que nos faz melhor hoje do que naquela crise, que, para muitos, ainda não acabou.
Problemas?
Sim, temos um problema pontual. Há investidores “oversold” no mercado de derivativos e a reversão deste posicionamento pode provocar efeitos pontuais de incremento na depreciação do real, e, a examinar, supostamente algumas perdas aos “apostadores”, pois é bastante improvável que o dólar retorne a proximidade de R$ 1,50, não só pelos efeitos da crise externa, mas também pela eficácia das medidas de interferência que o MF/BC tomaram em relação ao mercado de derivativos.
Então, toda a atenção das autoridades monetárias deve ser acentuada para o ambiente interno, sem perder de vista o desenrolar dos acontecimentos do ambiente externo, já que não somos uma ilha, não nos permitindo considerar que o pais esteja imune, mas, como destacamos, para o que pode nos afetar de imediato temos antídotos adequados.
As decisões em torno da SELIC precisam ser repensadas neste ambiente, provavelmente a tendência passe a cortes e não mais elevações, principalmente se os preços das “commodities” sofrerem queda representativa.
Na margem, poderemos ter um ajuste para pior do déficit em transações correntes, pois não temos condições de conquistar efeito compensatório com as exportações de produtos industriais não agrícolas cobrindo a eventual queda das receitas com as exportações de “commodities”, primeiro pelo fato da taxa cambial retirar competitividade e segundo pelo fato do programa de estímulo anunciado pelo governo ser discreto, e, ainda pelo fato de que a reconquista de mercados perdidos para a exportação demanda tempo maior.
No nosso entender, salvo por movimentos pontuais efetivos, por isso com efeitos não sustentáveis da alta no preço da moeda americana, a taxa cambial ficará acima de R$ 1,60, contudo, não vislumbramos perspectiva para que se afaste deste ponto, que consideramos de equilíbrio.
Não podemos perder de vista que os exportadores detém montante estocado em torno de US$ 16,0 Bi no exterior, relativos a exportações já liquidadas, e que, presumivelmente tenderão a ingressar melhorando o nível de oferta no mercado a vista.
A BOVESPA deve ter uma reação positiva, visto que ontem algumas ações tiveram desvalorizações absolutamente irracionais, e, certamente hoje reverterão os excessos. Contudo, em perspectiva, face a elevada dependência o investidor externo e do expressivo atrelamento aos papéis de empresas de “commodities”, não nutrimos perspectivas de recuperação sustentável.
No cenário externo, ainda ocorrerão, certamente, movimentos dispares provocando volatilidade, até porque as fragilidades são de grande dimensão, tanto nos Estados Unidos, quanto na Europa, acreditando mesmo que nesta serão mais frequentes exigindo um monitoramento ininterrupto do BCE, além de ações mais efetivas em relação a política de juro e compra de títulos.
As bolsas asiáticas e européias ainda operaram no vermelho, enquanto as bolsas americanas sinalizam abertura em alta, uma reação mais calcada na “esperança” de que o FED após a reunião de seu colegiado anuncie, 2:15 pm ET, medidas de incentivo para a economia, o que poderia modificar o sentimento predominante no momento.
O dólar cai ante as principais moedas fortes, cotado a US$ 1,4207 frente ao Euro e a Yens 77,2050 por US$. O petróleo está cotado a US$ 82,19 o barril na Nymex alta de 1,09%. O ouro futuro dezembro sinaliza alta de 2,09% cotado a US$ 1.748,80. E os T-Bills de 10 anos estão em discreta queda abrindo a curva dr juro “yeld” para 2,38%.
A valorização do franco-suiço determinada pela busca de “reserva de valor” preocupa o Banco Central da Suiça, tendo em vista que grande parte dos financiamentos imobiliários do Leste Europeu são concedidos por bancos suíços em francos suíços e a valorização pode provocar problemas de inadimplência.